Foi por uma curta margem. Mas, como defendem muitos adeptos de futebol, o que interessa é o resultado no final do jogo. Rui Rio venceu este fim de semana a segunda volta das diretas do PSD, com 53,11% (16420 votos). Diz que não consegue “fazer milagres”, mas que tudo fará para manter a união no partido. Resta saber se os restantes militantes (46,89%) que votaram em Luís Montenegro apoiarão Rio neste novo ciclo, que terá inúmeros desafios.
No total do país, Rio ficou à frente em 12 distritos e Montenegro em 10. Na primeira volta, o líder do PSD tinha vencido em 13 e o antigo líder parlamentar em seis, com Pinto Luz a vencer em três. Além de ter conseguido conquistar as duas distritais que tinham sido de Pinto Luz – Lisboa e Setúbal -, Montenegro venceu em Braga, Castelo Branco, Coimbra, Leiria, Lisboa Área Oeste e Viseu, ‘roubou’ Portalegre a Rui Rio e conquistou os votos dos quatro militantes que votaram fora da Europa. Já Rui Rio voltou a vencer no Porto, Aveiro, Açores, Beja, Bragança, Évora, Europa, Faro, Guarda, Santarém, Viana do Castelo e Vila Real.
Foi uma distância de menos de 2000 votos – a mais curta de sempre entre os dois primeiros candidatos em eleições diretas no PSD -, mas suficiente para dar a vitória a Rio. Até agora, o resultado mais próximo entre dois candidatos tinha sido registado em 2008, quando Manuela Ferreira Leite venceu Pedro Passos Coelho por uma diferença de cerca de 3000 votos.
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Apesar da corrida renhida, Rio não vê o PSD como um partido fraturado. No discurso de vitória, o líder social-democrata disse que “conta com todos” os que queiram trabalhar “com estabilidade e lealdade”, realçando que houve “um momento para se marcar as diferenças”, mas para o PSD chegou agora ao momento “para marcar a unidade” dentro do partido. “Encaro esta vitória com satisfação, orgulho e, acima de tudo, com sentido de responsabilidade. Fez hoje um ano que o Conselho Nacional do PSD votou pela estabilidade, ao votar contra a minha destituição. Hoje, os militantes do PSD voltaram a votar pela estabilidade ao votar pela manutenção da atual liderança”, frisou Rui Rio. “Mas uma coisa é querer a unidade e dar passos nesse sentido. Outra coisa é os outros quererem. Aí já não consigo fazer milagres”, acrescentou.
Morte política? Já Luís Montenegro defendeu a importância de ter um PSD em “paz e tranquilidade” e que é responsabilidade de todos “contribuir para acabar com uma cultura de fação, de divisões insustentáveis e agressividades intoleráveis”. “Esta unidade começa precisamente na liderança e no líder, quero desejar que Rui Rio tenha a capacidade de devolver esta unidade ao nosso PSD”, afirmou o ex-líder parlamentar.
Quanto ao futuro, diz não ser político de profissão, mas isso não quer dizer que a sua missão tenha chegado ao fim: “Não vale a pena anunciarem a minha morte política, creio que essa notícia é manifestamente exagerada”.
Próximos desafios Agora é tempo de arregaçar as mangas e começar a trabalhar. Até porque Rui Rio tem muitos desafios pela frente. O mais imediato é o Orçamento do Estado para este ano: Rio tem cerca de uma semana para coordenar a apresentação de propostas de alteração ao documento, um trabalho que já tinha arrancado durante a campanha interna. Uma das medidas que os sociais-democratas não descartam é a redução do IVA para a eletricidade, que deverá dar ‘pano para mangas’ na discussão do Orçamento.
Outro desafio político que vai dar bastante trabalho ao PSD são as eleições autárquicas de 2021. No final do ano passado, Rui Rio pediu um “reforço fortíssimo” nestas eleições, lembrando que em 2017, além de ter perdido câmaras, o PSD perdeu “muitos vereadores”, uma situação que deve ser invertida no próximo sufrágio: “Se o PSD não recupera desta situação, corre o risco de ver muito diminuída aquela que é a sua real implementação no terreno. Ninguém acredita, a não ser por demagogia, que em 2021 vamos conseguir subir para o patamar que estávamos em 2005. É impossível (..), mas é bom que se consiga subir”.
No que diz respeito a questões internas, Rio já tinha anunciado que, quer ganhasse ou perdesse, iria abandonar a liderança da bancada parlamentar do partido. Ora, no próximo congresso, que se realiza nos dias 7,8, e 9 de fevereiro, deverá ser discutida nova direção da bancada, que, além do presidente, é composta por seis vice-presidentes: Adão Silva, Carlos Peixoto, Luís Leite Ramos, Clara Marques Mendes, Ricardo Baptista Leite e Afonso Oliveira. No congresso, que se realiza em Viana do Castelo, também deverá ser debatida a direção do partido, que é composta não só pelo presidente (Rui Rio), mas também por seis vice-presidentes (David Justino, Elina Fraga, Isabel Meirelles, José Manuel Bolieiro, Nuno Morais Sarmento e Salvador Malheiro) e um secretário-geral (José Silvano).