O número de mortes em Portugal tem estado a aumentar nas últimas semanas além das vítimas causadas pela covid-19. O sistema nacional de Vigilância de Mortalidade (eVM), cujos dados são atualizados diariamente, revela que o número de óbitos no país aumentou de forma mais expressiva na última semana e em alguns dias foram ultrapassados os registos para as mesmas datas nos últimos dez anos. O dia 26 de março, a última quinta-feira, foi o dia com mais mortes – 376 –, quando nos últimos dez anos, nesta data, morreram entre 261 e 353 pessoas, numa média de 337.
A Direção-Geral da Saúde confirmou ao i que a mortalidade por todas as causas tem vindo a registar uma tendência crescente, “visível há quatro semanas e que se observa, principalmente, no grupo etário dos 75 ou mais anos”. O aumento está a acontecer em quase todas as regiões de saúde e a DGS garante estar a investigar as alterações no padrão de mortalidade no país, “sabendo que apesar de o país enfrentar uma epidemia de covid-19, as outras situações clínicas e doenças continuam a ocorrer”.
Questionada sobre se o aumento da mortalidade poderá refletir um adiamento na procura de cuidados de saúde por outros doentes, a DGS reiterou que as medidas excecionais implementadas pelas instituições de saúde com o objetivo de conter a epidemia de covid-19 apenas dizem respeito a serviços não urgentes. As cirurgias e consultas não urgentes foram suspensas, não havendo ainda um balanço de quantas intervenções foram canceladas nas últimas semanas. A afluência às urgências caiu também para menos de metade da procura diária que se verificava antes de ser decretado o estado de emergência, mas os dados disponíveis na monitorização diária do SNS indicam que a taxa diária de atendimentos por situações menos urgentes (as pulseiras verdes, azuis e brancas) se mantém nos 40%.
Nos últimos dias, já tinha havido um alerta para o aumento da mortalidade em Espanha além das mortes diretamente ligadas à epidemia. Investigadores do Instituto de Salud Carlos iii concluíram que em algumas regiões espanholas, como Castela e Leão, a mortalidade duplicou na semana entre 17 e 24 de março face ao que eram as médias nos últimos anos. A diretora do Instituto Raquel Yotti esclareceu entretanto que a análise não permite inferir que haja mortes por covid-19 que não estejam a ser identificadas, mas sim um aumento da mortalidade por todas as causas. Em Espanha, como em Portugal, o número de mortes diárias baixa habitualmente na primavera, depois de picos de mortalidade durante o inverno – no período de gripe sazonal e maior frio –, havendo em alguns anos novos picos de mortalidade no verão, associados a ondas de calor. Este ano, o dia com mais mortes foi 15 de janeiro, com 426 óbitos no país, havendo anos em que chegam a morrer nalguns dias de inverno ou de verão mais de 500 portugueses.
Esta terça-feira assinala-se o Dia Nacional do Doente com AVC, a principal causa de morte e de incapacidade permanente no país. A Sociedade Portuguesa de AVC alertou para a importância de ficar em casa, mas tendo atenção aos fatores de risco e sem descurar a prevenção.