O vírus do medo é invisível

“On doit inventer un vaccin contre la peur”  G.M. Hoje, Amanhã.. e Depois? Estando instalada a Pandemia, e colocando de parte os atrasos da prevenção, importa para já enfrentar a Crise deixando para mais tarde esta Oportunidade Perigosa (CRISE em chinês) para fazer uma boa reflexão sobre o futuro.. isto está a ser um teste…

“On doit inventer un vaccin contre la peur” 
G.M.

Hoje, Amanhã.. e Depois?

Estando instalada a Pandemia, e colocando de parte os atrasos da prevenção, importa para já enfrentar a Crise deixando para mais tarde esta Oportunidade Perigosa (CRISE em chinês) para fazer uma boa reflexão sobre o futuro.. isto está a ser um teste às fragilidades do SNS, à forma como o País estava estruturado e à qualidade da preparação (ou falta dela) que devia ter sido transmitida à sociedade, e que não se resume apenas à intervenção directa sobre a prevenção e propagação da epidemia, mas também aos efeitos secundários da solução (o isolamento ou a repercussão sócio-económica que virá depois), para que não seja pior o remédio que a doença

Neste momento o que importa é enfrentar esta batalha (duma guerra chamada Globalização), e se para isso temos de saber colaborar uns com os outros, não se pode esquecer a obrigação de evitar o pior que pode acontecer num cenário destes e que é a desmoralização das tropas, ou uma descoordenação em termos de acção.. certamente que o combate é inevitável, mas o pânico é desnecessário pois só complica e nada resolve, o tempo passado em isolamento nas “trincheiras” deveria ser gasto para preparar a saída, não para aumentar o Medo do inimigo, como se vê com as  reportagens sobre o número de baixas e os insucessos da guerra.. pode o medo ser uma estratégia utilizada para obrigar as pessoas a aderir às medidas defensivas, mas algum dia teremos de sair para a luta, e enfrentar de novo o mundo.. Amanhã ou no Futuro.

 

O medo do “desconhecido”.. acorda os nossos piores fantasmas

Um sociólogo francês (Gerard Mermet) disse há algum tempo que “devíamos inventar uma vacina contra o vírus do medo”, pois este tipo de “vírus” dificulta a capacidade de reacção da sociedade face a uma catástrofe, especialmente se a sociedade não tiver sido avisada e preparada. Quando é racional, o medo deixa-nos alerta e protege-nos a Vida, mas quando há algo invisível, mortal e imprevisível, que nos persegue como se fosse uma sombra, então esse medo pode transformar-se em Ansiedade intensa a qual em vez de ajudar vai acabar por nos bloquear, levando-nos a tomar atitudes irracionais e anti-sociais como se o Mundo fosse acabar esta semana.. e não falo só das pessoas que têm medo delas próprias e andam de máscara sozinhas em casa, dentro do carro ou em espaços abertos, mas também daqueles que têm medo dos outros ou ignoram a sociedade a que pertencem se a onda de medo gerar uma espiral de pânico, esta irá abrir a porta a comportamentos de alguma obscenidade e fenómenos pré-apocalípticos, que podem ir desde o açambarcamento de bens essenciais até ao roubo de materiais de interesse público como máscaras, sabonetes ou frascos de gel. A pandemia viral está a afectar idosos doentes, mas a pandemia de Pânico pode afectar a sociedade saudável e produtiva, e cresce com a recessão económica e o Caos. E em situações de Guerra ou Caos as pessoas tendem a esquecer os valores que costumavam defender em tempo de Paz, pelo que convinha pensar não só nas 400 ou 500 mil pessoas que poderão ser vítimas do vírus, mas também nos 9.5 milhões que podem ser vítimas do Pânico. Se não foi possível travar a propagação do vírus, que se consiga pelo menos evitar que o medo cause episódios de Pânico que só geram a “fuga para todos os lados” menos para o lado certo, fuga essa que já se viu poder causar muitos mortos quando algo assusta multidões que não foram preparadas para enfrentar ameaças, nem sequer saber como procurar a porta da saída

 

O que é que causa mais medo, o vírus que não vemos ou a informação que desconhecemos?

Um vírus é apenas o ser mais abundante no planeta, todos os dias caem do céu milhões de vírus por metro quadrado, o que dá sentido à expressão de alguns cientistas quando dizem que “vivemos e crescemos dentro duma nuvem de vírus”, que alguns até chamam “virosfera”. A grande maioria deles são inofensivos, e podemos adaptar-nos aos outros se tivermos tempo e imunidade para isso, embora haja alguns que convém saber evitar, quer pela mortalidade como pela sua contagiosidade (no caso actual). No entanto que ninguém se iluda, os vírus já por cá andavam antes de o homem ter chegado a este Paraíso chamado Terra, e irão continuar por cá depois de o homem a transformar num Inferno. E se não os podemos exterminar então teremos de saber conviver com eles, protegendo-nos de contaminações rápidas enquanto os estudamos, para melhor nos adaptarmos a eles. A Globalização é uma faca de dois gumes que não traz só epidemias de vantagens, também tem destes inconvenientes.

