A pandemia não acabou. A mensagem foi ontem sublinhada por António Costa ao anunciar o plano para tirar o país de casa, retomar a economia, e manter a infeção controlada. A palavra equilíbrio vem ganhando peso nas intervenções do Executivo, da Direção Geral da Saúde e do Presidente da República, e é isso que estará em causa nas próximas semanas.
Segunda-feira marcará o início da reabertura do país, progressiva, de 15 em 15 dias, e com medidas gerais comuns. Lotações reduzidas, higiene reforçada, distanciamento de dois metros ao sair à rua. E, ao abrigo do estado de calamidade que sucede a partir de domingo ao estado de emergência, o Governo imporá mesmo o uso obrigatório de máscaras nos transportes públicos, escolas, comércio e outros locais fechados.
A fiscalização e sensibilização serão permanentes, com o Governo a dar instruções à ASAE, à ACT (Autoridade para as Condições do Trabalho), às autoridades policiais e até aos militares para avançarem com vigilância apertada dos planos definidos para evitar o descontrolo do contágio e a sobrecarga do sistema de saúde. Até porque, se houver necessidade, o Governo admite recuar e voltar a reforçar as medidas de confinamento e restrição.
Na segunda-feira, têm ordem para abrir repartições de finanças e conservatórias, com marcação prévia. Podem reabrir lojas até 200 m2, livrarias e comércio automóvel, os ansiados estabelecimentos de serviços de higiene pessoal (cabeleireiros, barbeiros, manicures, pedicures e similares) – mas sempre por marcação.
Os restaurantes só reabrem na segunda etapa de desconfinamento, prevista para 18 de maio, com lotação reduzida para metade, altura em que poderão também reabrir lojas até 400m2. É também esta a data prevista para a reabertura das escolas para alunos de 11.º e 12.º ano – e até lá os estabelecimentos vão ser desinfetados um a um por militares.
Entretanto, o país começa a sair de casa, mas o teletrabalho é para continuar em maio, assim como o dever cívico de recolhimento domiciliário.
Ajuntamentos de mais de 10 pessoas continuarão proibidos, mas os funerais deixam de ter limitações à participação de familiares com o fim do estado de emergência.
No calendário apresentado pelo Governo, no final de maio regressam as cerimónias religiosas e o futebol, se as autoridades de saúde derem o seu aval.
Depois da reunião técnica no Infarmed ter dado luz verde à reabertura e de os especialistas defenderem que há vários indicadores a ter em conta, foi António Costa a fazer o último ponto de situação sobre o chamado número básico de transmissão do vírus, R0, que quantifica o número de contágios a partir de cada caso, ou seja, a velocidade da propagação da doença. Nos últimos cinco dias, situou-se em 0,96, estando em todo o país abaixo de 1 (que confirma tendência para os casos diminuírem).
Dos países europeus que seguiram a estratégia de ficar em casa para travar o crescimento exponencial do vírus e já começaram a desconfinar – e mantendo-se este patamar nos próximos dias –, Portugal começa com menos folga para o que é o previsível aumento de casos, mas a análise não tem sido feita com base apenas num único indicador.
Baltazar Nunes, especialista do INSA, explicou ao SOL que é preciso perceber onde surgem os novos casos e se estão associados a focos, por exemplo em instituições como lares – e na última semana os casos em hósteis contribuiram para o aumento que se verificou do R na região de Lisboa e Vale do Tejo –, o que comporta um risco diferente da transmissão na comunidade.
O epidemiologista Manuel Carmo Gomes explica ao SOL como vai ser vigiada uma possível segunda onda no país, já a partir da próxima semana.
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