A chegada do furacão Lorenzo já era esperada e os Açores estavam até sob aviso vermelho, contudo este fenómeno natural não deu tréguas ao arquipélago, com destaque para os Grupos Ocidental e Central. Durante a madrugada e o dia de hoje registaram-se mais de 170 ocorrências e mais de 50 pessoas tiveram mesmo de ser realojadas.
Segundo Teresa Machado Luciano, secretária regional da Saúde dos Açores, das 171 ocorrências registadas entre a madrugada e a manhã de hoje, 66 foram no Faial, 23 nas Flores, 28 no Pico, 21 em São Jorge, oito na Graciosa, 20 na Terceira, duas em São Miguel e três no Corvo. A governante explicou ainda que foi necessário realojar um total de 53 pessoas, divididas entre três ilhas: “Quatro em São Jorge, 42 no Faial e sete nas Flores”.
Além disso equacionou-se ainda retirar uma centena de pessoas das Lajes do Pico, “por precaução”, tendo, no entanto, sido retiradas 50. As ilhas mais devastadas pelo furacão foram o Corvo, Flores, Faial, o Pico e a Graciosa. Por outro lado, ilhas como São Miguel acabaram por não sofrer qualquer transtorno com a chegada de Lorenzo.
Ao i, Vanda Costa, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), avançou que o furacão atingiu os Açores em categoria 2, “mas num limite muito inferior, muito próximo da categoria 1”. Quando questionada sobre se este fenómeno se irá tornar mais regular na região, Vanda Costa garantiu que não é esperado que ocorram furacões “com mais frequência, mas sim com mais intensidade e cada vez mais fortes”. A meteorologista sublinhou ainda que Lorenzo é o primeiro furacão de categoria 5 a alcançar uma zona tão a leste no Atlântico.
População preocupada com abastecimento Paulo Estêvão mora na ilha do Corvo, uma das mais afetadas, contudo explica ao i que foi outra situação que lhe causou maior preocupação: “O abastecimento é feito através do porto das Lajes das Flores, que ficou agora destruído. A partir daí as mercadorias são distribuídas para a ilha do Corvo. A destruição do porto vai colocar em causa o abastecimento destas ilhas”, diz. O morador desta ilha fez, por isso, um apelo ao Estado, para que fosse solidário perante os prejuízos que venham desta situação.
Esta situação do porto das Lajes das Flores adquire especial relevância se se tiver em conta que este se trata do único porto comercial desta ilha e que, agora, se encontra inoperacional devido à destruição causada pelo furacão. Segundo Rafael da Silva, as ondas destruíram o porto, bem como vários edifícios aí localizados, e arrastaram contentores e embarcações
Paulo Estêvão afirma que a ilha não teve grandes perdas diretamente, dado que a população está “já habituada a este tipo de alertas” e seguiu todas as instruções das autoridades responsáveis. “Pessoalmente tive apenas algumas telhas a voar de minha casa”, conclui.
Já António Pinto, morador da ilha do Faial, contou ao i que, apesar de toda a ilha ter sido acautelada, foram várias as “árvores caídas no meio da estrada”, tal como telhas, galhos e areia que foram levados pelo vento durante toda a noite.
António admite que teve receio durante a noite, especialmente no que toca à agitação marítima. “Foi uma noite assustada. Não dormi um minuto que fosse. A força do mar veio mesmo ao de cima e tivemos ondas com cerca de 12 metros, tal como uma ventania onde parecia que tudo ia voar”, explica ao i.
Para além de todos os danos e estragos causados pela passagem do furacão Lorenzo, também as telecomunicações e a energia elétrica foram afetadas. Ao longo desta terça-feira várias freguesias das ilhas dos grupos Central e Ocidental estiveram algumas horas sem eletricidade e com dificuldades ao nível das telecomunicações.
O furacão Lorenzo foi perdendo força, havendo mesmo relatos de que por volta das 14h de hoje já estava bom tempo na ilha do Faial, uma das que mais sofreu com a chegada de Lorenzo. Agora, este desloca-se em direção à Irlanda.
Com Cristiana Cruz Reis