A “guerra impossível” que deixou França “em lágrimas”

Durante a noite de segunda-feira, dois helicópteros colidiram e causaram a morte de 13 soldados franceses. Perseguiam insurgentes no Mali, um país devastado por extremistas islâmicos. 

Dois helicópteros colidiram a baixa altitude no Mali, causando a morte de 13 soldados franceses. Os helicópteros, um modelo Cougar e outro Tiger, em conjunto com um caça Mirage 2000, auxiliavam comandos na perseguição a rebeldes que fugiam em motos e carrinhas de caixa aberta, durante a noite de segunda-feira. As tropas francesas combatiam “contra o terrorismo no Sahel”, explicou o Presidente francês, Emmanuel Macron.

Morreram seis soldados rasos, seis oficiais e um cabo, entre os quais estava o filho do senador francês Jean-Marie Bockel, o tenente Pierre-Emmanuel, de 29 anos. “Inclino-me perante a dor das suas famílias e camaradas”, escreveu Macron no Twitter. Foi o dia mais sangrento para as forças armadas francesas desde há mais de três décadas. “Hoje, França está em lágrimas”, lamentou o ex-Presidente François Hollande, que enviou as tropas para o Mali.

O incidente elevou para 41 o número de mortos na operação Barkhane, a maior operação francesa no estrangeiro. Decorre no Mali, Níger, Burkina Faso, Chade e Mauritânia, antigas colónias de França. Por agora, o grosso dos efetivos na região é francês, mas, ainda este mês, a União Europeia prometeu aumentar a sua presença militar.

Recorde-se que desde 2012, quando islamitas tomaram o norte do Mali, que mais de 4500 efetivos franceses no Sahel enfrentam um espécie de jogo do rato e do rato, numa área mais de oito vezes maior que a península Ibérica, contra um inimigo móvel, capaz de desaparecer no deserto. “Eles estão aqui mas estão escondidos. Procuramos mas não os conseguimos encontrar”, contou um oficial à AFP. “É uma guerra impossível”.

A notícia do acidente surge menos de uma semana após o anúncio da morte do principal líder da Al Qaeda no Mali, o marroquino Ali Maychou. Tem-se observado uma de escalada da violência no país: mais de um centena de tropas malianas foram mortas nos últimos dois meses.

53 morreram num único ataque, no início de novembro, reivindicado por uma filial do Estado Islâmico. O alvo foi uma base militar isolada no nordeste do país – na região onde colidiram os helicópteros franceses. “Homens fortemente armados, não identificados, atacaram por volta do meio dia. O ataque começou com um bombardeamento e depois eles retiraram para o Niger”, disse na altura um porta-voz do Governo do Mali.

 

‘Françafrique’ O propósito declarado da missão francesa, sediada na capital do Chade, N’Djamena, é o combate ao jihadismo. Mas muitos temem que pelo caminho fortaleça regimes autoritários, como o Governo chadiano de Idriss Déby. Ou que permita abusos de direitos humanos, como no caso das tropas do Mali, acusadas de tortura e assassinatos pela Human Rights Watch – nem sempre respeitam as regras, reconheceu um oficial francês à AFP.    

“Os franceses nunca acreditaram que países como o Chade melhorem, não acreditam que sejam suscetíveis à democratização”, explicou ao Economist Richard Moncrieff, do International Crisis Group. Aliás, uma das promessas de Macron, quando foi eleito, em 2017, foi acabar com a política de ‘Françafrique’: ou seja, de apoiar ditadores africanos que defendem interesses franceses.

Contudo, a intervenção de França não está a diminuir. Afinal, num momento em que os chineses disputam África, com estas missões militares “França pode demonstrar os benefícios do seu poderio militar aos líderes africanos. Algo que a China, apesar de todo o seu poder financeiro, não consegue igualar”, escreveu o Economist.