Reino Unido discute como lidar com condenados por terrorismo

Sudesh Amman feriu duas pessoas com uma faca mal foi libertado, após ser condenado por propaganda terrorista. É o segundo ataque do género em meses.

Em pouco mais de dois meses, Londres enfrentou o segundo ataque com uma faca cometido por homens recentemente libertados, após serem condenados por crimes relacionados com o terrorismo. ”Temos mais de 200 pessoas condenadas por terrorismo em prisões”, disse à Sky News o presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan – outros 245 foram libertados nos últimos sete anos. “O que estamos a fazer para garantir que são punidos e reabilitados, em vez de radicalizados?”, questionou. “Acabar com o sistema de libertação antecipada automática”, aplicado no caso do atacante de domingo, Sudesh Amman, é a resposta do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Mas teme-se que o sistema penal britânico, sujeito a cortes orçamentais, não esteja equipado para reabilitar este tipo de delinquentes – e que a extensão das penas só adie o problema.

 O caso de Amman, de 20 anos, abatido a tiro pela polícia no bairro de Streatham, após ferir duas pessoas à facada enquanto envergava um colete suicida falso, é particularmente complicado. Amman chamou a atenção das autoridades pela primeira vez em abril de 2018, quando o relacionaram com uma conta no Telegram onde partilhava conteúdo extremista e fotos de pistolas e facas, sob o nome de utilizador @strangertothisworld (estranho a este mundo, em português). O desejo de Amman de martírio em nome do Estado Islâmico (ISIS em inglês) – que já reivindicou o ataque – rapidamente ficou claro. A análise aos seus dispositivos eletrónicos mostrou que, desde os 17 anos, Amman partilhava vídeos de atos de violência do ISIS, além de estar na posse de manuais de combate com facas e construção de bombas caseiras.

“Muito do seu fascínio por conduzir um ataque focava-se em usar uma faca, mas também foi feita referência a cometer ataques com ácido a partir de uma mota”, lê-se nos documentos do Ministério Público, segundo o Telegraph. Numa mensagem no WhatsApp ao irmão, Amman sugeriu que as yazidis – uma minoria religiosa iraquiana cujos homens foram massacrados e mulheres e crianças escravizadas pelo ISIS – podiam ser violadas sem quebrar a lei islâmica, por serem escravas.

O jovem, então com 18 anos, foi condenado a três anos e quatro meses de prisão efetiva, mas serviu apenas metade dela, tendo em conta o tempo de prisão preventiva. “Ele estava a ver e ouvir coisas online que lhe fizeram uma lavagem cerebral”, contou à Sky News a mãe, Haleema Faraz Khan, acrescentando que durante o confinamento na prisão de alta segurança de Belmarsh, o filho “tornou-se mais religioso”. O ataque à facada ocorreu um mês depois de Amman ser libertado, e o jovem foi rapidamente abatido pelos dois polícias à paisana que o vigiavam, armados – uma raridade entre polícias britânicos. 

 

Discussão “Não podemos dar-nos ao luxo de ter 30 ou 40 agentes a vigiar todos os que são libertados da prisão”, notou o presidente da Câmara de Londres, assegurando que “as prisões estão no limite”. Aliás, as libertações antecipadas automáticas, como a de Amman, foram introduzidas para evitar a sobrepopulação prisional. O presidente da câmara exigiu medidas para que as prisões não sejam “universidades do crime” e um foco de radicalização.

Perante os jornalistas, Johnson prometeu a aplicação retroativa do fim das libertações antecipadas e salientou as dificuldades em desradicalizar extremistas islâmicos: “Acontece, mas os casos de sucesso são muito, muito poucos”. Já Sadiq Khan deixou críticas ao primeiro-ministro pela “falta de avanços” quanto ao fim da libertação antecipada automática para suspeitos de terrorismo, lembrando que Johnson já tinha prometido isso após o ataque de novembro.