Para esta Pandemia já nos basta o vírus (o medo é desnecessário), mas há que ter em conta que a sua principal arma é a rapidez de contágio (ao passo que a nossa pior defesa é a falta de preparação). Antes deste, há muito que outros vírus ou bactérias participam regularmente nas mortes que ocorrem por pneumonia, das 40 mortes diárias por doenças respiratórias 15 já se deviam a infecções pulmonares, atingindo os mesmos doentes frágeis que são agora o alvo deste novo vírus. O problema aqui reside na facilidade de contágio, que ao fazer aumentar o fluxo de complicações esgotará a capacidade de resposta dos hospitais, que assim perderão doentes não por alguma incapacidade técnica dos profissionais, mas por falta de meios ou de recursos. Se alguém tiver um acidente e precisar de ser operado, é evidente que terá uma resposta adequada do SNS, mas se houver um terramoto e forem mais os acidentados que as camas disponíveis, então haverá também uma incapacidade de resposta a fazer vítimas, não pela gravidade da doença mas pela falta de condições e pela rapidez com que se instalou. É isso que teria de se prevenir sem medos, e até que esta vaga passe não convém acrescentar mais outra a seguir, por muito que a quarentena nos custe.

 

A vacina contra o medo é a informação

Como micro-organismo um vírus é um ser tão minúsculo (vários milhões de vezes inferior à capacidade de visão do olho humano), que até nem todos os microscópios o podem detectar. Quanto ao medo, esse é um “vírus” totalmente invisível, e se o vírus banal viaja à velocidade de um avião então o Medo viaja à velocidade da net, podendo-nos contaminar ainda antes de o vírus real cá ter chegado. E o Medo quando se associa a uma ameaça da que não temos qualquer informação ou protecção, deixa-nos ainda mais vulneráveis. A única vacina para esse Medo é a Informação Antecipada que teria de actuar antes que o vírus a sério nos batesse à porta, e os órgãos de informação teriam aqui um papel fundamental, que só agora o começaram a querer desempenhar pois até aqui estavam mais ao serviço do alarmismo

Tal como os outros vírus, também o Corona é um ser meio “zombie” (tipo morto-vivo), que só se manifesta se alguém o convidar a entrar numa célula do nosso organismo (caso contrário vai acabar por morrer se ficar exposto ao meio ambiente por algumas horas). Para evitar que isso aconteça apenas há que não tocar em nada que possa ter resíduos dum espirro, e se a dúvida existir tem de se aguentar a vontade de levar as mãos à cara até as poder lavar. Se essa rotina já estivesse “colada” aos nossos hábitos, o contágio deste ou de outros vírus não estaria tão facilitado, mas perante a situação actual o melhor mesmo tinha de ser o isolamento até que esta primeira “fornada” se extinga, contudo os hábitos deveriam ficar para nos proteger da próxima que se não vier Amanhã, virá no Futuro. Afinal nós somos, e iremos continuar a ser, um “reservatório” de vírus que transmitimos aos outros sem saber, mesmo que nos sintamos em boa-forma. Se soubermos evitar os contágios, sempre que houver um aviso de Epidemia, teremos menos razões para entrar em Pânico

Este vírus nem é dos que tem mais mortalidade (o Ébola poderia chegar aos 90%), mas como a sua maior habilidade é o potencial de contágio, a disseminação pode ocorrer sem que a maior parte dos infectados se aperceba (2/3 deles terão tido sintomas tão ligeiros que nem deram conta que lhe andaram a dar boleia), pelo que muita contaminação terá ocorrido por descuido ou distração. Como este virus afecta mais os Lares que as Creches, são os mais saudáveis que contaminam os doentes de Risco daí que o isolamento tem de ser obrigatório sobretudo para quem é idoso e já possui muitas doenças, pois são esses que irão sofrer as consequências mais graves. Como factor de agravamento acresce o facto de que os idosos podem não cumprir as regras de prevenção tão bem como os mais novos, por não estarem habituados, por demência, falta de memória ou desvalorização para quem se sente no fim da vida

Por agora é o CoVid19, que mesmo sem vacina nem tratamento específico tem uma mortalidade inferior a 4% (perto de 0% em jovens saudáveis, chegando até 16% nos doentes idosos e já tão fragilizados por tantas doenças que difícilmente tolerariam mais uma infecção. Esta ou outra).

