Em entrevista ao jornal francês Libération, Rui Pinto pediu que “países como a França ou a Bélgica” o “salvem” de Portugal, e “aproveitem a oportunidade para investigar e processar os autores de infrações no mundo do futebol, que existem a uma escala inimaginável".
O hacker sublinhou ainda, numa entrevista escrita, que o sistema judicial português apresenta “sinais claros de parcialidade e de práticas não democráticas”. Rui Pinto confessou que a procuradora que detém o seu processo lhe disse num interrogatório que a justiça “não pretende inquirir os assuntos de corrupção e fraude fiscal. Ela apenas quer que a minha cooperação seja autoincriminatória”.
Na mesma entrevista, confessa que a procuradora é a mesma que dirige a unidade criada em 2018 “para incriminar crimes no futebol. Mas, como todos podem constatar, a unidade dedicou-se unicamente a perseguir os denunciantes”. Rui Pinto garante que o seu caso não é o único, dando o exemplo do Benfica. "Nenhum inquérito penal foi aberto após a revelação de fugas de dados sobre o futebol e os inquéritos sobre presumíveis estratagemas de corrupção do Benfica estão congelados", conta à publicação francesa.
O responsável pelo Football Leaks lamenta ainda que Portugal “esteja do lado errado da guerra”, justificando as entradas na Procuradoria-Geral da República devido a “suspeitas” de que a entidade “dissimule os elementos mais importantes da acusação, o que será inaceitável”. O hacker acusou ainda Portugal de ser “uma plataforma de práticas fraudulentas, até para além do futebol”. “Portugal não participa na luta contra a corrupção e não manifesta nenhuma intenção de modificar as suas leis", acusa.
Preso preventivamente desde março, admite à publicação que “é muito cansativo” estar nas condições em que se encontra. O hacker admite ainda que considera legítimos os debates em que se discute se é um chantagista ou denunciante – que é como se considera –, porém, diz preferir que houvesse um debate sérios e com “informações precisas, que mostrasse a importância do Football Leaks a nível mundial. Tudo o resto são distrações”, acrescenta.