Auschwitz. O silêncio de um deus que dorme

Para cá do portão as pessoas falam baixo como se estivessem num templo. E talvez estejamos, todos, no maior templo que alguma vez se ergueu à morte. A palavra LIVRE, escrita a ferro, à entrada, só tem sentido para quem a olha de frente. À saída é como um mundo do avesso…

Auschwitz – Eis-me, portanto, no lugar onde não há respostas. E também não são respostas que procuro. Sei, como todos, que para a mais canalha das barbáries não há explicação. Releio William Styron, autor de Escolha de Sofia, livro no qual a sua personagem Sofia Zwistowk, sobrevivente do Holocausto, me tinha avisado há muito tempo: «Someday I will understand Auschwitz. This was a brave statement but innocently absurd. No one will ever understand Auschwitz. What I might have set down with more accuracy would have been – Someday I will write about Sophie’s life and death, and thereby help demonstrate how absolute evil is never extinguished from the world. Auschwitz itself remains inexplicable. The most profound statement yet made about Auschwitz was not a statement at all, but a response. The query: “At Auschwitz, tell me, where was God?”. And the answer: “Where was man?”» O paradoxo do mal. Ou apenas do incongruente, se quiserem, porque quem criou Auschwitz estava imune ao bem e ao mal. Há sempre homens a imitar Deus. E o momento mais próximo em que possam chegar ao mais minúsculo dos deuses é quando dominam o poder de tirar uma vida. De arrancar uma vida. De desfazer vidas inteiras sem que haja um pretexto. Como a arte? Necessidade íntima da obra. Mesmo criado à sua imagem e semelhança, o homem foi para lá do mestre: não há Deus que consiga ser tão cruel como o Deus que criou Auschwitz. «At Auschwitz, tell me, where was God?» No lugar sem respostas, nem Deus responde. Ou carrega consigo a mais torpe das contrições.

Que nos traz a Auschwitz, então, se odiamos o seu horror? Que nos impele a visitá-lo se nos repele este excesso de tortura e morte que se nos cola aos ossos e este cheiro a queimado que não passa de uma sugestão mas nos deixa os pulmões negros até aos alvéolos? Vimos cá pela morte? Pelo fascínio da morte? Mas não é da morte que se trata em Auschwitz, pois não? Temos consciência, lá no mais íntimo de nós: o que nos puxa com a força de um magneto é a barbárie, a desumanidade, são aqueles momentos em que um homem não teve nojo de deixar de ser um homem para passar a ser uma incontrolável besta do Apocalipse.

No dia 27 de janeiro de 1945, a 332.ª Divisão de Atiradores do Exército Vermelho da União Soviética chegou a Oświęcim-Birkenau onde ainda encontraram cerca de 7 mil prisioneiros abandonados pelos nazis das Schutzstaffel (SS) em fuga apressada. O lema destas azémolas sem sentimentos era tão pomposamente ridículo como as suas fardas desenhadas por um tal de Hugo Boss, hoje uma das marcas mais requintadas da Europa, com aquele crânio humano em miniatura, o Totenkopf: «Meine Ehre heißt Treue» – A Minha Honra Chama-se Lealdade. Honra?_Mas que honra? Desde quando velhacos assassinos em massa, meros carniceiros, podem pronunciar a palavra honra?

No dia 27 de janeiro deste ano vi, pela televisão, um homem chamado Ralph Hackman, nascido em 1925, em Random, perto de Varsóvia. Tinha 17 anos quando chegou a Auschwitz, contou. Escutara boatos sobre as câmaras de gás e não tardou a ser destacado para trabalhar nelas. «Acordava todos os dias às 4h30 e ia para os trabalhos forçados. Qualquer um de nós que tentasse facilitar ou parasse de trabalhar sem motivo válido era imediatamente abatido com um tiro na nuca».

Hackman viu Heinrich Himmler chegar a Auschwitz certa manhã, com um fito de preocupação fixado na cara suína. Vinha inspecionar se as novas câmaras de gás e saber se os incineradores estavam capazes de dar uma resposta suficiente às necessidades do Reich: desfazer em cinzas 6000 cadáveres por dia. «Muito provavelmente, durante o tempo em que trabalhei na área de receção, onde me cabia a função de separar as roupas dos que seriam condenados à morte, passaram por mim mais de 300 mil pessoas às quais roubaram as vidas. Quando as SS não conseguiam meter mais gente nas câmaras, ou tinham falta de gás Zyklon B, escolhiam os mais pequenos e as crianças e atiravam-nos vivos para dentro do crematório». É, afinal, se calhar, apenas isto que nos atrai a Auschwitz: podermos mergulhar nas absurdas profundidades do pavor. Lá bem no fundo, onde os gritos não chegam. Nem a culpa. Nem o remorso. Só o silêncio de um Deus
que dorme…

Nuvens negras ameaçam chuva. «Em que língua cai a chuva sobre as cidades atormentadas?», perguntava Neruda. Perguntem. Perguntem tudo. Perguntem todos. Não encontrei uma única resposta.

