Apesar de este novo Governo ter iniciado funções há pouco tempo, não falta por aí quem já critique as medidas que começam a ser tomadas em todos os setores.
Não há volta a dar. Críticas é próprio do ser humano e uma regra que parece não ter fim. As pessoas olham para os seus governantes com desconfiança, numa atitude defensiva e sem esperança de grandes mudanças ou de melhores dias.
Dá ideia de que os governos (utilizando uma linguagem desportiva) entram em campo na condição de derrotados, independentemente do que vierem a fazer durante o jogo. Eu, em contrapartida, não deixo de lhes conceder o benefício da dúvida, acreditando que nesta ou naquela área alguma coisa pode mesmo melhorar – e é esta imagem de esperança que tento transmitir a todos quantos me rodeiam.
No sempre problemático campo da saúde, os problemas são muito difíceis de resolver e, muito sinceramente, não gostaria de ‘estar na pele’ da nossa ministra. É bem mais ‘cómodo’ estar do lado de fora, criticando o que se faz e apontando o dedo àquilo que não se tem, do que ter de tomar decisões, por vezes ingratas, discutíveis e impossíveis de agradar a todos.
Contudo, e confiando nas promessas do nosso primeiro-ministro, espero que haja um investimento na saúde, concretamente no Serviço Nacional de Saúde, que precisa urgentemente de uma completa reestruturação. Com o tempo de serviço que já tenho e pela experiência adquirida nos cargos por onde passei, vejo os profissionais resignados, sem motivação de espécie alguma, à espera que o tempo passe, como que a carregar um fardo pesado, perguntando a si próprios quanto tempo falta para chegar à reforma.
Convém ter presente que os profissionais são os principais obreiros do SNS, e que sem eles é escusado pensar em qualquer tipo de remodelação. As condições de trabalho não são nada aliciantes e as remunerações muito menos. É por isso que o Estado tem visto saírem funcionários para o setor privado ou para o estrangeiro, numa ‘sangria’ preocupante, e ainda não foi capaz de travar esta tendência que vai continuando a fazer estragos visíveis aos olhos de toda a gente.
Já aqui o disse e volto a sublinhar: sou a favor de um Estado forte, moderno e competitivo, mas também que seja capaz de identificar os principais problemas que o afetam e de encontrar as soluções mais eficazes para os combater.
Em relação aos profissionais mais velhos, deve aliviar-lhes o trabalho, aproveitar a sua experiência e atribuir-lhes outro tipo de funções, em vez de os pôr a ‘competir’ com gente mais nova, com outras ideias e com formas de trabalhar diferentes.
Quanto às condições remuneratórias, não me venham dizer que não há dinheiro. Há dinheiro, sim senhor! Na Medicina Familiar, por exemplo, se há ‘incentivos’ para distribuir pelos que melhor trabalham em função de números, estatísticas e indicadores, é porque o dinheiro não falta.
Só é pena que sejam premiados os que melhores resultados apresentam na ótica da gestão e sejam ignorados os que mais se dedicam aos doentes. Se acabarem com tais incentivos e aplicarem essas verbas no aumento do salário de todos os trabalhadores, uma vez que o trabalho efetivo é o mesmo, deixará de haver ‘filhos e enteados’, como tem acontecido até agora.
Um profissional de saúde bem remunerado pelo Estado é sempre uma mais-valia tanto para o SNS, visto que se traduz num aumento da produtividade, como para o próprio, que já não precisa de trabalhar noutros locais por questões meramente económicas. Não digo que esta medida resolvesse tudo, mas tenho a certeza de que era um bom princípio.
Num serviço onde os funcionários se sintam bem e virem o seu trabalho justamente reconhecido e recompensado, a concorrência com o setor privado deixa de ser problema e o número de pedidos de reforma antecipada dará lugar precisamente ao contrário, ou seja, ao desejo de prolongar funções até que legalmente seja possível.
Tenho esperança de que, um dia mais tarde, a filosofia seja outra. E, com novas regras em vigor, em vez de se perguntar ‘Quanto tempo ainda falta para a reforma?’, como se se tratasse de uma prova de resistência, se pergunte ‘Quanto tempo mais poderei continuar aqui?’. Todos beneficiávamos com isso. De que estamos à espera?