Houve fortes protestos contra a construção de novos campos de detenção de migrantes nas ilhas gregas de Lesbos e Chios, esta terça-feira. Manifestantes, que exigem que os migrantes que chegam às ilhas sejam relocalizados na Grécia continental, tentaram impedir a chegada de máquinas de construção e da polícia de choque. As autoridades dispararam gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, levando à hospitalização de pelo menos três pessoas, por inalação excessiva do gás. Os manifestantes queimaram contentores e usaram camiões do lixo para bloquear a área do porto de Lesbos, onde atracaram os ferries alugados pelo Governo conservador do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis.
O Governo grego foi forçado a avançar com a construção de mais campos de detenção pela sobrelotação dos atuais, em ilhas onde chegaram quase 60 mil migrantes nos último ano. Pelo menos 24 mil pessoas, incluindo mulheres e crianças, vivem nos campos de Lesbos e Chios, em condições denunciadas como desumanas nos últimos meses por várias organizações não governamentais.
“Crianças mordidas por escorpiões, ratos e cobras. Centenas de pessoas a usar o mesmo chuveiro. O cheiro a excrementos nunca está longe e a escassez de alimentos está a tornar-se norma”, descreveu ao Guardian Sophie McCann, dos Médicos Sem Fronteiras. “O nível de sofrimento humano é indescritível”, assegurou. Vários voluntários contaram à Al Jazira que a tensão com os habitantes locais tem escalado: falam em ameaças e intimidação. “A raiva está a vencer”, lamentou um deles, que se manteve anónimo.
Já o Governo grego mostrou-se compreensivo com os habitantes de Lesbos e Chios descontentes, que na terça-feira à tarde continuavam a protestar. “Compreendemos que há um problema de confiança que foi criado nos últimos anos”, disse às televisões gregas o porta-voz do Governo, Stelios Petsas. “Mas as instalações de detenção vão ser construídas”, salientou.