O Banco de Portugal prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 2% este ano, o que significaria o abrandamento da economia face ao crescimento de 2,4% registado em 2018, segundo o Boletim Económico de Outubro, hoje divulgado.
Segundo o Boletim Económico de Outubro, as previsões significam que "a economia portuguesa continua em expansão em 2019, pelo sexto ano consecutivo, mas a um ritmo inferior ao observado no passado recente".
O abrandamento da atividade económica deverá resultar, segundo o Banco de Portugal, do "menor contributo das exportações, num quadro de crescimento mais fraco do comércio mundial e da procura externa dirigida à economia portuguesa", enquanto espera que "o contributo da procura interna se mantenha inalterado".
Em junho, no Boletim Económico daquele mês, o Banco de Portugal tinha uma previsão de crescimento económico para este ano de 1,7%, a mesma previsão feita em março.
Contudo, referiu hoje, as projeções agora conhecidas “não são diretamente comparáveis com as de junho, devido à revisão recente das séries de contas nacionais e de balança de pagamentos”, uma vez que a incorporação de nova informação tem implicações importantes sobre o nível de crescimento e agregados macroeconómicos.
Em 23 de setembro, o Instituto Nacional de Estatística (INE) melhorou em três décimas o crescimento PIB em 2018, de 2,1% para 2,4%, tendo explicado que essa revisão foi feita no âmbito das revisões regulares das contas nacionais, que introduzem desenvolvimentos na metodologia e incorporam resultados de fontes com informação com frequência menos regular do que anual.
Ainda segundo o Boletim Económico hoje divulgado, no primeiro semestre deste ano a economia portuguesa desacelerou ligeiramente ao crescer 2% em termos homólogos.
Défice de 0,2% este ano
O Banco de Portugal considera “claramente alcançável” o objetivo do défice orçamental de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, definido pelo Governo. “O objetivo oficial para o défice deste ano (0,2% do PIB), definido no Orçamento do Estado para 2019 e mantido inalterado na atualização do Programa de Estabilidade e na recente notificação do Procedimento dos Défices Excessivos, apresenta-se claramente alcançável, em particular quando se considera o perfil intra-anual do saldo orçamental observado no passado recente”, lê-se no documento.
Ainda assim, o banco central vê “alguns fatores de incerteza relativamente à evolução orçamental até ao final do ano”, caso da evolução dos impostos diretos do lado da receita, “em particular, relacionada com o saldo dos reembolsos e notas de cobrança em sede de IRS”.
Já do lado da despesa, o Banco de Portugal considera que há incertezas devido às despesas com pessoal, que estão “muito condicionadas pela implementação efetiva do descongelamento de carreiras e pelo aumento do número de funcionários, em particular em áreas que evidenciam maiores pressões orçamentais, como a saúde”.
Além disso, refere, há rubricas como o consumo intermédio e o investimento “que, na primeira metade do ano, tiveram uma evolução aquém do orçamentado”, o que “dificulta a avaliação das perspetivas para o conjunto do ano”.
O Banco de Portugal refere ainda que podem existir medidas temporárias (como aconteceu com a injeção de capital no Novo Banco no primeiro semestre) a afetar o saldo orçamental do conjunto deste ano.
O ministro das Finanças, Mário Centeno, já tinha admitido que o défice deste ano poderá ficar “ligeiramente” abaixo dos 0,2% do PIB, nomeadamente na sequência das receitas de IVA, e que a nova meta deverá ser enviada a Bruxelas em 15 de outubro.
O défice de “2018 foi uma décima melhor do que tínhamos projetado no Programa de Estabilidade. Tecnicamente, como se diz na gíria, podemos arrastar essa décima, expectavelmente, para 2019, se tudo o resto se mantiver constante”, referiu, acrescentando que, além disso, houve também uma “revolução na estrutura da atividade económica” portuguesa.
“É possível que consigamos fazer algo melhor na projeção de algumas variáveis para até ao fim do ano, dada a nova base, digamos assim, das contas nacionais e das contas públicas”, referiu.
O défice orçamental ficou em 0,8% do PIB no primeiro semestre deste ano, segundo o INE.
O instituto de estatística melhorou, em setembro, o défice de 2018, de 0,5% para 0,4% do PIB.
Taxa de desemprego nos 6,4% este ano
O banco central estima ainda que a taxa de desemprego fique em 6,4% este ano, abaixo dos 7% de 2018, mas ligeiramente acima da anterior previsão de 6,3% feita em junho. Isto significa que, a taxa de desemprego vai continuar este ano a prolongar “a trajetória de descida observada desde 2019”.
Já o emprego deverá crescer no conjunto deste ano, mas “a um ritmo menor”, de 0,9%. Em 2018, o emprego tinha crescido 2,3%.
Em relação aos salários, o Banco de Portugal considera que “deverão acelerar”, desde logo devido à redução de trabalhadores disponíveis no mercado de trabalho, mas também ao aumento do salário mínimo e ao descongelamento gradual das progressões salariais na administração pública.