Dois chefes de Governo acusados de corrupção e que enfrentam eleições este ano apresentaram em conjunto, esta terça-feira, um plano para o chamado conflito israelo-palestiniano, em Washington. Os Estados Unidos entregam quase tudo a Israel e dão uma soberania limitada ao Estado palestiniano – o que é referido como uma solução a dois Estados. Donald Trump, Presidente dos EUA, e Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, anunciaram “o acordo do século”, como qualificou o chefe da Casa Branca.
Os maiores colonatos israelitas nos territórios ocupados na Faixa Ocidental permanecerão sob a tutela de Israel, algo que tem provocado a ira de muitos palestinianos, e o plano confirma também o controlo israelita de toda a Jerusalém como a capital do país.
“Francamente, senhor Presidente, dado o que já fez por Israel”, disse em conferência de imprensa Netanyahu, referindo-se a Trump, “tem sido o melhor amigo que Israel alguma vez teve na Casa Branca”. “Embora tenhamos tido grandes amigos aqui dentro… não estão nem perto [da amizade de Trump]”.
Quase três anos a ser desenvolvido, e supervisionado pelo genro de Trump, Jared Kushner, o plano prevê também que Israel retenha o controlo de toda a área a oeste do rio Jordão, dando ao país uma fronteira permanente a leste, algo há muito desejado por Telavive, como o próprio Netanyahu assinalou.
O reconhecimento norte-americano de uma mudança tão brusca das fronteiras marca uma forte viragem na abordagem ao problema por parte de Washington, quando antes apoiava apenas pequenas alterações às fronteiras do armistício de 1967 – Trump já tinha reconhecido os montes Golã como território de Israel.
Para os palestinianos, Trump reserva 50 mil milhões de dólares (mais de 45 mil milhões de euros) de financiamento internacional para a criação de uma nova entidade palestiniana, prometendo também abrir uma embaixada norte-americana nesse novo Estado. “A minha visão é uma oportunidade em que ambas as partes ficam a ganhar”, alegou o chefe da Casa Branca, embora os líderes palestinianos tenham rejeitado a proposta – em cujas negociações não tomaram parte – antes do seu anúncio.
O anúncio desta proposta está a ser vista pela imprensa internacional como uma forma de distração da atualidade política, pois tanto Trump como Netanyahu enfrentam acusações de corrupção – está a decorrer o julgamento no Senado no âmbito do processo de destituição do chefe da Casa Branca – e vão a eleições este ano. No caso de Netanyahu, será a terceira vez consecutiva no espaço de um ano.
Acusações a Netanyahu
Em Washington, e poucas horas depois de ter retirado o pedido de imunidade ao Parlamento, o primeiro-ministro israelita foi formalmente acusado pelo Ministério Público em três casos de corrupção, lançando um julgamento há muito esperado. “Bibi” diz ser vítima de uma perseguição “pessoal”.
O Knesset, Parlamento israelita, ia reunir-se esta terça-feira para discutir o pedido de Netanyahu. Num texto publicado no Facebook onde anunciou a retirada do pedido de imunidade, o primeiro-ministro queixou-se de que o Knesset iria abrir mais um “espetáculo de circo” numa “hora fatal para o povo de Israel”, já que se encontrava nos Estados Unidos para “definir as fronteiras permanentes de Israel” para garantir a “segurança” do país. “Isto está de acordo com a campanha de perseguição que o campo ‘tudo menos Bibi’ promoveu”, continuou. Netanyahu é acusado de suborno e abuso de confiança.