As operadoras de telecomunicações voltaram a mostrar o cartão vermelho à Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) no atraso do processo de implementação da quinta geração móvel (5G). A opinião foi unânime junto das empresas do setor e foi transmitida no 29.o congresso da APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações.
Para João Nascimento, CTO da Vodafone, não há dúvidas: Portugal esteve “no pelotão da frente” do 3G e 4G” e em relação ao 5G garante que “do ponto de vista da tecnologia, estamos prontos; do restante, estamos atrasados”. Também Jorge Graça, CTO da NOS, considerou que, no que respeita ao know-how “e montar redes, não há atraso”, mas sim no restante. “Gostava de estar a ser desafiado pelas empresas deste país” para desenvolver produtos e serviços assentes em 5G, acrescentou – isto porque a tecnologia vai “disponibilizar novas funções ao tecido empresarial português e, aí, nós sentimos o atraso”, afirmou.
A opinião é partilhada por Luís Alveirinho, CTO da Altice Portugal, ao garantir que quando se fala em atraso é preciso ter em consideração o momento tecnológico. “Enquanto engenheiro, custa-me ter uma tecnologia disponível, clientes altamente expetantes e, depois, estou agarrado porque não posso fazer”, afirmou o responsável. “Não estão criadas condições externamente aos operadores para que possamos lançar este tipo de serviços. Estamos atrasados (…) porque não foram criadas condições”.
As acusações são repudiadas pelo presidente da Anacom. João Cadete de Matos garante que “não existe qualquer atraso” nos trabalhos preparatórios da quinta geração móvel em Portugal. Para o responsável da Anacom, Portugal “é dos países europeus com maior número de testes, que contribuirão para o arranque do 5G no país”. Cadete de Matos aproveitou ainda a ocasião para apontar o dedo à Altice por ter pedido para atrasar o processo do 5G: “Importa recordar que os operadores defenderam que ainda necessitavam de recuperar o investimento feito nas redes 4G, e é verdade, o 4G ainda tem de ser aproveitado de forma plena e as potencialidades ainda não estão esgotadas”. E continuou: “Tem havido mesmo quem defenda que o 5G teria apenas interesse comercial após 2022. O operador que tem a concessão da TDT [a Meo, da Altice Portugal] defendeu que a atribuição de licenças só ocorresse mesmo após 2020”.
Preços sob ataque A entidade liderada por Cadete de Matos também defendeu que é “essencial” a redução do preço dos serviços e do acesso à internet em Portugal. Na abertura do congresso, o regulador alertou para a necessidade de serem criadas condições para “que se inverta a disparidade observada na última década”, período durante o qual, segundo João Cadete de Matos, “os preços das telecomunicações em Portugal subiram 12,5%”, representando o maior aumento nos países da UE.
Estas declarações contrastam com um estudo da Apritel, divulgado na semana passada, que concluiu que os preços praticados em Portugal estão 34% abaixo da média de dez países europeus de referência, e que, neste universo, os pacotes 3P e 4P são os segundos mais baratos.