O presidente do Chega, André Ventura, pediu uma audiência ao Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, estando a mesma prevista para sexta-feira passada, dia 21, no rescaldo do debate parlamentar sobre a eutanásia. O Chega, recorde-se, é a favor do referendo e contra a despenalização, uma versão comungada pela Igreja. Mas a audiência foi cancelada, facto confirmado ao SOL tanto pelo também deputado como pelo Patriarcado de Lisboa. Problema? O parlamentar confessou ao SOL que o Patriarcado lhe terá comunicado que não teria nova data disponível.
Mas a versão oficial do gabinete de D. Manuel Clemente é diferente. «Na data em que essa informação foi comunicada à assessoria do senhor deputado, ficou acordado que se marcaria nova data para a realização da mesma e já foram feitas diligências nesse sentido», respondeu por escrito o Patriarcado de Lisboa ao SOL.
Ora, segundo algumas fontes confidenciaram ao SOL, o cancelamento da audiência coincidiu com a polémica gerada em torno das posições de Ventura sobre o caso de insultos racistas contra um jogador de futebol do F.C. Porto – Moussa Marega- na partida de futebol entre o FC Porto e o Vitória de Guimarães. O caso marcou a agenda política dos primeiros dias desta semana.
O Patriarcado desmente, contudo, que o cancelamento da audiência tenha resultado desta polémica. «A audiência prevista para hoje [ontem], 21 de fevereiro, foi adiada, exclusivamente por motivos de agenda do Senhor Cardeal-Patriarca. Em nada esteve relacionado com o motivo que refere», acrescenta-se numa resposta oficial enviada ao SOL.
Mas Ventura ficou incomodado com o cancelamento do encontro. «É verdade que o Cardeal Patriarca de Lisboa me iria receber no dia seguinte à votação da eutanásia e cancelou. Tinha também a intenção de dar os meus cumprimentos enquanto futuro candidato presidencial. O patriarcado cancelou inesperadamente o encontro e alegou não ter nova data disponível», desabafou ao SOL, o parlamentar. Mais, André Ventura até fez uma confissão: «É um dos episódios mais tristes da minha vida política, escrevi (…) uma carta ao Patriarca onde expresso a minha desilusão pelo facto de a Igreja ter cedido ao politicamente correto e aos poderes instituídos», acrescentou o líder do Chega.
Logo após o jogo entre o FC Porto e o Vitória de Guimarães- em que o jogador insultado abandonou o relvado por insultos racistas-, Ventura fez vários comentários na rede social Facebook sobre o momento que marcou, parcialmente, a semana política. «País de hipocrisia em que tudo é racismo e tudo merece imediatamente uma chuva de lamentos e de análises histórico-megalómanas. O nosso problema não é o racismo. É a hipocrisia. É o síndrome Joacine que começa a invadir as mentalidades. Por mim não passarão», começou por escrever Ventura, num primeiro comentário ao incidente na rede social Facebook. Depois de ter sido duramente criticado, o parlamentar voltou a responder: «Sei que o politicamente correto domina a mentalidade prevalecente e a grande comunicação pública. Nunca me deixei nem deixarei ficar refém disso». Mais à frente, reagindo ao comentário solidário do primeiro-ministro com Marega – no Twitter- acusou-o de hipocrisia. «Era a esta hipocrisia que me referia. O Primeiro-Ministro solidariza-se imediatamente com o jogador de futebol, mas nunca o vimos fazer isto relativamente aos polícias, aos professores ou aos médicos agredidos, insultados e humilhados todos os dias», escreveu.
No debate quinzenal desta semana, António Costa não perdoou:« Estranho que, depois de andar dois dias a dizer que eu era hipócrita, agora chegue aqui, cara a cara, e nada diga sobre isso». Foi desta forma que Costa respondeu a uma acusação de Ventura sobre a falta de pagamento da luz à GNR e à divulgação das respostas de Costa sobre o caso de Tancos. O debate tinha chegado ao fim e Ventura também já não teve tempo para responder.