Sou da opinião de que o sistema de educação é como a condução de um carro: a partir de determinada velocidade, é necessário aplicar uma nova mudança, para que seja possível andar a uma velocidade superior, em segurança, sem um esforço desgastante para a máquina.
Aprender é um processo natural e intrínseco, a que recorremos com frequência, em prol do nosso bem-estar e sobrevivência. Sendo inato, debato-me internamente com o paradigma atual no qual a formação de um indivíduo não parece ser tão natural assim. Da minha perspetiva, a partir de determinado ponto, que varia de pessoa para pessoa, aprender torna-se mais complicado e implica um esforço cada vez maior, com um retorno cada vez menor.
Observo que as salas de aulas e o seu funcionamento estão desenhadas à luz das necessidades da revolução industrial, mas que ainda hoje são o formato modelo para a preparação de gerações atrás de gerações, todas elas com realidades diferentes. Consequentemente, percebo que se exige dos alunos que se aproximem todos de um mesmo nível de conhecimento nas mesmas áreas, em detrimento da valorização da natural e humana diferença entre os indivíduos.
Boa parte do conteúdo que é lecionado é obsoleto, aprende-se de tudo um pouco sobre tudo aquilo que é exterior ao ser, e pouco ou nada sobre aquilo que é interior. Quero com isto dizer que se privilegia os conhecimentos necessários para ‘fazer’ em detrimento de ‘ser’. Por essa razão, fica de fora aprender a aprender, empatia, negociação, inteligência emocional, entre outros. A gestão do próprio não é inata, nem parece que o vá ser sem uma mudança do paradigma. O mundo gira agora a um ritmo diferente, há cada vez mais informação e dados, cada vez mais dispersos, cada vez mais competitividade.
Como resultado da baixa adaptação da educação, boa parte dos estudantes não estuda numa área que lhe interesse realmente, acaba a exercer uma profissão que não gosta, possivelmente numa área pouco relacionada com os seus estudos. Durante esses mesmo estudos, mais concretamente no ensino superior, de acordo com o FNES, em cada 100 alunos, 36 já foram diagnosticados com algum tipo de perturbação de saúde mental, dos quais 15 são diagnosticados com ansiedade, 9 com depressão e ansiedade e 6 com depressão, dos quais pelo menos 50% dos diagnósticos se mantêm após um ano da avaliação inicial. Estes dados têm preocupação acrescida por o mesmo estudo apontar a que 80% destes diagnósticos surjam durante a frequência do ensino superior.
Foi preciso haver uma pandemia e vidas em risco para se disseminar o teletrabalho e tornarem o ensino mais digital e remoto. O que é preciso acontecer para que se adapte de vez a forma como educamos e aprendemos!?
Uma população reflete na sua produtividade a qualidade das suas vidas pessoais e profissionais. Se não queremos um país em burnout, aproveite-se o atual estado de emergência para que se mude o paradigma, se planeie, e se adaptem os conteúdos e as formas com que moldamos o futuro do país e do mundo.