“Foi uma vitória da Europa”. Foi desta forma que Mário Centeno recordou as conclusões da última reunião do Eurogrupo que definiu um pacote de três medidas – dirigidas ao apoio ao emprego, empresas e países – de 540 milhões de euros para combater os efeitos provocados pela pandemia de covid-19.
Em entrevista ao Jornal das 8 da TVI, o ministro das Finanças considerou que “somos todos vencedores deste projeto europeu” e que as “redes de apoio” aprovadas, como lhes tornou a chamar, foi “a altura em que se reuniu [pelos Estados-membros] mais capital para este projeto europeu”.
Mário Centeno desvalorizou a oposição inicial da Holanda – admitindo que foi o país “mais reticente” em aprovar as três medidas – optando por destacar que o objetivo de “permitir que todos os países tivessem liquidez e as mesmas oportunidades” para fazer face à crise que se avizinha.
“Demorámos muito tempo a reagir na crise de 2008, mas, desta vez, conseguimos em apenas dez dias um quadro financeiro de apoio”, afirmou Centeno. Recorde-se que o acordo prevê 100 milhões para o emprego, 200 milhões para empresas e 240 milhões para países, com despesas, para já, exclusivas para o setor da saúde. “Este não é, porém, o fim da linha”, ressalvou o ministro das Finanças português e presidente do Eurogrupo, abrindo a porta a novas medidas no futuro mais imediato.
A reunião do Conselho Europeu – que permitirá oficializar o pacote de 540 milhões de euros – irá realizar-se no dia 23 de abril, e o Eurogrupo volta a reunir-se nos dias seguintes para voltar a discutir mecanismos de apoio aos Estados-membros para fazer frente aos efeitos da pandemia.
Dois anos para recuperar, segundo o ministro das Finanças
Mário Centeno acredita que Portugal pode demorar dois anos a recuperar para índices idênticos à pré-pandemia. “Se a crise for contida, e se iniciar um processo de recuperação a partir do segundo trimestre, mesmo com um processo lento de saída das dificuldades no 3.º e 4.º, é possível” que o estado da economia regresse aos números de 2019.
Apesar do cenário de crise, o ministro das Finanças acredita, porém, que “no conjunto do ano [2020] não devemos ter perdas de dois dígitos” do Produto Interno Bruto. O ministro das Finanças aponta para perdas equivalentes a 6,5% do PIB por cada 30 dias úteis com a economia do país paralisada – tal como ocorre atualmente –, mas acredita que haverá margem para recuperar com as medidas de apoio já em marcha e outras a ter em conta.
Ainda assim, o 2.º trimestre de 2020 deverá sofrer perdas recorde, que poderão atingir um número “quatro a cinco vezes superior” ao pior trimestre já registado – na altura, uma quebra de 4,3% do PIB no 4.º trimestre de 2012. Feitas as contas, o PIB do 2.º trimestre deve cair perto dos 20% no conjunto dos meses de abril, maio e junho.
Segundo as contas de Mário Centeno, o Estado deve perder entre seis e sete mil milhões de euros, para tentar travar a quebra da economia portuguesa neste período. O governante voltou a sublinhar as diferenças entre a crise financeira de 2008 para as consequências da covid-19. “Esta é uma crise com características diferentes. É uma crise temporária”, disse, elogiando a solidez da economia e do emprego no país, que, confia, vai permitir sair desta crise a caminho da normalidade.
Ainda na entrevista, Centeno admitiu que “o cenário atual era impensável” há meses, tanto em Portugal como na Europa. Questionado, não fechou a porta a nenhuma decisão, entre as quais a possibilidade de avançar para a nacionalização de empresas – com destaque para a companhia aera TAP.
A fechar, o governante voltou a rejeitar responder se continua no Governo para lá do verão, optando por desvalorizar o seu papel no atual Executivo ou como protagonista para a resolução do atual contexto.