António Saraiva fica na CIP até 2022

Ex-presidentes da confederação contactados pelo SOL veem com naturalidade a alteração dos estatutos para permitir a continuidade do atual presidente à frente da organização. 

António Saraiva fica na CIP até 2022

Os associados da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) aprovaram, em assembleia-geral, as alterações estatutárias que vão permitir ao atual presidente, António Saraiva, recandidatar-se à presidência deste organismo. Esta mudança contou com a aprovação de 37 associados e a recusa de um «por questões processuais da própria votação». Com a alteração dos estatutos da CIP, a direção deste organismo deixa de ter competências delegadas pelo conselho geral, podendo agora a direção iniciar um limite de mandatos até nove anos (três mandatos de três anos).
No entanto, o atual presidente da CIP já veio garantir que só ficará à frente da confederação por mais um mandato. «Aceitei o pedido de vários associados para que me recandidatasse, mas aceitarei apenas um mandato de três anos», afirmou Saraiva ao SOL que lidera a CIP há dez anos. As próximas eleições estão marcadas para o final de março do próximo ano.

Mas, ao SOL, o presidente da confederação empresarial adiantou, no entanto, que esta alteração está relacionada com o facto de ter chegado ao fim «o período de nove anos do acordo parassocial entre a CIP, AIP [Associação Industrial Portuguesa], AEP [Associação Empresarial de Portugal] e Apifarma», assinado em 2010.

Contactados pelo SOL, os ex-presidentes da CIP não se mostram surpreendidos com esta ‘renovação’ de mandatos. Apesar de ser defensor da limitação de mandatos, Pedro Ferraz da Costa – que liderou a entidade entre 1981 e 2001 –  admite que «é sempre um risco haver a perpetuação de cargos». No entanto, admite «que atualmente não havia um sucessor para liderar a CIP». E vai mais longe: «Muitos associados pensam que é melhor ficar quem está do quem possa vir. No fundo, sabem o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido e, com isso, não ficam muito apreensivos com o futuro nem precisam de pensar muito no assunto».

Também Francisco Van Zeller, presidente da CIP entre 2002 e 2010, lembra que o fim do acordo parassocial exigia uma revisão de estatutos e com isso foi criado um vazio: «Para este primeiro mandato seria difícil fazer de forma diferente e os associados optaram por decidir pela continuidade do que apostar em algo de novo e, com isso, correr o risco de abrir uma guerra interna».

Mas, apesar de não discordar da decisão, o responsável admite que todas as organizações deviam apostar em líderes novos. «É sempre importante ter sangue novo para não haver acomodação. Para mim o ideal é existir um limite de dois mandatos para não haver habituação», refere ao nosso semanário.

Reorganizar movimento associativo 
Numa entrevista ao SOL, em julho, António Saraiva admitiu que fazia um balanço positivo dos seus mandatos. «A CIP é, modéstia à parte, uma entidade com muito mais visibilidade, com um reconhecimento público muito maior e uma intervenção na sociedade portuguesa muito diferente». Ainda assim, lembrou que «as pessoas são sempre importantes e, em determinado tempo, uma determinada característica pessoal é a mais ajustada. Mas cada tempo traz uma realidade diferente. E o facto de A, B ou C terem sido as pessoas ideais para aquele tempo não quer dizer que no novo tempo se mantenham essas necessidades». 

Na mesma entrevista e agora em declarações ao SOL, voltou a defender que a consolidação do movimento associativo e empresarial continua a ser uma das prioridades. A explicação é simples: «Temos muitas associações, muitas confederações quando comparado com outros países, como Espanha e Itália. Temos de ter a lucidez de que a divisão só nos enfraquece, devemos fortalecer o movimento associativo em Portugal, dando maior coesão. Tenho falado com os meus colegas para encontrar um objetivo comum e uma voz coesa. É claro que há especificidades em cada atividade, mas há muitos temas que são comuns a todos e são transversais».

E foi mais longe: «Os tempos estão a mudar e as próprias empresas desejam isso. Temos, quer setorialmente quer regionalmente, sobreposições que só nos enfraquecem. As empresas não podem continuar a suportar por muito mais tempo as quotizações para diversas associações. Diz-se que o homem muda ou por inteligência ou por necessidade e já estamos no tempo da necessidade», acrescentando que a reestruturação do movimento associativo empresarial é uma das suas inquietudes. «Temos de inovar, acrescentar valor, responder às necessidades das empresas, porque é para elas que trabalhamos». 

O ‘patrão dos patrões’
António Saraiva é conhecido por muitos como o ‘patrão dos patrões’.  Veio para Lisboa com os pais na década de 60 e acabou por entrar no estaleiros da Lisnave. E mais tarde entra no no Instituto Técnico para o curso de engenharia mecânica, à noite. 

  Numa entrevista ao i, António Saraiva garantiu que  foi o arquiteto social que salvou aquela indústria, mas afastou estar agora do outro lado da trincheira. «Desde muito novo que tenho uma inquietação cívica, sou um cidadão inquieto, o que me faz participar em tudo, até em reuniões de condomínio. Sinto muito aquela expressão do presidente kennedy quando chegou pela primeira vez à presidência dos Estados Unidos: perguntem o que é que a América pode fazer por cada um de nós, mas o que cada um de nós pode fazer pela América. Cabe a cada um de nós enquanto cidadãos defendermos as nossas causas. Sou um lutador de causas e por isso participo e participo há muito tempo», referiu.
E o atual presidente da CIP não tem dúvidas: considera-se ser um defensor de causas, das empresas e do emprego. «Não estou do outro lado da barreira. Continuo a arquitetar pontes, a estreitar margens e o facto de eu estar certo não quer dizer que o outro está errado».

Por opção, António Saraiva sempre evitou cargos políticos, apesar de ter sido convidado para se candidatar nas últimas eleições autárquicas por Lisboa «Fui convidado recentemente para me candidatar a três grandes câmaras na grande Lisboa, declinei os convites. Curiosamente foram feitos por três partidos diferentes. Reconheço que o trabalho da CIP pode ter uma forte componente política, mas em termos de trabalho político partidário não tenho nenhum apelo. Os desafios que tenho para quando terminar o fim do meu mandato são de ordem profissional e não político».