Economia portuguesa supera expectativas e cresce 2,2% em 2019

Economia portuguesa cresceu 2,2% no ano passado, superando as estimativas do Governo que apontava para um aumento de 1,9% e das entidades internacionais.  

O Instituto Nacional de Estatística (INE) reviu em alta o crescimento do produto interno bruto (PIB) português de 2% para 2,2% em 2019. Apesar deste valor ficar aquém dos 2,6% registados em 2018, acaba por ficar acima da previsão de 1,9% do Governo e de todas as entidades internacionais. Esta revisão em alta deve-se «sobretudo à incorporação de nova informação da balança de pagamentos», diz o gabinete de estatísticas, o que implicou uma reavaliação da balança de serviços de 511,8 milhões de euros no ano de 2018 e de 873,1 milhões de euros nos meses de janeiro a novembro de 2019. 

Para o ministério de Mário Centeno não há dúvidas: «Os dados revistos hoje pelo INE permitem concluir pela robustez e pela sustentabilidade do crescimento da economia portuguesa, que, pelo quarto ano consecutivo, converge com a zona euro», acrescentando que «os últimos quatro anos são marcados por uma significativa criação de emprego, pelo aumento do investimento, pelo equilíbrio orçamental das administrações públicas, em paralelo com um importante esforço de investimento na capacidade e nos profissionais dos serviços públicos, em particular na saúde e na educação, e pelo saldo externo positivo».  

Mas as alterações não ficam por aqui. Esta nova informação implicou também uma revisão em alta de 0,2 pontos percentuais da variação em volume do PIB em 2019, divulgada na estimativa rápida para o 4º trimestre e terá  crescido 0,7% face ao trimestre anterior. O ministério de Mário Centeno lembra que este aumento foi «sustentado sobretudo num robusto crescimento das exportações de bens e serviços de 6,3%, em termos homólogos. Estes dados desenham uma boa perspetiva para o ano em curso». 

Uma revisão que «resulta de alterações metodológicas e incorporação de mais informação nos cálculos, no sentido de tornar o PIB mais comparável com os dados  europeus», diz ao SOL, o analista da XTB. No entanto, André Pires lembra que o  «prolongamento do impacto do coronavírus nos mercados e na economia poderá pôr em risco essas previsões». Uma opinião partilhada por Pedro Amorim da Infinox ao admitir que «este ano vai ser particularmente difícil devido às ameaças de recessão mundial. As cotações das matérias primas caem como uma pedra assim como as ações». (ver página 23)

Em termos nominais (ótica que incorpora a variação dos preços), o PIB aumentou 3,9% (4,3% em 2018), tendo atingido os 212,3 mil milhões de euros, disse o INE.

Procura abranda face a 2018

A procura interna registou um crescimento de 2,8% em termos reais (3,1% no ano anterior), mas passou de um contributo de 3,1 pontos percentuais em 2018 para 2,7 pontos percentuais, «refletindo a desaceleração do consumo privado». E apesar do consumo privado ter aumentado 2,3% em 2019, desacelerando em relação aos 2,9% verificados em 2018. 

A explicar o menor consumo das famílias está a «diminuição das despesas com a aquisição de veículos automóveis», com a componente de bens de duradouros a travar dos 6,1% em 2018 para 0,8% em 2019.

De acordo com Pedro Amorim, «a queda da confiança dos consumidores devido à questão da instabilidade internacional e questões do Coronavírus levaram a que a confiança diminuísse e a taxa de poupança aumentasse».

Exportações desaceleram

Também a procura externa líquida apresentou um contributo mais negativo (menos 0,6 pontos percentuais) relativamente ao registado em 2018 (menos 0,4 pontos percentuais). As exportações de bens e serviços desaceleraram de 4,5% em 2018 para 3,7% em 2019, enquanto o ritmo de crescimento das importações de bens e serviços abrandou de 5,7% em 2018 para 5,2% no ano passado.

E a ‘culpa’ pela queda das exportações deve-se à componente de serviços, onde o turismo é um dos pesos pesados desta rubrica. Apesar de ter subido 3,8% ficou muito aquém do aumento de 6,3% registado em 2018.

Quanto às importações de bens e serviços, aumentaram 5,2% em 2019, o que compara com 5,7% em 2018. As importações de bens abrandaram, com um incremento de 4,5% (menos 1,2 pontos percentuais do que em 2018), enquanto as importações de serviços ganharam força, subindo 8,6% (5,9% em 2018).

Investimento sobe

Já o investimento aumentou 6,5% (tinha crescido 6,2% em 2018), refletindo a aceleração dos investimentos duradouros das empresas para 6,4% (5,8% no ano anterior). Uma aceleração que, segundo o INE, reflete «a aceleração da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) para uma taxa de variação de 6,4% (5,8% no ano precedente)».

Um comportamento que, de acordo com Pedro Amorin, é natural. «O consumo apesar de ter abrandado, o investimento acelerou como se tinha vindo a antecipar. A aceleração da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) para uma taxa de variação de 6,4%», refere ao SOL.

Desemprego também revisto

Também a taxa de desemprego foi revista em baixa em dezembro de 2019 para  6,7%, no entanto «superior em 0,2 pontos percentuais ao de três meses antes e em 0,1 pontos percentuais ao do mesmo mês de 2018», diz o INE. Comparando com o mês precedente, acrescenta o INE, a população desempregada aumentou 1,3 mil pessoas (0,4%) e a população empregada diminuiu 9,4 mil pessoas (0,2%).

Mas para janeiro, o gabinete de estatística, aponta para uma estimativa provisória da taxa de desemprego de 6,9%, o que representa um aumento de 0,2 pontos percentuais em relação ao mês anterior. «Deve-se a uma revisão ligeira sem qualquer impacto e sinal de alarme na tendência que se tem vindo a registar», afirma Pedro Amorim. 

A população desempregada – cuja estimativa provisória foi de 358,6 mil pessoas – registou um acréscimo de 2,6% (9,2 mil) em relação ao mês anterior (dezembro de 2019), de 6,1% (20,7 mil) relativamente a três meses antes (outubro de 2019) e de 5,4% (18,2 mil) por comparação com o mês homólogo de 2019.

A taxa de desemprego dos jovens foi estimada em 19,3%, o que representa uma subida de 0,7 pontos percentuais em relação a dezembro. Por sua vez, a taxa de desemprego dos adultos foi estimada em 5,9%, o que corresponde a um aumento de 0,1 pontos percentuais relativamente a dezembro.