 

Um cemitério sem cadáveres

O som da gravilha que acompanha os passos bule-me com os nervos como a brisa da tarde bule com os ramos despidos das bétulas: repetem imagens de botas caminhando acertadas, espezinhando militarmente flores sem perfume nem cor. 50º, 2’ e 09”de latitude Norte; 19º, 10’ e 42’’ de longitude Este. O local preciso que a morte escolheu para se tornar uma indústria e os nazis, obedecendo cegamente à sua vontade irreversível, ergueram uma fábrica de cadáveres. Os polacos chamam-lhe Oświęcim, a infâmia chamou-lhe Auschwitz. Eu fico absorvido no som da gravilha mastigada e penso se os nomes terão assim tanta importância, como perguntava a Alice do outro lado do espelho? «Arbeit Match Frei», dizem as letras de ferro que encimam um portão pequeno, quase insignificante. «Frei» – Livre. Depois de o ter atravessado, do lado cá, olho para a palavra lida ao contrário e ela não faz sentido do avesso. Afinal, no lugar onde se encontra, não faz sentido de qualquer maneira. Digo eu para comigo que sou livre de entrar e de voltar a sair. Só que ficarei, igualmente, preso para sempre. Porque podemos abandonar Auschwitz, mas Auschwitz nunca nos abandona. Fica-nos por dentro num silêncio pesado e duro do tal deus que dorme. Seja lá qual for o deus que teve alguma coisa que ver com tudo isto, e se algo do que aqui se passou pode ter tido uma emanação divina.

Em Cracóvia, na estação de caminhos-de-ferro, a senhora gorda de olhos verde-aço, talvez provocada por um sentido de humor próximo da ferocidade, vendeu-me um bilhete só de ida. Hábitos antigos, se calhar…

A composição de apenas quatro carruagens chocalha pelos subúrbios da cidade antes de começar a ranger e a palpitar ao ritmo dos tirantes. Fábricas abandonadas; paredes de tijolo pintadas a grafitti; uma roulote de bebidas à qual alguém se entreteve a deitar fogo; bairros tristonhos de tons baços; árvores que o inverno despiu. O calor excessivo da chaufagem. O olhar taciturno para lá da janela e o mundo passa como num filme. Vivendas soltas de madeira em plainos onde a erva pare ter secado de vez; estradas estreitas que vão dar a lado algum; a multiplicação ordenada dos abetos e dos pinheiros bravos; montes de carvão; muros encimados a arame farpado; casas pré-fabricadas; charcos de água suja. Alguém escreveu num poste de iluminação: «death». Saberá sequer do que está a falar? Rzaska-Zabierzów-Krzeszowice-Trzebnia-Charzanów-Wiésniów Óswiécimia. Não vejo bichos nem homens. Ou talvez eles estejam lá e eu simplesmente não esteja interessado em vê-los, só em fixar este lugar no fundo de todos nós que a aversão deixou ferrado na mais recôndita das memórias coletivas. «Uma fotografia apontada à cabeça», como escreveu o meu amigo José Anjos, poeta sem esperas: «Onde cada movimento/É um regresso sem saudades/Ao passado de um homem morto». Morto e triste…

A locomotiva rodando na terra dos homens mortos.

Homens mortos só por serem homens.

Fotografias disparadas à cabeça, à queima-roupa.

Um céu sem cor – talvez de cinza.

As cinzas de Auschwitz presas sobre os pavilhões numerados, traçados linearmente. Céus de cinza até ao fim da Humanidade, se é que ela já não acabou aqui num dia de abril de mil novecentos e quarenta, quando Heinrich Himmler, o chefe das SS, ordenou que se erguesse um grande campo de concentração por se situar num formidável entroncamento 44 linhas férreas fundamentais para operacionalizar toda essa terrível estratégia científica de fazer com que os judeus e a morte não falhassem aos encontros detalhados. No dia 14 de junho, os prisioneiro começaram a chegar a Auschwitz. Óswieçim era apenas um grupo pequeno de instalações para receber prisioneiros de guerra polacos e alemães. Um ano mais tarde, erguia-se Auschwitz II, ou Birkenau (local da mortandade mais feroz deste eixo obsceno), na aldeia próxima de Brzezinca; em seguida foi a vez de Aushwitz III, em Dwory, até se terem atingido um complexo de 45 sub-campos na região, na sua maioria ocupados por trabalhadores escravos. O SS-Hauptsturmführer (equivalente a capitão), mais tarde promovido a SS-Obersturmbannführer (tenente-coronel), Rudolf Franz Höss foi o ufano diretor (1940-45) desta usina exterminadora que chegou a ter 300 barracões para o albergue de prisioneiros, quatro enormes Badeanstalten (salas de banho onde os reclusos eram gaseados até à morte), vários Leichenkeller (armazéns para a recolha de cadáveres) e três Einäscherungsöfen (fornos crematórios).