Esta virose também está a contagiar em Portugal, neste momento passa dos 3000 (poderão ser muitos mais até), mas o Medo contamina todos (mesmo os 9,5 milhões que não tenham CoVid), e que vivem as 24 horas com medo de o apanhar. E esse medo permanente em regime fechado (onde a TV fala mais de mortes do que de soluções), acaba por alimentar a fogueira do Pânico, pois o que interessa não são os danos que a Guerra nos faz, mas como é que a podemos ganhar. E nessa Guerra dos contágios estão também outras batalhas, agora esquecidas porque a atenção está centralizada no CoVid.

 – Pneumonia: é a terceira causa de morte em Portugal vitimando mais de 3000 pessoas por ano, mas no mundo, só em crianças abaixo dos 5 anos, a mortalidade é de 3000 por dia (sem o CoVid)

-Tuberculose: é uma pandemia que mata 5000 pessoas por dia no mundo inteiro, Portugal tem uma incidência superior à da média europeia

-Gripe: apesar da imunidade e das vacinas já fez 100.000 vítimas no mundo, só em 2020, provavelmente antecipando-se ao CoVid, agravando a saúde dos mesmos idosos frágeis,

-Meningite: vitima 50.000 pessoas por ano no mundo, e o risco é maior nos primeiros 5 anos

-Hepatite: vitima 1 milhão de pessoas por ano

-SIDA: já vitimou 350.000 pessoas este ano

Se as televisões fizessem os mesmos gráficos e reportagens com estas doenças, já muita gente saudável teria morrido de susto. Felizmente que as medidas de Prevenção que estão a ser impostas para esta Pandemia, irão prevenir o contágio de todas as outras também

 

A Comunicação ao serviço do Alarmismo, não gera Informação. Mas Pânico

Os meios de comunicação são importantes como veículo de informação, que nos pode ser útil para a sobrevivência, mas infelizmente o que dá mais audiência é o Alarmismo. Primeiro foi a corrida incessante para encontrar o primeiro “tuga” a apanhar o vírus, e quem ganhou foi um canalizador enfiado num cruzeiro algures no Japão, que perdeu o estatuto “vírus star” porque melhorou. A seguir passou-se para o Campeonato Póstumo a ver quando morria o primeiro doente, e depois veio a quarentena como seria previsível, que obrigou as pessoas a ficarem fechadas em casa e a consumir mais mediatismo que antes, sempre com a primeira meia hora do noticiário a falar dos medos do vírus e das vítimas do vírus, tudo tinha a ver com o vírus, ainda que fosse só uma suspeita. Parecia a campanha Eleitoral, secção da Necrologia, com o número de mortos por distritos e reportagens em directo à porta de lares onde possam encontrar mais uma doente pré-centenária em risco de sucumbir à “gota de àgua” que se juntou a todas as outras doenças graves que já tinha. Nem o cruzeiro atracado em Lisboa escapou, com uma reportagem de várias horas sobre um passageiro mistério que por se sentir mal foi rotulado logo de suspeito de CoVid. Afinal era um doente cardíaco que entrou em pânico com tanta notícia sobre a pandemia (efeito colateral)

Em que é que isto ajuda o cidadão que precisa de saber como fazer a sua vida, quando acabar a Quarentena? Felizmente que já vão começando a dar mais esclarecimentos e informações úteis, com anúncios repetidos a dar conselhos que transmitam segurança na prevenção do contágio, e isso é bom para evitar que a seguir à Quarentena não ocorra uma segunda vaga que obrigue a novo isolamento. Pois se andarmos em quarentena, mês sim e mês não, em vez de salvar os mais frágeis vamos destruir o futuro dos mais saudáveis que não sobreviverão á recessão económica e à perda do emprego, com que pagavam os impostos ao Estado que deles precisa para manter a assistência de quem está doente

 

Afinal a Protecção até está nas nossas mãos

O vírus não tem asas, e não vem atrás de nós como os mosquitos, pois a transmissão aérea só tem riscos se for dentro da “área do aerossol” (cara a cara ou à distância de um espirro)

2- O veículo de transmissão são as mãos (as nossas mãos), quando tocam naquilo onde os outros antes deixaram resíduos de um espirro, mas ficam seguras se as lavarmos.

3- O perigo mais importante (mas a que se dá menos atenção), é a transmissão assintomática e mesmo que acreditemos não ter infecção, podemos contaminar aqueles em quem tocamos.

por Alberto Fial
Médico