A quebra da economia em abril resultou na perda de 6,5% do PIB português, afirmou Mário Centeno. Em entrevista à RTP3, o ministro das Finanças considerou que no mês passado se verificou o “pico” do impacto provocado pela pandemia da covid-19 e que este é o momento “de começar a abrir a economia e a sociedade”, permitindo um regresso ao período anterior à chegada do vírus a Portugal.
Mário Centeno admite que “podemos estar a observar uma quebra no PIB superior a 15 mil milhões de euros” em 2020, mas volta a sublinhar confiança numa recuperação a partir do terceiro trimestre, apontando, porém, que seja apenas possível atingir “os níveis de atividade económicos de 2019 em 2022”.
Centeno voltou a defender a ideia que “estamos perante uma crise temporária” – de características diferentes da crise financeira vivida na década anterior – e que, neste momento, são, sobretudo, necessárias medidas que permitam normalizar a economia. O governante voltou a apontar para uma queda do PIB anual português abaixo dos dois dígitos, como já o havia feito em declarações anteriores.
O também líder do Eurogrupo afirmou ainda que, em abril, o impacto económico em Portugal resultou num aumento acentuado do número de inscritos no Instituto do Emprego e da Formação Profissional (IEFP): mais 75 mil inscritos em abril de 2020, que em igual período do ano passado. Mário Centeno, que destacou o mecanismo de layoff simplificado “como uma almofada colocado em prática “em tempo recorde e com sucesso indesmentível”, admitiu que o desemprego no país possa crescer três ou quatro pontos percentuais até ao final de 2020, para perto dos 10%, um valor ainda assim inferior aos 13,9% previstos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Referindo-se à forma como o país reagiu à pandemia, durante o estado de emergência, o ministro das Finanças deixou elogios aos profissionais do setor da saúde e a todos os portugueses, considerando que “devemos estar orgulhosos com o que fizemos” e realçando o que classificou como “o sucesso” de uma ação coletiva que “requereu um grande esforço e foi bem entendido por todos”.
Confiança na Europa. Apoio ao emprego superior a mil milhões. O presidente do Eurogrupo é perentório: “Não tenho nenhuma dúvida de que vamos construir um acordo e que vai ser um compromisso duradouro”. Pese não existir ainda um acordo alargado, Mário Centeno voltou a elogiar resposta dada pelas instituições europeias na resposta à crise e voltou a demonstrar confiança que o Quadro Financeiro Plurianual e os mecanismos de Bruxelas serão capazes de estar à altura de enfrentar as principais necessidades de Portugal e restantes Estados-membros para fazer face à crise.
Como exemplo, Centeno chamou a atenção “para a dificuldade de organizar as respostas à crise” que se tem verificado nos Estados Unidos, com posições contrários entre Estados, afirmando que “tem sido o contrário na Europa”.
Para o ministro das Finanças, a recuperação da economia da Europa passa, principalmente “por refazer o Mercado Interno e retomar a livre circulação de trabalhadores”.
Quanto às "três redes de segurança" anunciadas na última reunião do Eurogrupo – de apoio às empresas, às famílias e ao emprego –, Mário Centeno admite que Portugal poderá receber até mil milhões de euros em ajudas para financiar o mercado de trabalho. "Portugal poderá aceder a este financiamento para financair as medidas de mercado de trabalho que tem adotado e que não se resumem ao layoff. São também os apoio às famílias para o acompanhamento dos filhos por por causa do fecho das escolas. Este apoio pode ser superior a mil milhões de euros", segundo Centeno.
"Defesa da TAP e do Estado estarão acautelados". Mário Centeno sublinhou, uma vez mais, que “a TAP tem um papel estratégico insubstituível” para o país e para os portugueses, mas sublinhou que o Governo ainda não chegou a nenhuma conclusão quanto à forma de agir perante as dificuldades que a companhia aérea está atualmente a atravessar.
Sem avançar com valores, o ministro das Finanças garantiu, porém, “respeito pelo dinheiro dos contribuintes”. Mário Centeno afirmou que “a defesa da TAP e a defesa do Estado enquanto acionista estarão acautelados” no final deste processo, mas sempre acrescentou que, neste momento, “não há razão para inverter a posição do Governo em relação à TAP”, rejeitando um cenário de nacionalização, depois de concretizada a partilha da estrutura acionista com privados em 2015.