A nomeação de Paulo Registo, conhecido adepto do Benfica, para julgar o processo de Rui Pinto foi além fronteiras mesmo em tempo de pandemia. O juiz solicitou escusa de intervir no julgamento do pirata informático, "por existir suspeita sobre a sua imparcialidade", mas a relação da justiça portuguesa com o clube da Luz foi ainda assim questionada pelo The New York Times.
O advogado do hacker, Francisco Teixeira da Mota, confessou ao jornal norte-americano que "gostaria que quem vai julgar fosse alguém que não estivesse comprometido com o Benfica" e a publicação reforça essa necessidade devido ao facto de Paulo Registo ser um assumido benfiquista. Além disso, é referido ainda que o juiz apagou publicações nas redes sociais alusivas à sua ligação com o clube na altura em que foi sorteado para julgar o processo.
"Esta ligação deu ainda mais razões aos críticos que há muito lamentavam aquilo que consideram ser uma estreita relação entre as instituições mais importantes de Portugal e o Benfica", pode ler-se na publicação, onde se questiona a importância de procuradores e até "o primeiro-ministro de Portugal" serem benfiquistas, lembrando que Paulo Registo também é um dos três juízes do caso que envolveu o antigo assessor jurídico da SAD encarnada, Paulo Gonçalves.
A ex-eurodeputada Ana Gomes, que sempre defendeu a libertação de Rui Pinto, deu também a sua opinião, valorizando o sistema de justiça. "Essa captura é feita através da captura de pessoas que estão numa posição institucional no próprio Estado e um dos pilares principais é o sistema de justiça. Se existem juízes capturados ou que não se importam de parecê-lo, temos um problema", atirou.
Já o antigo presidente da Liga Portuguesa, Màrio Figueiredo, que também foi ouvido pelo jornal norte-americano, falou da importância do futebol de uma forma mais generalista. "É preciso compreender a história portuguesa para perceber a importância do futebol na nossa cultura, na política, mesmo na nossa vida quotidiana", reforçou.
Em jeito de reação à publicação, o Benfica defendeu-se e negou as críticas que são apontadas, dizendo que são "motivadas por inveja pelos anos de sucesso" do clube. "Teorias da conspiração são o alimento diário da internet, das redes sociais e, infelizmente, mesmo jornais confiáveis e com reputação", pode ler-se na nota divulgada pelo clube orientado por Bruno Lage.
O diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, comentou a reportagem numa publicação feita no Twitter. "Mais um título internacional. Eis como o benfiquistão é visto pelo melhor jornal do mundo. Com tentáculos, claro", escreveu.