O campo de Auschwitz tornou-se, parece agora, demasiado icónico. Em redor há pouca gente. Grupos que falam em sussurro, respeitando este cemitério mastodôntico sem cadáveres, só nomes e fotografias aqui e ali. Nas últimas décadas, o cinema e a televisão serviram-nos pratos requentados de fardas às riscas, gente cadavérica, corpos expostos em pilhas à toa, soldados gritando ordens com pastores alemães pela trela. Deu-nos imagens vivas que só podemos recriar em memórias nos caminhos que separam de forma retangularizada os serviços onde funcionava a inicial Selektion – mães de crianças demasiado jovens de imediato conduzidas para a aniquilação, os fisicamente mais capazes para o labor-escravo, muitos para funcionarem como ratos de laboratório para o diretor médico do campo, Joseph Mengele que poderia estar, nesse momento, a precisar de alguma vítima na qual experimentar os sintomas de uma injeção de mercúrio numa córnea só para ver e registar o seu efeito. Ou só porque podia. E queria.

 

Entre os números e a poesia

Eis-me no lugar onde parece fácil falar em números. Cada número com a sua bandeira ao peito como uma batalha na qual combateu ao lado do exército da gafeirenta Senhora da Gadanha. Franciszek Piper: historiador polaco – «1 milhão e 95 polacos deram entradas em Auschwitz, 865 mil foram assassinados logo após a chegada. 20 mil 946 ciganos romenos foram registados, mas enviados para o vizinho Zigeunerfamilienlager (Campo de Famílias Ciganas)». Nem os pré-defuntos fugiam ao estigma do racismo -um dos lugares preferidos por Mengele para recolher guinea-pigs para as suas investigações. De preferência anões e gémeos. Uma insanidade à revelia dos conceitos. Descrevem os relatórios russos após a tomada do campo de concentração que só em cabelo humano guardado para forrar colchões foram contabilizadas sete toneladas. O Museu de Auschwitz serve de registo imperecível: «The largest mass murder site in history», não deixa de lembrar. Mas até a esta pergunta, Auschwitz não dá resposta. Os defuntos não se deixaram contar. Milhão e duzentos mil? Milhão e meio? Mais ainda? Os nazis não facilitaram o trabalho de arquivo posterior, a despeito de serem um povo tão essencialmente prático.

Nikolau Wachsmann tem um livro extraordinário sobre os campos de concentração nazis, KL-Konzentrationslager, uma verdadeira bíblia sobre o seu processo de implantação, sobre o seu funcionamento e sobre os procedimentos utilizados para despistagem de possíveis futuras investigações. «Encontrei o atestado de óbito oficial de um menino de três anos assinado por um médico de Auschwitz apresentando como motivo da morte ‘velhice’. O meu asco à forma como todos eles banalizavam a morte entranhou-se de tal forma que durante muitos meses não consegui voltar a ler aqueles relatórios». Por isso, é que o grande problema dos prisioneiros de Auschwitz não era o de se manterem vivos. Era o de se manterem humanos. Porque os nazis já tinham desprezado a sua hipótese de o ser. Não houve teodiceia que os libertasse dos labirintos da contabilidade entre tributos arbitrários nos quais gostam de viver.

 

O Resto é silêncio…

Auschwitz, o nome maldito. «There can be no poetry after Auschwitz», escreveu Theodor W. Adorno, filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. O nome do pai, um judeu negociante de vinhos, era Wiesengrund, mas Theodore preferiu usar o apelido materno, ele que era filho de uma cantora lírica italiana. De espírito iluminista, sentia que, no seu conceito, a razão não representava mais que um domínio racional sobre a natureza, que implica paralelamente um domínio (irracional) sobre o homem. E os diferentes fenómenos de barbárie moderna (fascismo e nazismo) não seriam outra coisa que não as piores manifestações desta atitude autoritária de domínio sobre o outro.

Por seu lado, Alexander Kimel, conhecido por Kimo, nasceu em 1926, vinte e três anos depois de Adorno, na cidade polaca de Podhajce, hoje Pidhaitsi, na Ucrânia. Toda a sua adolescência foi passada do gueto judeu de Rohatyn ou em fuga por meio de bosques frondosos, e nunca os nazis o encontraram. Ele, que lia Goethe, foi o poeta dos Konzentrationslager. Sento-me numa pedra em frente ao bloco 19 que diz, no retângulo de vidro sobre a porta – «Häftlings-Krankenbau-Schonungsblock-Zutritt Streng Verboten». Uma enfermaria, local de quarentena e entrada proibida. Há, no ar, um certo bucolismo.

