Pode uma campanha eleitoral mudar o rumo de uma eleição onde as cartas estavam destinadas à partida?
– Sim, pode! E de repente, tudo mudou. Foi o que aconteceu nesta campanha:
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o Partido Socialista não percebeu que a recuperação de armas de guerra fora de quartéis ou paióis militares é uma questão de Força Maior e de Segurança Nacional – e não um caso de polícia ou de tribunais, para além das patéticas meias-verdades reveladas – exibindo aos portugueses a pouca sensibilidade em matérias de soberania dos nossos políticos e magistrados e os preconceitos da esquerda nas questões relacionadas com as Forças Armadas e a Defesa Nacional;
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o Partido Socialista controlava tudo, desde os supostos valores da ética republicana (enquanto ‘preço’ da eleição) aos órgãos de comunicação social (os instrumentos ideológicos da democracia);
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o PS se relaciona mal com outros poderes, chegando ao cúmulo do Presidente da República, na semana passada, já nem atender o telefone ao primeiro-ministro;
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o PS parece dirigido por um alguns que aparentemente prevaricam e falsificam nas centenas de negócios públicos sem concurso ou nos prejuízos de 240 milhões de euros, em 18 meses de TAP nacionalizada;
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o PS parece não ter escrúpulos na seleção das estatísticas, adiando as reformas estruturais, como se nada fosse, quando a nossa dívida chega a 286% do PIB, o deficit comercial aumenta e o país não está preparado para a próxima crise;
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o PS tomava tudo, desde os processos em investigação na Justiça às nomeações do Estado (e no setor social, com o assalto à Cruz Vermelha e à SCML), violando até o princípio da legalidade que obriga o Estado na nomeação de altos dirigentes;
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o PS parece só albergar o nepotismo e o favorecimento, com nomeação de familiares ou com secretários de Estado que se demitem por alegada corrupção nos negócios públicos, desde as golas antifumo às suspeitas no património do Estado;
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o PS não teve a diligência suficiente na prevenção dos incêndios e que deixou morrer 18 portugueses numa estrada em Pedrogão, depois da Proteção Civil ter sido decapitada, para serem nomeados socialistas e um padeiro promovido a assessor do Governo;
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o PS impôs a maior carga fiscal de sempre, a roçar os 35,6% do PIB, para além das enormes taxas pagas na água ou na eletricidade – asfixiando os pequenos negócios – até às rendas em benefício dos grandes – nos bancos, nas águas, na eletricidade, nas estradas ou nos aeroportos, em que nada mudou;
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o PS era um partido de corporações, mas onde se persegue – difamando ou assassinando moralmente nos jornais – a Ordem dos enfermeiros ou os professores com reivindicações justas que ficaram por resolver;
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o PS era arrogante – que aceitou os níveis de salários em Portugal (menos 35% que em Espanha, exceto os juízes) – na maneira insensível como tratou os mais de 360 mil portugueses qualificados que tiveram de emigrar, durante a legislatura, pois não tinham emprego digno no seu próprio país;
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o Partido Socialista, para se manter no poder, dá o mínimo aos portugueses, aliás, patente na degradação dos serviços públicos, na destruição do Serviço Nacional de Saúde e até nos passes sociais exclusivos para as regiões onde o PS pode faturar em votos.
E de repente, percebemos que o PS é igual a todos os outros partidos socialistas europeus: um grupo pouco confiável, com reduzido sentido de Estado, mas que protege clientelas, a corrupção, o nepotismo e a arrogância.
Não sei se os portugueses vão dar a vitória ao PSD, mas de repente, ficou claro que o Partido Socialista, se ainda ganhar, vai ter problemas sérios: a degradação moral do partido, a descrença da população no governo e o desgaste das relações entre António Costa e o presidente da República, a par das dificuldades económicas previsíveis para os próximos dois anos e a indignação nas Forças Armadas, farão, certamente, com que a próxima legislatura seja politicamente instável e, provavelmente, triste adágio, nem chegue ao fim.