Em tempos normais, sem pandemias, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, costuma desaparecer dos olhos do público por uns dias e isso causa com frequência especulação na comunicação social ocidental. Foi o que aconteceu nas últimas semanas. Desta vez, além das dúvidas sobre o seu estado de saúde, foram aventadas hipóteses sobre a sua sucessão. Mas o ditador do país asiático reapareceu este sábado. Pouco depois, registava-se uma troca de tiros na fronteira desmilitarizada entre a Coreia do Sul e o seu vizinho do Norte.
As Forças Armadas de Seul alegaram este domingo que disparos vindos do Norte atingiram um posto fronteiriço na vila central perto da fronteira, Cheorwon, diz a BBC, não havendo relatos de qualquer morte ou feridos. Após o incidente, as Forças Armadas informaram que ripostaram, disparando de volta, e emitiram um aviso.
Os responsáveis militares do Sul acrescentaram que não avistaram sinais pouco vulgares de movimentos de tropas do lado contrário e que estão a tentar apurar se se tratou de uma ocorrência deliberada ou se foi um mero acidente – Pyongyang não comentou o assunto até ao final da tarde de ontem.
A fronteira entre estes dois países – onde se encontra a famosa linha imaginária do Paralelo 38 – é das mais fortificadas do mundo e este tipo de eventos não ocorre com regularidade. A última vez que foram trocados tiros nesta zona desmilitarizada, que tem cerca de 250 quilómetros, foi em 2017.
“Estamos a tomar ações via linhas de comunicação para compreender a situação e para prevenir quaisquer incidentes futuros. E também [estamos] a manter a postura de prontidão necessária”, disse um responsável da hierarquia militar sul-coreana, citado pelo Financial Times.
Mas há quem acredite que os disparos vindo do lado norte não se trataram de uma demonstração de força. É o caso de Go Myong-hyun, um investigador do Instituto Asan para Estudos de Políticas Públicas, para quem o retorno público do chefe da Coreia do Norte não é sinónimo de que regresso da escalada de tensão. “Teriam feito algo muito maior, como um [lançamento] teste de mísseis”, disse o investigador ao Financial Times.
Retorno de Kim Esta invulgar troca de tiros ocorreu apenas horas depois de o Supremo Líder ter reaparecido, com a agência noticiosa estatal, e único meio de comunicação social da Coreia do Norte, KCNA, a publicar fotos de Kim na cerimónia de abertura de uma fábrica de fertilizantes em Sunchon, no norte da capital Pyongyang, diz o Guardian. Nas imagens Kim aparece junto da sua influente irmã mais nova. A cerimónia terá sido na sexta-feira e as imagens aparentam que a cerimónia terá sido presenciada por milhares de pessoas, muitas usando máscaras e a lançarem balões explodindo “em aplausos de ‘hurra’ pelo Supremo Líder”, disse a KCNA, citada pelo diário britânico.
A sua ausência de três semanas no líder, além de ter desencadeado intrigas globais sobre o seu estado de saúde, espoletou especulações sobre a sua sucessão. E sublinhou a falta de compreensão dos serviços de informações ocidentais sobre o que se passa no seio da liderança da potência nuclear, refere o Financial Times.
A CNN, citando um responsável norte-americano anonimamente, até relatou que Kim correria “grande perigo”, algo que foi posteriormente desmentido pelo gabinete do Presidente da Coreia do Sul, Mon Jae-in, (afirmando não ter sinais de que algo de invulgar se estaria a passar). E também por um projeto monitoriza sediado em Washington, Estados Unidos, sobre o que se passa na Coreia do Norte: declarou que tinha analisado imagens satélite e que a acreditavam que o comboio do Supremo Líder tinha parado em Wonsan, um resort na costa leste do país onde o Kim tem uma casa de férias pesadamente defendida, diz o Guardian.