Os quatro maiores bancos portugueses já têm cerca de 211 mil moratórias de créditos de famílias e empresas, num total de 18,9 milhões de euros. O número foi avançado pelos presidentes das instituições financeiras, que esta semana foram ouvidos no Parlamento.
Só o BCP tem 80 mil moratórias de créditos (seja moratórias legais ou moratórias privadas), em que a totalidade do valor dos créditos abrangidos ascende a 4,5 mil milhões. Apenas em clientes particulares conta com 55 mil moratórias, no valor de 2,3 mil milhões de euros, segundo Miguel Maya.
Já o Santander Totta tem 70 mil moratórias em créditos no valor de 7,5 mil milhões de euros. «São clientes que até setembro não vão pagar nem capital e muitos deles não vão pagar juros. Estamos a falar de mais de 20% da nossa carteira a particulares e quase 40% da carteira a empresas se excluirmos o Estado e as grandes empresas», revelou Pedro Castro e Almeida.
Também o Novo Banco tem em mãos mais de 31 mil moratórias de créditos, no valor de 4,5 mil milhões de euros. De acordo com as contas do líder da instituição financeira, essas moratórias representam 9,7% do crédito do banco. No entanto, António Ramalho admitiu que um terço desses clientes preferiram ter apenas suspensão do pagamento de capital.
Já a Caixa Geral de Depósitos tem cerca de 30 mil pedidos de moratórias, dos quais 20 mil dizem respeito aos créditos de particulares, no valor de 1,4 mil milhões de euros e cerca de 10 mil pedidos são de empresas (créditos de empresas), no valor de quase mil milhões de euros.
O BPI não indicou quantas moratórias tem – preferiu chamar a atenção dos deputados para o facto de não se poder colocar nas instituições financeiras o peso da resolução de todos os problemas quando está previsto um grande impacto na rentabilidade e provisões. «O que se está a passar vai ter consequências muito complicadas para a economia e para os seus agentes e no meio desses agentes estão os bancos e penso que não podemos, ou não devemos, colocar em cima dos bancos todo o peso de resolução das situações que vêm pela frente, porque vai ser impossível», disse João Pedro Oliveira e Costa, acrescentando que «vários ouros agentes têm de vir a terreno dar o seu contributo».
Face a este cenário de incerteza, as instituições financeiras viram-se obrigadas a mudar de estratégia. Se por um lado, o BCP optou por adiar as rescisões de trabalhadores previstas para este ano, o banco público revelou que não está previsto pagar prémios aos administradores e trabalhadores relativos a 2019. Mas Paulo Macedo já veio abdicar «integralmente do seu prémio», disse fonte oficial da Caixa.
Ao mesmo tempo, o banco público não deverá entregar os dividendos ao Estado no valor de 300 milhões de euros. Também o BCP já tinha anunciado que iria propor na assembleia-geral o cancelamento do pagamento de dividendos referentes ao ano passado e revelou ainda que este ano não há condições para pagar prémios aos administradores executivos, no entanto, a decisão caberá agora ao Conselho de Remunerações.
Este caminho já tinha sido anunciado pelo Santander Totta. Em causa estavam 1,7 mil milhões de euros a serem distribuídos pelos acionistas do banco espanhol.
O BPI foi o último banco em Portugal a anunciar que não vai pagar dividendos. Inicialmente tinha previsto distribuir 117 milhões de euros, mas acabou por recuar.