Em desafio à proibição de sair do país, o autoproclamado Presidente da Venezuela, Juan Guaidó, partiu em viagem para arrecadar apoios internacionais para depor o Governo de Nicolás Maduro. Guaidó irá a Davos, Suíça, na esperança de se encontrar com o Presidente dos Estados Unidos, no Fórum Económico Mundial, avança o Washington Post. Na quarta-feira, o líder da oposição venezuelana será recebido pelo chefe da diplomacia europeia, Josep Borrel, em Bruxelas.
É a segunda vez que Guaidó viola a proibição de sair da Venezuela, imposta por um tribunal do país na sequência da autoproclamação como Presidente, a 23 de janeiro de 2019. A última vez que o tinha feito foi em fevereiro do ano passado.
Na Colômbia, Guaidó foi recebido pelo Presidente do país, Iván Duque, este domingo. E teve direito a honras oficiais dignas de um chefe de Estado. Segundo o Presidente colombiano, discutiram a importância de restabelecer a democracia na Venezuela, assim como medidas para ajudar quem foge do país devido à crise político-económica que se arrasta há alguns anos. Crise esta que levou cerca de 4,8 milhões de venezuelanos a sair dos seus lares desde 2016, segundo dados das Nações Unidas (1,6 milhões dos quais para a Colômbia).
Numa publicação no Twitter, Guaidó agradeceu o apoio de Iván Duque e disse que a viagem ia “gerar condições” para a liberdade no país. “Asseguro-vos que o meu retorno ao nosso país será cheio de boas notícias”, acrescentou.
Esta segunda-feira, Guaidó esteve com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, em Bogotá, no contexto de uma conferência regional de terrorismo, que juntou vários ministros dos Negócios Estrangeiros da América Latina. “A Venezuela é um estado falhado”, disse Pompeo aos repórteres depois do encontro com o líder da oposição venezuelana, reiterando que os EUA estão a trabalhar com os seus aliados para depor Maduro.
“Ouvi esta ideia de que subestimámos Maduro. O que está a ser subestimado é o desejo de liberdade presente nos corações do povo venezuelano”, declarou Pompeo, acrescentando: “Estamos coletivamente – os europeus, outros países da América do Sul e os EUA – determinados a entregar esse resultado ao povo da Venezuela”.
Embora a Casa Branca ainda não tenha confirmado o encontro entre Guaidó e Trump, o Washington Post diz que este poderá ser “essencial” para o movimento para depor Maduro. O outro objetivo do autoproclamado Presidente, que tem o apoio de mais de 50 países, é convencer os países europeus a aumentar a pressão contra o Governo.
A saída de Guaidó do país levanta dúvidas sobre o seu futuro, podendo acabar na prisão devido ao incumprimento da proibição de sair da Venezuela. “Há dois cenários”, disse ao Washington Post uma fonte anónima envolvida na estratégia da oposição. “Uma é ele [Guaidó] retornar e manter a sua liberdade de movimento. Ou retorna e será preso. Mas ele irá retornar e o regime ficará num dilema”. No caso de Guaidó ser preso, pode-se esperar mais sanções norte-americanas.
Numa entrevista publicada no passado sábado no Washington Post, Maduro sugeriu que, neste momento, estava em vantagem sobre o esforço – apoiado pelos EUA – para o remover do cargo. Admitiu, porém, que estava na hora de iniciar conversações diretas com Washington.
No início deste mês, Guaidó foi impedido por militares de entrar na Assembleia Nacional, da qual foi eleito presidente interino depois de se auto-proclamar, no dia da votação para escolher o novo líder da câmara venezuelana. Impedido de entrar, Guiadó apelou aos deputados seus apoiantes para que não entrassem. Na sua ausência, e por arrasto dos restantes congressistas da oposição, o deputado da oposição Luis Parra foi nomeado presidente da Assembleia Nacional, depois de se aliar aos parlamentares aliados de Maduro.