No dia em que a China reavaliou o número de mortes em Wuhan, cidade onde o coronavírus emergiu e primeiro epicentro da pandemia antes de esta ter contagiado o resto do mundo, a segunda maior economia do mundo anunciou que o país decresceu 6,8% nos últimos três meses, comparativamente ao período homólogo do ano passado. Uma situação preocupante, que pôs um travão nos extraordinários anos consecutivos de crescimento económico.
Ontem, a China anunciou uma revisão em alta do número de óbitos em Wuhan, em mais de 50%. Embora Pequim garanta que não encobriu estes números, o ceticismo em relação à atuação da China e a sua gestão sobre a crise pandémica – e sobre a transparência dos números – acentuou-se.
Wuhan afirma que, afinal, morreram mais 1290 pessoas de covid-19 do que anteriormente se pensara, justificando que as contagens tinham deixado de fora vários casos no início do surto. O ajustamento, diz a Al-Jazira, foi detalhado ontem numa publicação numa página do Governo da cidade nas redes sociais. Ou seja, Wuhan, afinal, contabiliza 3 869 mortes e a China 4 632 vítimas mortais de covid-19.
As suspeitas não eram de hoje. No dia 2 de abril, o New York Times noticiava que a CIA havia vindo a alertar a Casa Branca, desde fevereiro, de que a China estava largamente a subestimar o número de infeções no seu território e que a sua contagem não podia ser fiável.
Economia em baixa
Já a queda da economia chinesa demonstra o gigantesco desafio que o coronavírus trouxe ao país. Desde que o país saiu da pobreza extrema – há 40 anos – a China tem sido um dos grandes motores da economia global.
O Produto Interno Bruto desceu 6,8% entre janeiro e março, segundo dados oficiais também publicados ontem. Trata-se de uma taxa maior do que a prevista pelos analistas económicos da Reuters, que era de 6,5%, e que reverte a expansão de 6% do último trimestre de 2019. É a primeira contração desde, pelo menos, 1992, altura em que os dados do PIB começaram a ser contabilizados. Já o South China Morning Post refere que é a primeira vez que a economia chinesa contrai desde o fim da Revolução Cultural, em 1968.
As vendas a retalho são um indicador chave para se entender os números de consumo: desceram 15,8%, quando nos dois primeiros meses colapsaram em 20,5%. Este números desanimadores não significam automaticamente o colapso da economia chinesa, explica o South China Morning Post, mas a preocupação acentua-se dada a paralisia económica dos outros países do resto do globo e pela sua dependência na cadeia de valores. E os números agora apresentados por Pequim salientam a preocupação sobre o estado da economia global, juntando-se às dramáticas estimativas do Fundo Monetário Internacional: o mundo enfrenta a maior recessão desde a Grande Depressão iniciada em 1929.