Um estranho diktat fez cair sobre a pátria lusa quatro proibições. É interdito:
1. Dizer que o primeiro-ministro sabia da tramoia de Tancos;
2. Imaginar que o Presidente da República possa ter sabido da marosca;
3. Sugerir que a exibição da candidata do Livre por Lisboa é um ato de racismo;
4. Suspeitar que a menina Greta Thunberg esteja a ser instrumentalizada.
A falange de apoio ao primeiro-ministro reedita impunemente a história exemplar de O Rei Vai Nu. A realidade está à vista de todos, mas ninguém se atreve a falar dela, com receio de parecer menos inteligente que todos os outros, que vêem e calam. Teremos, assim, que esperar pela criança que, na sua inocência, gritará: «Olhem… o rei vai nu!».
Espanta ver tanta gente a especular se o ministro Azeredo teria, ou não teria, posto o chefe do Governo a par dos expedientes postos em marcha para salvar a face do Executivo, começando por baralhar a investigação do roubo e tecendo, a seguir, o ridículo embuste do achamento. E mais espanta que ainda ninguém tenha feito as perguntas: perante um caso tão grave, o primeiro-ministro não se preocupou em saber o que estava a ser feito? Estaria o Dr. Costa assim tão alheado do assunto? E o ministro? Foi tão displicente que não sentiu a obrigação de informar o chefe?
Se foi isto o que aconteceu, ficamos a saber de que massa é feito este Governo. E perceberemos melhor a razão pela qual, enquanto uma centena de pessoas morria em Pedrógão, o primeiro-ministro continuou, tranquilamente, a gozar as férias de Verão.
Sobre o Presidente da República: o país ainda não esqueceu a sagacidade e o brilho do analista político que tudo sabia em pormenor. Se o comandante supremo das Forças Armadas nada sabia sobre um escândalo que punha em causa a instituição militar, será que foi acometido por crise de apatia aguda? Ou terá perdido a iniciativa e a proverbial curiosidade? Tudo pode ter acontecido, mas permanece um mistério: por que razão vemos agora o Dr. Costa a jurar o desconhecimento do Presidente da República, sempre que fala de Tancos, aparentemente para o ilibar? Não estará a colar-se, na esperança de conseguir uma apólice de seguro para riscos políticos?
Passemos agora ao Livre e à sua cabeça-de-lista por Lisboa: não se contesta o mérito das propostas do partido, o perfil do líder ou a simpatia da candidata. O que se questiona é a exibição da senhora… como se fora a novidade da feira. Não será isto discriminação?
Finalmente, a jovem Greta Thunberg: o que vai para aí em defesa da genuinidade da protagonista da cruzada pelo clima! Tamanho arraial parece um remake de 1986, agora em maior escala, quando uma menina islandesa foi posta a escrever aos líderes dos EUA e da URSS, convidando-os a irem à sua terra discutir os assuntos que os dividiam. Montagem ou não, a verdade é que Gorbachev e Reagan acabaram por se encontrar, na mítica casa Hofdy, no que ficou conhecido como a cimeira de Reiquiavique.
Outros tempos, outros promotores, outros patrocinadores… a mesma música.