As Nações Unidas decidiram dedicar a próxima década à ‘Ciência dos Oceanos para um Desenvolvimento Sustentável’. O motivo que esteve na base desta decisão é evidente. Cada vez mais o ser humano utiliza os oceanos no seu modelo de desenvolvimento causando, muitas vezes, impactos irreversíveis na natureza.
Em muitos dos estudos realizados sobre a avaliação do estado dos oceanos se conclui que os maiores impactos sobre este vasto recurso natural resultam da intensa ação humana.
Como observador atento dos fenómenos naturais e sociais relacionados com o mar tenho constatado que, muitas vezes, são cometidos erros porque existe uma tendência para o ser humano considerar que o mar é um recurso muito mais homogéneo do que, na verdade, ele é.
Tendemos a questionar, com algum desânimo – por que é que não se pesca como noutros mares? por que é que não temos um porto igual ao dos países mais desenvolvidos?… – acreditando que o mar que temos à nossa frente é igual ao mar de outros países. Na verdade, em termos físicos cada localização, cada coordenada no mar é diferente. Cada ponto no mar tem a sua profundidade, temperatura, salinidade, corrente, diversidade biológica… fazendo com que seja necessário estudar cada ponto desta ‘infraestrutura natural azul’.
A relação do Homem com o mar criou também uma ‘infraestrutura socioeconómica azul’ que necessita ser estudada e cuja realidade pode divergir em muito da perceção. Tenho constatado que a palavra mar tem sentidos e perceções diferentes consoante o interesse de cada pessoa. Em geral, quando se fala no mar com um praticante de surf, as ondas são uma das componentes do mar mais valorizadas, quando se fala com um mergulhador, a visibilidade da água e biodiversidade são das componentes mais valorizadas…
Se a infraestrutura natural do mar tem sido de alguma forma estudada ao longo do tempo o estudo da infraestrutura socioeconómica continua muito atrasado com consequências negativas para o desenvolvimento sustentável da humanidade. Recentemente, tive a oportunidade de partilhar nas Nações Unidas a importância de se estudar aprofundadamente a infraestrutura socioeconómica relacionada com os oceanos, neste contexto, é com muita satisfação que assisti, este mês, na Academia de Marinha, na Rua do Arsenal, à apresentação do Almirante António Silva Ribeiro, intitulada ‘Contributos para uma Teoria dos Estudos Marítimos’. Na sua opinião os estudos marítimos são um campo académico transdisciplinar das ciências sociais, destinado a gerir os desafios de desenvolvimento e de segurança, decorrentes das relações críticas e contínuas do Homem com o mar.
O grande objetivo é estudar os fenómenos complexos naturais e sociais no contexto marítimo. Tendo concluído a sua apresentação referindo que «os estudos marítimos servem para formar profissionais completos, dotados com as ferramentas de gestão e o saber necessário para pensarem como homens de ação e agirem como homens de pensamento» estabeleceu um importante rumo para o futuro no mar em Portugal.
*Sócio da PwC