Cordão sanitário no Porto abre guerra entre Rui Moreira e DGS

Decisão sobre estado de emergência será tomada na quarta-feira. Abrandamento do ritmo de novos casos vai obrigar a prolongar restrições, assumiu ontem António Costa.

O aumento de casos de covid-19 em Portugal parece estar a abrandar – ontem, o número de casos subiu 7%, menos de metade dos dias anteriores –, o que sugere que o pico da epidemia poderá chegar mais tarde. A previsão de um pico de casos não em abril mas em maio já tinha sido feita pelo Governo na semana passada, mas a estratégia para as próximas semanas só deverá ficar fechada nos próximos dias e confirmando-se esta tendência. O adiamento do pico dá tempo ao sistema de saúde para se acomodar à fase mais crítica da epidemia, mas pode levar a medidas restritivas mais prolongadas no tempo.

Uma reunião com os peritos que têm estado a modelar a curva epidémica em Portugal esta terça-feira dará ao Governo, ao Presidente da República e aos conselheiros de Estado as perspetivas para as próximas semanas. E é desse encontro que vão sair os cenários com que serão definidas as próximas medidas. O primeiro-ministro disse esta segunda-feira que, sem fazer futurologia, mesmo que não existisse uma renovação da declaração do estado de emergência, as restrições terão de ser prolongadas. Se as atuais ou outras é uma decisão que foi remetida pelo Presidente da República para quarta-feira. Executivo e DGS assumiram nos últimos dias que o combate à epidemia poderá durar vários meses, mas ainda não foi apresentada a estratégia para depois da atual fase de mitigação. No Reino Unido, as autoridades de saúde estimaram nos últimos dias que a vida poderá regressar ao normal dentro de seis meses, afastando no entanto um cenário de “quarentena total” durante um período tão alargado. Já na Alemanha está a ser analisada a hipótese de serem levantadas mais cedo as restrições a quem tenha um “certificado de imunidade”, ou seja, que faça um teste que confirme que já foi infetado pelo novo coronavírus, mesmo que não tenha tido sintomas. Na semana passada, o presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Fernando Almeida, admitiu que este tipo de testes que permitem detetar anticorpos contra o coronavírus poderiam ser válidos numa fase subsequente em Portugal, apontando para um cenário em que o teste seria feito para que algumas pessoas pudessem regressar ao trabalho ou mesmo a profissionais de saúde.

Cordão sanitário no Porto gera mal-estar Os dados por concelho disponibilizados pela DGS revelam que os municípios da Área Metropolitana do Porto registam o maior número de casos. Ontem de manhã, a diretora-geral da Saúde admitiu que estava a ser equacionado um cordão sanitário no Porto, uma medida que restringe ainda mais entradas e saídas, implementada até aqui apenas em Ovar, mas a perspetiva foi publicamente criticada por Rui Moreira, que disse não ter sido informado previamente.

Em comunicado, Moreira considerou a medida “absurda num momento em que a epidemia de covid-19 se encontra generalizada na comunidade em toda a região e país”, falando de uma medida “baseada em estatísticas sem consistência científica ou fiabilidade, emitidas diariamente pela DGS e cujas variações demonstram a sua falta de credibilidade”. O mal-estar tornou-se notório a Norte, com a Câmara Municipal do Porto a dizer mesmo que deixou de reconhecer autoridade à diretora-geral da Saúde e atribuindo as declarações de Graça Freitas a um lapso causado pelo cansaço. À hora de fecho desta edição, a DGS esclareceu ao i que as autoridades de saúde não se tinham pronunciado. De acordo com o decreto do estado de emergência, a medida só pode ser implementada pelo Ministério da Administração Interna.

O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, adiantou no briefing diário da DGS que até 25 de março foram feitos mais de 36 mil testes à covid-19 e a perspetiva é que o número de testes diários continue a aumentar. Também está prevista a chegada ao país de várias encomendas de material de proteção. O grupo Fosun doou ao país 200 mil testes e um milhão de máscaras, que chegaram ontem ao país vindos da China, num avião da TAP. A embaixada de Portugal na China tem também já 148 ventiladores para enviar para o país. Atualmente, os serviços têm cerca de 1100 ventiladores. António Lacerda Sales adiantou que entre as várias disponibilidades já manifestadas por outras entidades, existe capacidade para duplicar essa resposta, se vier a ser necessário.