Futebol: os misters portugueses à conquista do mundo

Cada vez mais gente pergunta onde está o segredo para este sucesso do treinador português: na sua formação? Na forma do treino? Na preparação dos jogos? 

«O poder simbólico e identitário do futebol não encontra rival nas sociedades modernas».
Elísio Estanque

Nas últimas semanas o futebol português voltou a ser notícia pela positiva e com impacto mediático mundial. 
Pelas vitórias de Jorge Jesus na Taça dos Libertadores e no campeonato brasileiro – Brasileirão – e pela escolha de Cristiano Ronaldo para terceiro melhor jogador do mundo, de Bernardo Silva como nono melhor jogador do mundo e de João Félix como terceiro golden boy da época passada. A somar à conquista do titulo mundial de futebol de praia.
Existe um fio condutor nisto tudo – Portugal, desporto e futebol. Algo que durante décadas foi menosprezado, diabolizado, por vários setores da sociedade portuguesa. Até por titulares de ‘cargos’ políticos, membros atuais de órgãos de soberania e ex-políticos hoje transvestidos de analistas nacionais de comentário regular nos espaços mediáticos. Que agora adoram colar-se às multidões de adeptos e fãs do desporto-rei, sobretudo nos momentos destas e de outras conquistas. 

Num tempo em que as modas são ditadas por aquilo que algumas notícias impõem, é claro e magnânimo que o desporto e o futebol têm sido, são e vão continuar a ser instrumentos não só culturais e sociais mas também económicos relevantes para o nosso país.

E ainda bem que assim é. Porque no mundo global em que vivemos países com a nossa história mas com a nossa dimensão territorial e peso populacional têm de se distinguir pela positiva em atividades como o futebol e o desporto em geral.

Ganhámos o campeonato da Europa de seleções, ganhámos a Liga das Nações, temos o melhor jogador do mundo (quase sempre…), somos o único país do mundo (à frente de países como a Alemanha, a França, o Brasil, a Argentina…) com treinadores nacionais que venceram a Liga dos Campeões africana (Manuel José), a Taça dos Libertadores (Jorge Jesus) e a Champions League (José Mourinho).

Somos um dos países da Europa que mais ‘exportam’ jogadores para os clubes de topo dos principais campeonatos da Europa. Somos dos países que mais treinadores de futebol ‘exportam’ para campeonatos dos vários continentes. Aliás, a esse propósito, temos cerca de 12 mil treinadores com licença para treinar, para serem misters. Nas várias categorias. Sendo justo destacar que as portas do futebol global se abriram definitivamente para os treinadores portugueses com as conquistas de Carlos Queiroz em 1989 e 1991. 

Cada vez mais gente pergunta onde está o segredo para este sucesso do treinador português: na sua formação? Na forma do treino? Na preparação dos jogos? Mas algo de semelhante acontece com os jogadores portugueses. Com Cristiano Ronaldo e Figo, distinguidos como os Melhores Jogadores do Mundo, e outros muito provavelmente a caminho de tal vir a acontecer. A revista Four/Four (inglesa), que identifica os possíveis craques do futuro, referiu vários jovens jogadores nacionais.

O futebol mundial, de clubes e de seleções, está em mudança.
As diferenças entre os clubes muito ricos e os menos ricos são grandes demais. E a UEFA, por exemplo, tem vindo a fazer o caminho certo para acabar com isso. Subsistem vários desafios. Desde o fair play financeiro, a equilibrada distribuição de receitas televisivas, a agenciação de jogadores, os valores das transferências, o novo modelo de competição entre clubes intercontinentais, etc. Acrescem a tudo isto os efeitos do cada vez mais certo Brexit, na maior liga de futebol mundial, onde os responsáveis britânicos querem defender e promover o ‘jogador inglês’.
Ver multidões de pessoas, de quase todas as idades e condições sociais, nas ruas, a endeusar o treinador Jorge Jesus e os jogadores do Flamengo não é uma coisa de somenos importância. Antes pelo contrário. O futebol já é muito mais do que um fenómeno de massas, é um negócio. A ontologia do adepto de futebol é uma realidade. Na condição de adepto de futebol, encontramos várias especificidades. Identidades clubísticas. Paixões incondicionais de tipo clube tribal e paixões racionais de tipo clube cívico. Com alegrias e dramas. Com mobilização onde os mitos e as perceções (mesmo que às vezes contraditórias) mediatizados são o sal e a pimenta para as vidas de muita gente.

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