Os residentes da Ilha de São Miguel, nos Açores, confessam dificuldades na adaptação ao ensino digital.
Esta peça, publicada pela agência Lusa, no mesmo dia em que se assinala o primeiro dia da telescola, segue o dia a dia de diversas crianças e professores nesta nova rotina.
"Temos de estar muito atentos aos emails dos professores", confessou Maria Jasmim, de 12 anos. "Temos de estar muito atentos e muito focados. Depois temos também aulas na televisão que podemos acompanhar. O meu ciclo [3.º] só tem aulas da parte da tarde", explica a aluna do 7.º ano, que, às 9h, já estava sintonizada na RTP Memória, "caso passe alguma coisa" para a sua idade, já que "mais vale prevenir".
"Muitos pais não têm condições para ultrapassar esta fase: não havia computadores em casa, os tablets são rudimentares, sem capacidade de memória, os conhecimentos de base das novas tecnologias na utilização de plataformas não existe. Os miúdos estão apenas formatados para o uso de redes sociais", afirma Pedro Pereira, professor de Educação Física, ambos na Escola Básica Integrada de Ponta Garça.
Numa das freguesias mais pobres da região mais pobre do país, muitas famílias precisam de apoio para conseguirem acompanhar as aulas. Uma realidade atestada por Cidália Garcia, professora contratada de Português, Francês e Educação Especial, que este ano está a lecionar francês a alunos do 7.º, TPCA (Turmas com Projeto Curricular Adaptado) e 9.º ano, na Escola de Ponta Garça.
"Falei com uma mãe que me disse que não tinha Internet, porque precisa desse dinheiro para comprar comida. É complicado nos dias de hoje vermos que existe ainda muita pobreza, e às vezes pobreza envergonhada", conta a professora.
Com base em dados do INE de 2019 sobre famílias com filhos com menos de 15 anos que vivem em habitações sem acesso à Internet, os economistas Hugo Reis e Pedro Freitas concluíram que, só no ensino básico, a nível nacional, haverá cerca de 50 mil alunos nesta situação.