As livrarias fecharam, as editoras silenciaram as máquinas, por casa os escritores batem as teclas do silêncio, dos dias sem gente. Como será o futuro dos livros, as únicas viagens permitidas em tempos de pandemia?
Por agora, com o mundo em suspenso, os balanços fazem-se sobre o que está parado. A Feira do Livro foi adiada até ao final de agosto. A Bertrand Editora anunciou que todas as chancelas do grupo, como a Quetzal ou a Temas e Debates, vão suspender as novas publicações até abril. Decisão similar tomou o Grupo Leya, a Gradiva ou a 20/20.
Todos mantêm as vendas online, e há quem tenha escolhido combater a pandemia por outras vias. A Clube do Autor selecionou cinco romances para enviar de forma gratuita aos leitores (O Corsário Negro, de Emílio Salgari; A Última Noite em Lisboa, de Sérgio Luís de Carvalho; O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald; Romão e Juliana, de Mário Zambujal e Mariana, Meu Amor, de Margarida Rebelo Pinto).
Já a Porto Editora, que também pôs os novos lançamentos em banho-maria, fez esta semana saber que vai alargar o prazo de pagamento de faturas aos pequenos livreiros até ao final de junho. «Numa altura em que, por todo o país, centenas de livrarias veem-se na contingência de fecharem portas no contexto do estado de emergência que o país atravessa, o Grupo Porto Editora decidiu apoiar os pequenos retalhistas permitindo-lhes adiarem o pagamento das faturas com vencimento previsto para as próximas semana», avisaram em comunicado.
E os escritores? Num breve retrato sobre o mundo visto de casa e os temores dos seus próprios dias, a escritora Luísa Costa Gomes dá-nos os tons mais negros que lhe têm passado pelos dedos. «Com a pele das mãos já no osso, é a nossa omnipotência a bater com a cabeça na real impotência humana», diz-nos (ver texto ao lado). E a Cultura, como ficará? Parente sempre pobre do sistema, «o seu desamparo social é histórico». E, portanto, é difícil ajuizar o que aí vem – mas a escritora conta com, pelo menos, «outro meio século de atraso». Já Ana Margarida de Carvalho também crê que os artistas se encontram «em graves apuros». «Estamos todos no mesmo barco? Até podemos estar, mas alguns vão no porão, que inunda mais depressa». Ouçamo-las.