O assassínio do general Qassem Soleimani, considerado por muitos o segundo homem mais poderoso do Irão – atrás do aiatolá Ali Khamenei e à frente do Presidente Hassan Rouhani –, fica pouco aquém de uma «declaração de guerra» dos Estados Unidos ao Irão, alertou Philip Gordon, que foi coordenador da Administração Obama para o Médio Oriente. As reações não se fizeram esperar, um pouco por todo o mundo, enquanto o preço do barril disparou cerca de 4% esta sexta-feira. «O mundo não se pode dar ao luxo de outra guerra no Golfo», alertou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
«Acordámos com um mundo mais perigoso», lamentou a secretária de Estado francesa para a Europa, Amelie de Montchalin, em declarações à rádio RTL, prometendo que o Presidente Emmanuel Macron iria consultar «todos os atores na região», para tentar acalmar a situação. Uma posição semelhante à do Governo alemão, liderado por Angela Merkel. «Estamos num ponto perigoso de escalada das hostilidades», admitiu a chanceler, cujo Governo se voluntariou como mediador junto de Teerão.
Já o Governo britânico, do primeiro-ministro Boris Johnson, não terá sido avisado antecipadamente do assassínio, segundo a BBC. Isto apesar de estarem estacionados no Iraque cerca de 400 soldados britânicos, que poderão ficar expostos às retaliações das milícias xiitas, apoiadas pelo Irão.
«Conflito adicional não é do nosso interesse», assegurou o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, reconhecendo contudo «a ameaça agressiva das Forças Quds, lideradas por Qassem Soleimani». Quanto ao primeiro-ministro interino israelita, Benjamin Netanyahu, deixou o recado: «Como Israel tem o direito de auto-defesa, os EUA têm exatamente o mesmo direito».
Do polo geopolítico oposto, não param de chegar votos de condolências e condenações do ataque norte-americano. «Foi um passo aventureiro que vai aumentar as tensões em toda a região», declarou o ministério dos Negócios Estrangeiros russo. «Pedimos a todas partes relevantes, especialmente os EUA, que mantenham a calma», declarou um porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
Petróleo
Entre todos os possíveis alvos de retaliação de Teerão, um dos mais frágeis e sensíveis é o estreito de Ormuz, na costa sudeste do Irão, com menos de 34 quilómetros de largura no seu ponto mais estreito – por onde passa cerca de um quinto do crude mundial. «O ponto de estrangulamento mais importante do mundo», descreveu a agência energética dos Estados Unidos, que enviaram recentemente uma missão naval para estas águas, em paralelo com uma missão liderada por França – já a China e a Rússia juntaram-se recentemente ao Irão no Golfo de Omã, mesmo ali ao lado.
Afinal, trata-se de uma das grandes vias de acesso ao petróleo de grandes produtores como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (UAE), os grandes rivais regionais do Irão e aliados dos EUA. «O bloqueio do estreito pode paralisar o mercado global de petróleo», alertou em comunicado André Pires, analista da XTB. Recorde que em setembro, após um ataque com mísseis e drones contra as principais instalações da Aramco, a empresa petrolífera saudita, houve uma subida de cerca 15% no preço do barril em apenas um dia.