O que motivou a sua candidatura à liderança da distrital de Lisboa do PSD?
A decisão de me candidatar à distrital aconteceu depois de tomar conhecimento de que o único candidato era o Ângelo Pereira. Num primeiro momento fiquei espantada e a seguir senti uma recusa muito grande por essa candidatura. Foi nesse momento que decidi candidatar-me.
Ficou espantada?
É uma candidatura que está ao serviço de Miguel Pinto Luz. Discordo completamente que a luta pela distrital se faça em função de um candidato à liderança do PSD a nível nacional. E é uma candidatura do aparelho no pior sentido. Fechada e de fação. É um anexo de uma candidatura nacional. E o candidato não tem condições políticas e pessoais para ser presidente da distrital de Lisboa. Não tem pensamento politico sobre a distrital e sobre o PSD. A distrital do PSD já foi presidida por pessoas como José Miguel Júdice ou Pacheco Pereira.
A distrital do PSD-Lisboa tem perdido prestigio?
A credibilidade só se recupera com bons quadros e com boas ideias. Proponho a recuperação de quadros históricos e muito influentes no partido que já serviram o Governo de Portugal e o PSD. Vou buscar essas pessoas. E quero ir buscar novos militantes. Pessoas com 20 e 30 anos que tem uma carreira profissional. A maior parte dos militantes não sabe quem é o Ângelo Pereira.
O PSD tem perdido influência no distrito de Lisboa. Nas últimas autárquicas ficou em terceiro lugar…
A reputação e a credibilidade custam muito a ganhar, mas perdem-se num minuto. O PSD fez tudo mal e teve um resultado medíocre. A maior força da oposição passou a ser o CDS e as pessoas deixaram de olhar para o PSD. Desistiram do PSD nesse dia. Isto demora muito tempo a recuperar. O resultado foi tão mau em Lisboa e no Porto que o presidente do partido não voltou a candidatar-se. Parece que foi a única pessoa com sobriedade para retirar ilações. Mais ninguém retirou ilações. Embora a candidata [Teresa Leal Coelho] tivesse feito um mau papel, a culpa não foi exclusivamente dela. Há estruturas no partido que até hoje não falaram sobre isso.
Está a referir-se a Pedro Pinto?
As pessoas que estão a comandar o PSD em Lisboa, há dez anos, são as mesmas. Estes atos eleitorais têm sido organizados pelo mesmo grupo de pessoas.
O processo de escolha do candidato à Câmara de Lisboa foi complexo. O PSD apostou em Santana Lopes, mas acabou por ficar sem candidato e escolheu Teresa Leal Coelho. Como viu esse processo?
É como um clube desportivo saber que vai começar a disputar jogos em agosto e chega a maio ou junho e ainda não tem um treinador. Uma direção que leva as coisas nesse sentido é incompetente.
Se vencer a distrital vai começar a preparar a candidatura à Câmara de Lisboa muito mais cedo?
Na minha cabeça estão mais do que preparadas. Como faço política autárquica em Lisboa há dez anos tenho uma ideia muito firme do que deve ser feito. No primeiro trimestre de 2020 o assunto tem de estar resolvido. Para mim, é claro que só pode ser candidato quem tenha experiência autárquica relevante. Alguém que já tenha sido presidente de câmara, vereador ou que seja deputado municipal. E quero uma pessoa que saiba comunicar. Não quero um técnico. Por último, tem de ter uma atitude ética irrepreensível para que possa ter como bandeira o combate à corrupção.
Quais são os principais problemas da cidade?
Há dois problemas graves em Lisboa: a habitação e a mobilidade. Fernando Medina prometeu casas para sete mil pessoas da classe média e não há nem uma. Entram em Lisboa mais de 350 mil carros todos os dias e o trânsito dentro da cidade está cada vez pior.
O PSD tem hipótese de vencer a Câmara nas próximas eleições autárquicas?
Sim. Fernando Medina substituiu António Costa. Herdou a Câmara em abril de 2015, foi a eleições em setembro de 2017 e perdeu a maioria absoluta. Isto num cenário em que o PSD apresentou um mau candidato e teve 10%. O PS perdeu a maioria absoluta com Fernando Medina e neste momento existe uma coligação com o Bloco de Esquerda. O que demonstra bem o cinismo e a hipocrisia política do Bloco de Esquerda. O_BE aqui na cidade não resolveu nenhum dos problemas das pessoas.
