Nas alegações finais do julgamento, o magistrado do Ministério Público tinha solicitado a aplicação a todos os onze polícias de penas de prisão efetiva, a cumprir na cadeia, de pelo menos três anos e meio, enquanto o advogado de defesa, João Carlos Silva, pediu a absolvição dos seus clientes.
A vítima, João Adrião, à data das agressões com 35 anos, advogado de profissão, ficou cego do olho direito, passando a viver com dificuldades financeiras acrescidas, já que era pago como trabalhador independente, enquanto jurista, em ação liberal, a recibos verdes, conforme declarou, no Tribunal de Grande Instância Criminal da Comarca de Guimarães.
Os polícias respondiam por um crime de ofensa à integridade física grave qualificada, por factos que remontam ao dia 3 de outubro de 2014, quando a equipa boavisteira jogou no Estádio do Vitória de Guimarães, em jogo da temporada de 2014/15 da I Liga de Futebol.
A acusação, deduzida pelo Ministério Público, referia que os onze arguidos pronunciados por aquele alto tribunal superior, tinham sido destacados, enquanto efetivos do Corpo de Intervenção Destacado no Comando Metropolitano da PSP do Porto (COMETPOR) para em Guimarães zelarem pelas questões de segurança colocadas por aquele jogo de futebol.
Segundo o libelo acusatório, à chegada dos autocarros que transportavam os adeptos do Boavista, um dos onze polícias abordou um adepto, instando-o a que se movimentasse para determinado local, mas como este não teria obedecido de imediato, “derrubou-o ao solo, colocou-lhe um joelho por cima das costas e fê-lo permanecer deitado no solo de cara para baixo”, conforme diz o Ministério Público, baseado em investigações criminais.
O MP sustenta que o mesmo polícia mais dois agentes da PSP, todos absolvidos, “bateram no referido adepto, nomeadamente com cotoveladas, pontapés, socos e também pancadas de cassetete, enquanto os demais [oito] arguidos os integraram no interior de um círculo que formaram, assim impedindo que lhe fosse prestado socorro”, considerado agravante.
Um juiz de instrução criminal do Tribunal de Guimarães tinha ditado o arquivamento dos autos, por considerar que não seria possível identificar os agressores, só que o Ministério Público e a vítima recorreram de imediato, tendo o Tribunal da Relação de Guimarães pronunciado os onze arguidos, pelo crime de ofensa à integridade física grave qualificada.
Presidente da ASPP da PSP
O agente Paulo Rodrigues, de 45 anos, presidente da ASPP/PSP, era um dos pronunciados pelo Tribunal da Relação de Guimarães, acusados de grave agressão, em 2014, contra um jovem adepto do Boavista Futebol Clube, João Pedro Machado Gomes Freitas Adrião, tendo-o cegado logo de um olho, para além de diversas escoriações e equimoses sofridas.
Todos os arguidos são agentes do Corpo de Intervenção do Comando Metropolitano PSP do Porto: Paulo Jorge Pereira Rodrigues, José Manuel Quinteira Fernandes, Rui António Melo Branco, Celso Rodrigues Barja, Rui Manuel Fernandes de São José Pereira, Pedro Miguel Pina Duarte, Mário José Nunes Dias, Mário Lourenço Moreira, Vítor Manuel Tavares Mota, José Pedro da Silva Veloso e ainda José António dos Santos Gomes Oliva.
Aquando das referidas agressões o então presidente do Boavista, João Loureiro, lamentou “a forma absolutamente desproporcionada” como foram cometidas, falando no Porto, à porta do Hospital de Santo António, no Porto, para onde o adepto foi logo transferido, dada a gravidade das lesões, enquanto a PSP nunca chegou a pronunciar-se sobre o caso.
“O Boavista não pede, o Boavista exige, que saiba o que se passou e quem são os autores destas bárbaras agressões”, afirmou também João Loureiro, iniciando-se desde então uma onda de solidariedade deste clube portuense e dos seus adeptos em redor de João Adrião.
“O que se passou foi uma coisa absolutamente inaudita e em que o nosso adepto, a dado momento, ficou prostrado no chão, a sangrar copiosamente, ele com uma parte da cara já completamente desfeita, não tendo deixado que pelo menos alguém da família se pudesse aproximar para o socorrer”, ainda segundo o então presidente do Boavista Futebol Clube.
Depois da alta médica e de diversas intervenções cirúrgicas para remover o olho direito, o adepto boavisteiro confirmou no julgamento que os factos ocorreram no momento em que “estava fora do autocarro a aguardar pelo meu irmão, que ficou para trás, quando um agente disse ‘não pode estar aqui!’ e deu-me logo um encontrão, que me atirou ao chão”.
Segundo João Adrião, “foi mais do que um agente a baterem-me e muitos a assistirem, fui espancado e deixado no chão até vir a ambulância que me transportou ao hospital, mas a verdade é que não diz nada que provocasse aquilo, não tive qualquer atitude ou palavra”.