O projeto da linha circular do Metro de Lisboa foi ontem suspenso no Parlamento, durante a votação do Orçamento do Estado (OE) para 2020. A proposta do PAN e do PCP contou com os votos a favor do PSD, BE e Chega, mas o PS opôs-se, com a presidente do Grupo Parlamentar do partido, Ana Catarina Mendes, a acusar o PSD de “tremenda irresponsabilidade” por apoiar propostas de alteração ao Orçamento.
“Esta medida causa prejuízos para lá de 100 milhões de euros”, sublinhou, em conferência de imprensa, adiantando também que o PS vai pedir junto do Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva se estas propostas de alteração ao OE forem aprovadas. “Estamos a falar de uma obra cara, linhas de metro que têm concursos abertos, obras que estão a decorrer, com fundos comunitários que a comparticipam. É muito dinheiro”, resumiu Ana Catarina Mendes, corroborada pelo ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes.
“A ser votada assim, é uma total irresponsabilidade, porque não estamos a falar de suspender os trabalhos por um ano. Estamos a falar de suspender os trabalhos por pelo menos três anos”, disse, salientando que serão perdidos fundos comunitários na ordem dos 83 milhões de euros e concluindo que se trata de uma “interferência inaceitável naquilo que é a esfera executiva do Governo e do Metro de Lisboa”. Além disso, o ministro do Ambiente sublinhou que quem fica a perder é quem mora em Lisboa e quem se dirige todos os dias à capital para trabalhar.
O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, também apontou o dedo ao PSD e sublinhou que o partido foi o responsável pelas consequências da suspensão da construção da linha circular. “Os senhores vão ser responsáveis pela perda de fundos comunitários e por pagar indemnizações aos empreiteiros”, sublinhou, explicando que o projeto já está em curso. “Do PSD esperávamos um pouco mais”, rematou, indicando ainda que a suspensão do processo arrisca a perda de “centenas de milhões de euros”.
A linha circular prende-se essencialmente com o alargamento da linha vermelha, entre São Sebastião e Alcântara, e a construção das estações de Estrela e Santos, ligando o Rato ao Cais do Sodré. Segundo a proposta do PCP, a prioridade atualmente é a extensão da rede do Metro até Loures, bem como para Alcântara e zona ocidental de Lisboa.
Chantagens do Governo O ex-vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa, Fernando Nunes da Silva, contou ao i que espera que os partidos não cedam às chantagens do Governo. “Avançaram com uma chantagem na Assembleia da República”, começou por dizer. “Não podemos assistir a decisões estratégicas alteradas em função de projetos”, referiu ainda.
Já Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, considera a suspensão uma decisão “gravíssima”. “Adiará por muitos anos a expansão do Metro”, disse, citado pela Lusa.