Mais de 90% das escolas portuguesas estiveram encerradas durante o dia de ontem devido à greve nacional dos trabalhadores não docentes, que foi convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS).
Ao SOL, Artur Sequeira, presidente da federação, afirmou que a greve superou as expectativas iniciais, assim tal como os números registados na greve que foi realizada no ano letivo passado pelos mesmos motivos. Para o sindicalista, «o facto de neste ano letivo as coisas terem começado de uma forma um pouco complicada gerou uma onda de greves em várias escolas a nível nacional, com uma declaração clara dos trabalhadores de demonstrar a continuação da sua luta».
Entre as principais reivindicações desta greve constam a luta contra a falta crónica de trabalhadores nas escolas – o sindicalista refere mesmo que «não houve na última legislatura qualquer acréscimo significativo de trabalhadores não docentes nas escolas, ao contrário do que afirma o senhor ministro» -, a revolta para com o processo de municipalização nas escolas, a «dignificação dos trabalhadores e da sua carreira, aumentando também os seus salários» e, por último, a revisão «urgente» da atual portaria de rácios, que «precisa de ser alterada».
Artur Sequeira acrescenta que ao longo do dia de ontem era «difícil encontrar escolas a funcionar nos vários distritos» e que mesmo as que abriram tiveram grandes dificuldades. Segundo este, o distrito de Coimbra teve 60 escolas encerradas, o de Aveiro 21 e no Porto apenas duas abriram, apenas para nomear alguns exemplos.
Pelas 14h, realizou-se ainda uma concentração de dirigentes e delegados sindicais de todo o país, bem como outros ativistas, à frente do Ministério da Educação, com o objetivo de aprovar uma resolução a ser entregue ao ministro Tiago Brandão Rodrigues.
De norte a sul do país foram vários os focos de greves de trabalhadores não docentes, que falaram de um início de ano letivo com muita carga em cima de trabalhadores e até de alunos. Os trabalhadores não docentes assumiram ainda a possibilidade de voltar a fazer greve a qualquer momento se não houver uma resolução dos seus problemas por parte do Ministério da Educação.
Artur Sequeira apontou ainda o dedo a Alexandra Leitão, ministra com a pasta da Administração Pública e que na legislatura passada era a responsável pelas questões administrativas das escolas. Para o presidente da federação, a ministra encontra-se numa «posição privilegiada para assumir uma postura de defesa na resolução deste problema e o Governo não pode ficar quieto perante esta demonstração de descontentamento».
Também Ana Avoila, coordenadora da FNSTFPS, fez um balanço «muito positivo, que corresponde aos objetivos que a greve tem, designadamente [de combate] à falta de pessoal, aos salários baixos e à falta de condições de trabalho, tudo isso, e a que o Governo, tal como na legislatura passada, não respondeu, traçando uma política de continuação de destruição de direitos dos trabalhadores».
Em declarações aos jornalistas, a sindicalista acusou o Governo de não ter «uma única medida que melhore o que tinha na legislatura passada». Considerou ainda que, «pelo contrário, a situação tem vindo mesmo a piorar». Ana Avoila considera que o «Governo tem de tirar ilações» das centenas de escolas que encerraram e reforça que são necessários «seis mil funcionários no mínimo».
«Não queremos uma sociedade de regressão, queremos uma sociedade de evolução e a escola pública que vai educar os nossos filhos, os nossos netos tem de ter condições mínimas e seis mil é para ter as condições mínimas», acrescentou.
Em Benfica (Lisboa), a Escola Secundária José Gomes Ferreira foi uma das muitas que por todo o país não abriram os seus portões nesta sexta-feira. Esta escola tem já 39 anos de existência e nunca antes havia encerrado por completo em qualquer greve docente ou não docente.