Depois de um primeiro adiamento, o Caso Jogo Duplo, como ficou denominado o processo relacionado com viciação de resultados no futebol profissional português na época 2015/16, conheceu ontem o acórdão do julgamento no Tribunal Central Criminal de Lisboa, no Campus da Justiça.
Acusado de um crime de corrupção ativa, o Leixões (atual 11.º classificado da II liga) foi afastado do futebol profissional nos próximos dois anos, uma vez que foi condenado a dois anos de proibição de participar na I e II ligas de futebol, além de ter sido também multado em 60 mil euros.
O Ministério Público (MP) defendeu ainda penas efetivas para cinco dos 27 arguidos: Carlos Silva, conhecido como ‘Aranha’, elemento da claque Super Dragões (seis anos e nove meses de prisão); o empresário de futebol Gustavo Oliveira (seis anos e meio, além de ficar impedido de exercer funções de treinador nos próximos três anos); e os antigos jogadores de futebol Rui Dolores (cinco anos e meio de prisão), Hugo Guedes (cinco anos e nove meses) e João Tiago Rodrigues (cinco anos e dois meses). Para o MP, ficou ainda provado que Carlos Silva, Gustavo Oliveira e Rui Dolores, era o trio que formava «a cúpula da organização criminosa» em Portugal. Os três arguidos eram os responsáveis por manter os «contactos com os investidores malaios, que traziam o dinheiro para Portugal», tendo em vista a obtenção de lucros com «apostas fraudulentas e manipulação de resultados».
Os restantes arguidos, entre os quais Abel Silva, antigo jogador do Benfica e considerado um dos principais arguidos do processo, ficaram todos com penas suspensas – no caso do antigo jogador dos encarnados foi condenado a dois anos de pena suspensa e proibido de exercer funções desportivas. Herói na vitória de Portugal no Mundial de sub-20 em Riade, em 1989, o antigo defesa direita sempre clamou inocência, dizendo ter sido vítima de uma «armadilha». «Deram-me 30 mil euros para iniciar um projeto: afinal, queriam que influenciasse jogadores», dizia em março de 2017, altura em que foi constituído arguido no caso.
Processo Jogo Duplo
No âmbito do processo, 27 pessoas, entre as quais antigos jogadores e dirigentes (atletas do Oriental, da Oliveirense e o presidente do Leixões), além de um membro da claque, foram acusados de crimes de associação criminosa em competição desportiva, corrupção ativa e passiva na atividade desportiva e de apostas antidesportivas. O MP pedia a condenação de todos os arguidos. Segundo o despacho de acusação «entre agosto de 2015 e até 14 de maio de 2016, os arguidos constituíram um grupo dirigido à manipulação de resultados de jogos das I e II Ligas nacionais de futebol (match-fixing) para efeito de apostas desportivas internacionais», através de «um esquema de apostas fraudulentas de caráter transnacional». «Para tanto, aliciaram jogadores de futebol em Portugal para que estes interferissem nos resultados das competições desportivas em prejuízo das equipas que representavam, da integridade das competições, defraudando sócios e investidores dos clubes, espetadores e patrocinadores», sustenta a acusação.
O MP sublinha que os arguidos terão recebido quantias «não inferiores a cinco mil euros» e lucravam com resultados que sabiam de antemão.