O PSD perdeu as eleições, reduziu em cerca de dez deputados, mas, ainda assim, o clima que se viveu no partido esteve longe de derrota. Rui Rio recusou, várias vezes, o cenário de “grande derrota”, fez saber que está para ficar aos comandos do partido tendo já os olhos postos nas autárquicas de 2021.
Para o presidente do PSD o resultado eleitoral deve-se às sondagens, à oposição interna e ao surgimento de novos partidos. “Por razões, internas e externas, o PSD disputou estas eleições num enquadramento muito difícil”, atirou o presidente do PSD perante uma sala cheia no Hotel Marriot. E ainda assim “o desejo de hecatombe do PSD, falhou”, salientou o presidente do partido.
Com o apoio de alguns dos barões e ex-dirigentes do partido, Rui Rio aproveitou a ocasião para deixar alguns avisos e recados à oposição interna, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz. “O partido foi a votos num clima de permanente instabilidade interna, de dimensão nunca antes vista na história do PSD. Uma instabilidade motivada por ambições pessoais”, atirou Rui Rio.
Além disso, o presidente do partido fez saber que vai convocar os órgãos do PSD e ontem, ainda os resultados oficiais não estavam fechados, o cenário de marcação de um congresso extraordinário começou a ganhar força. Mas Rui Rio, que disse que irá tomar posse como deputado, não vai para já bater com a porta. A decisão de continuidade na liderança, esclareceu, irá ser tomada “com serenidade” e “depois de ouvir as pessoas”.
Além da “instabilidade interna”, o presidente do PSD salientou que os resultados do partido espelham as sondagens e o surgimento de novos partidos, referindo indiretamente o Aliança. Nas contas de Rui Rio com as novas forças políticas “houve uma perda de votos na ordem de 2% para o PSD”.
“Não há desastre nenhum”
Nestas legislativas, o PSD ficou com 27,90% da votação total, a cerca de nove pontos percentuais do PS. Perdeu nove deputados face a 2015.
O resultado conseguido ficou muito perto da votação registada em 2005 com Pedro Santana Lopes, quando ficou nos 28,77%. E ficou pouco acima dos 27,24% conseguidos pelo partido em 1983 – o pior resultado de sempre – com Carlos Mota Pinto.
Nos 20 círculos eleitorais, o PSD ganhou em apenas cinco: Viseu (um dos bastiões do partido), Vila Real, Madeira, Bragança e Leiria. No Alentejo, pela segunda vez em 20 anos, o PSD ficou sem deputados.
Ainda assim, este cenário não desanimou os militantes que aplaudiram o discurso de ontem de Rui Rio que frisou: “Não há desastre nenhum. Não atingimos o objetivo, mas não é a grande derrota que muitos previam, essa grande derrota não existiu”, frisou.
Barões apoiam Rio
Marques Mendes, Ferreira Leite ou Morais Sarmento foram alguns dos ex-dirigentes e barões do partido que assumiram o seu apoio ao líder, defendendo a sua continuidade na presidência do partido. “Acho que Rui Rio devia candidatar-se a novo mandato. Isso significa assumir o trabalho feito, as perspetivas e as suas ideias para o futuro”, defendeu o ex-presidente do PSD, Marques Mendes. Também Manuela Ferreira Leite defende que o presidente do PSD se deve manter, até porque “está num sentido ascendente”.
Morais Sarmento, vice-presidente do partido, aproveitou para lembrar a oposição interna que há razões para satisfação com o ressultado do partido salientando que a “recuperação” face ao resultado previsto, durante a pré-campanha, se deve a Rui Rio.
Já o presidente do Conselho Nacional, Paulo Mota Pinto, garante que Rio tem “manifestamente” condições para se manter na liderança.
Autárquicas de 2021
Olhando para os resultados das últimas eleições autárquicas e europeias, Rui Rio disse que, agora, as baterias do partido devem estar apontadas para as autárquicas, que irão decorrer em 2021.
Num cenário em que deverá arrancar o processo de descentralização, com as 308 câmaras a assumir competências do Estado central, Rio avisou que “a próxima direção nacional do partido tem a obrigação” de considerar as autárquicas como “estratégicas e nucleares”. Até porque, “as bases do partido estão nas autarquias”.