Vídeo chocante mostra homem negro forçado a inalar fumo do tubo de escape

PSP garante estar já a investigar se o vídeo é verdadeiro ou não e o contexto em que tudo terá acontecido. Contactada ontem pelo i, a Procuradoria-geral da República ficou em silêncio sobre se pondera ou não abrir um inquérito.

O país ainda estava mergulhado na discussão sobre os insultos racistas de que foi alvo o jogado do FC Porto Moussa Marega, quando um vídeo aterrador começou a circular nas redes sociais, deixando claro que o racismo está longe de se esgotar na imitação de um macaco durante um jogo de futebol. E quer estas imagens sejam verdadeiras, quer sejam uma montagem – cenário que para já a PSP não exclui – os responsáveis podem ter de responder em tribunal.

No vídeo pode ver-se um grupo de homens brancos a agarrar a cabeça de um homem preto, que está de joelhos, e a forçá-lo a respirar o fumo que sai de um tubo de escape de um carro em aceleração. O automóvel tem matrícula portuguesa (começa por 23-25) e o episódio terá acontecido depois dos incidentes do último domingo no Estádio D. Afonso Henriques, Guimarães. Enquanto a cabeça do homem é encostada ao tubo de escape ouvem-se gargalhadas e gritos de incentivo ao condutor para que este carregue no acelerador: “Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe!”

Instantes depois de a cabeça desaparecer no meio da bola de fumo negro, o homem, meio atordoado, desequilibra-se e cai no chão. Nessa altura, no meio de muitas gargalhadas, um dos elementos do grupo puxa-o pelo braço, chamando-lhe “Marega”.

Este é, aliás, o fator que leva as autoridades a acreditarem que tudo aconteceu já após a vitória do FC Porto em Guimarães.

Enquanto humilhava o homem, o grupo filmava tudo e com mais do que um telemóvel – na gravação a que o i teve acesso era possível ver que havia pelo menos mais um telemóvel a registar o momento.

Questionada ontem pelo i, fonte oficial da PSP disse estar a investigar o local e o contexto em que tudo terá acontecido, não excluindo para já a hipótese de ser tratar de uma brincadeira mal conseguida ou de uma montagem.

Já a Procuradoria-Geral da República, questionada ontem à tarde sobre se vai abrir inquérito, não enviou qualquer resposta.

Vídeo “absolutamente nojento” Estas imagens terão circulado primeiramente em grupos restritos do Facebook, tendo mais tarde ganho dimensão quando várias entidades e o humorista Rui Unas decidiram comentá-las nas suas páginas.

“Vi um vídeo absolutamente nojento. Desejo que seja montagem, mas a matrícula é portuguesa e parece-me legítimo. Não o vou colocar aqui. Não tenho dúvidas que será viral em breve e será alvo de muita polémica. Acredito que Portugal não é um país racista. É um país com racistas, demasiados, que precisam de ser denunciados e punidos pelos seus atos racistas”, começou por referir Unas.

O humorista deixou ainda um apelo: “Que este vídeo não sirva para incentivar mais ódios raciais de parte a parte. Que sirva para encontrar estes… (não tenho adjetivos para os descrever) que fizeram isto. Eles representam uma ínfima, insignificante e vergonhosa parte dos portugueses que precisam de ser identificados e punidos”.

A concluir reforçou ainda ter ficado chocado com a gravidade das imagens: “Estou, no entanto, muito, muito chocado… pensei que isto não acontecia em Portugal. Acontece e é preciso que se saiba”.

 

Mamadou Ba pede punição “severa” para responsáveis

Também através do Facebook, Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, reagiu, sem partilhar o vídeo, mas descrevendo a violência das imagens: “O jovem ficou com a cara toda coberta com cinza preta e foi sendo chamado por Marega pelos agressores (uma clara alusão ao racismo de que este foi recentemente alvo) ao som de gargalhadas, enquanto decorria a agressão”.

Mamadou Ba afirma igualmente que a matricula do veiculo é visível no vídeo, pelo que as autoridades podem “facilmente identificar os criminosos que devem ser severamente punidos pelos seus atos”.

“Por ser um aviltante atentado à dignidade, não vou partilhar o vídeo sem o consentimento da vítima. Independentemente das circunstâncias e da identidade dos criminosos, o caráter sádico e aviltante, com requintes de tortura, não pode ficar impune, sejam quem forem os criminosos”, conclui o dirigente do SOS Racismo.