Auschwitz não nos tira a inocência. Nem a infância ou a crença e a esperança. Arruma-as é num outro lugar de nós a que não estávamos habituados e torna-as muito mais difíceis de acesso. Quero comover-me e acho que esqueci de como se faz. Já terei nas veias a minha dose suficiente de droga da morte? São três horas da tarde e a cinza não desaparece do céu de Auschwitz, talvez faça mesmo parte da paisagem em recordação dos que arderam dentro de casas de paredes de ferro. Haverá sempre lugar para a poesia, até depois de Auschwitz, até dentro de Auschwitz. Assim nos caia sobre os ombros o malmequer de Alberto Caeiro que nos manda não pensarmos no mundo porque pensar é estar doente dos olhos e e o mundo foi feito para olharmos para ele e estarmos de acordo.

Trouxe comigo os poemas de Kimel amarfanhados no bolso do casaco e desdobro o papel com as mãos frias: «Acredito, com todo o coração/Na bondade natural do homem/A despeito do sangue e da destruição/Trazida por um homem que quis ser deus». Ah! Pois… talvez bata certo. Querer ser deus para poder ser pior do que ele.

Um casal senta-se a meu lado amontoando pedrinhas sobre a relva. Uma brincadeira infantil neste lugar em que a infância foi proibida, perseguida, violentada. Crianças adulteradas. «Do I want to remember?/The peaceful ghetto, before the raid:/Children shaking like leaves in the wind./Mothers searching for a piece of bread./Shadows, on swollen legs, moving with fear./No, I don’t want to remember, but how can I forget?/Do I want to remember, the creation of hell?»

Desta vez recito alto, e em inglês. O casal olha para mim. Sinto-lhes pena no olhar condoído. Achar-me-ão louco a despeito do sorriso forçado? Vendo bem, que raio de lugar para se ficar louco! A criação do inferno. Sem inocência: só sentidos. Uma centelha de sol faz reflexo nos arames farpados e nas linhas impávidas dos velhos comboios da morte. Entre 1942 e 1944, os comboios trouxeram para Auschwitz mais de um milhão e trezentas mil pessoas. Pessoas, repito, porque há quem não saiba do que se trata. Um milhão e cem mil foram assassinadas e estas paredes de tijolo castanho-rubro foram testemunhas mudas. Mas por que não falam as paredes? Por que calam as cicatrizes?

Bloco 10. Testes médicos. O dr. Clarl Clauberg inseria cola no útero das mulheres em busca de uma suficientemente forte que o fechasse para sempre. A Bayer requisitou ao comandante Rudolf Höss o envio de 150 mulheres para experiências nas suas fábricas de produtos fármacos. Höss exigiu 200 Reichmarks por cada uma. O negócio fez-se por 150. Um mês mais tarde, a Bayer pediu novo contingente. Quase todas tinham sucumbido aos testes.

Bloco 11, um pouco mais à frente. Punições. Crimes graves: surgir por duas vezes na fila das refeições no espaço da mesma refeição; arrancar os próprios dentes de ouro para proveito pessoal; roubar comida nas pocilgas; andar com as mãos nos bolsos. O retângulo da forca está bem cuidado. Muitas vezes eram os braços pendurados em vez dos pescoços, horas e horas com eles atrás das costas, a dor excruciante.

Bloco 13. Especialmente para casos gravíssimos. «Sonderbehandlung» – traição.

Blocos, blocos, blocos. Cemitérios que se limitam a guardar lembranças. Ou menos ainda porque poucos são já os que se lembram. «Cries of the wounded, begging for life./Faces of mothers carved with pain./Hiding Children, dripping with fear./No, I don’t want to remember, but how can I forget?/Do I want to remember, my fearful return?».

O caminho de regresso não é o mesmo.

Vou a pé sob os freixos, sob as bétulas de cascas brancas. A gravilha rasga o silêncio. Não há pássaros neste regresso da casa dos mortos. Uma senhora tem os olhos muito azuis. Demasiado azuis. Fita-me por segundos. Reconheço-lhe nos olhos as pedras de sal das lágrimas que ficaram por chorar.

Um voo de ave não deixa rasto.

Os meus passos são curtos: ficaram pesados.

Pesados como aquele silêncio de um deus que dorme. Só podia estar a dormir profundamente para que um lugar como Auschwitz ficasse a viver-nos na consciência até ao fim de todos os tempos.

Silêncio e mais silêncio.

Apanho um comboio em silêncio e deixo que seja ele a quebrá-lo.

Sacha Guitry dizia que o que mais gostava na música de Mozart era que, quando chegava ao fim e se fazia silêncio, esse silêncio também ainda era de Mozart.

O silêncio que levo comigo para sempre ainda é de Auschwitz. Não é, Deus? Ou ainda dormes?