José Eduardo Martins já mostrou vontade e disponibilidade para ser candidato à Câmara de Lisboa. Seria um bom candidato?
Não. Acho uma péssima ideia. O José Eduardo Martins teve o pior resultado de sempre do PSD para a Assembleia Municipal de Lisboa. Ficou em terceiro lugar. A Teresa Leal Coelho não foi a única candidata. Ele é corresponsável pelo mau resultado do partido. Estamos a falar de uma pessoa que teve um mau resultado e depois não deu provas como deputado municipal. E ao final de um ano renunciou. Comigo não será candidato.
A hipótese de o PSD apoiar uma eventual candidatura de Assunção Cristas também está afastada?
Está fora de questão. Essa é uma ideia proibida. Isso seria assumir que o PSD não serve para nada. A Assunção Cristas não aproveitou os 20% que o CDS conseguiu. Ela foi lá de início, teve algum papel, mas rapidamente se desinteressou. Quis fazer tudo ao mesmo tempo. Penso que a carreira política da Assunção Cristas em Lisboa está terminada. Durante dois anos não teve uma proposta, uma intervenção…
No último dia da campanha eleitoral para a Câmara de Lisboa deu uma entrevista a criticar a candidatura de Teresa Leal Coelho. Essa entrevista foi mal recebida dentro do PSD porque pertencia à lista liderada por Leal Coelho e ao mesmo tempo estava a criticá-la. Não foi incoerente?
Estava tudo mal naquela candidatura e achei que devia, naquele momento, correndo riscos pessoais de ser mal entendida, não fazer como muitos políticos que só falam quando toda a gente já falou. Achei que fazia a diferença estar naquela condição e falar sobre isso. Foi uma manifestação da minha avaliação política do que se estava a passar naquele momento. Passaram dois anos e, neste momento, a concelhia de Lisboa até já pondera retirar a confiança política a Teresa leal Coelho. Limitei-me a dizer: o rei vai nú.
Como vê essas divergências dentro do PSD depois de Teresa Leal Coelho admitir votar a favor da recondução de Manuel Salgado como presidente das Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU)?
O que se passa é que o PSD é muita vezes muleta do Medina porque há coisas que o Bloco de Esquerda não vota. Eles não votam tudo. A situação é grave.
Já surgiram três candidaturas à liderança do PSD a nível nacional. Vai apoiar algum candidato na disputa interna do PSD?
Não. Entendo que o presidente da distrital não pode ter opiniões pessoais. Tem opiniões institucionais e representativas de todos os militantes. O ideal é que a distrital seja um espaço de liberdade e um espaço de abertura. O futuro líder da distrital tem de trabalhar com aquele que seja o líder escolhido pelos militantes. O essencial é que o PSD consiga reforçar a sua credibilidade política.
As divergências internas, principalmente desde que Rui Rio chegou à liderança, são um problema grave ou devem ser encaradas com naturalidade?
O PSD não é diferente do PS, que teve muitos problemas depois da saída de José Sócrates. Os partidos têm menos capacidade para se unir quando deixam de ser Governo. As pessoas focam-se mais nas questões internas do que em pensar soluções para o país.
O facto de Passos Coelho ter sido um líder marcante torna as coisas mais difíceis?
Passos Coelho foi líder do partido durante muito tempo e deixou muitos seguidores. Foram muitos anos e o partido tem uma devoção muito especial pelos lideres que chegam a primeiro-ministro. Os presidentes do partido não estão todos no coração dos militantes da mesma maneira. Há uma consideração diferente por aqueles que conseguem ser primeiro-ministro. E Passos Coelho foi idolatrado por milhares e milhares de militantes que gostaram imenso dele. O país reconheceu isso porque o PSD venceu as eleições. Se Rui Rio ou Luís Montenegro vierem a ser primeiro-ministro terão o partido a seus pés. Os partidos funcionam assim.
Numa entrevista disse que nunca tinha pertencido a uma juventude partidária. Tem reservas em relação às jotas?
Nunca fui jota. Inscrevi-me no PSD com mais de 30 anos e já tinha um filho. Não sei se hoje em dia faz sentido a existência de juventudes partidárias. Nunca senti que a jota me fizesse falta para pensar. Para isso li clássicos, estudei e tirei um curso de Direito. Isso habilitou-me a pensar politicamente. As jotas hoje fazem pouco sentido. Não têm ganho grande reputação e a maioria da população não tem os politicos, em geral, e as jotas em particular, em grande conta.