Londres, 1935; Berlim, 1938: os dois jogos que envergonham a seleção inglesa. O erguer da bandeira nazi e a saudação fascista. Londres, 4 de dezembro de 1935. O ambiente na Europa vai ficando mais tenso a cada dia que corre. Adolf Hitler já era chanceler da Alemanha desde janeiro de 1933, os fantasmas do fascismo e do nazismo já não enganavam ninguém, tinham-se tornado realidades obscuras, sinistras, perigosas, não tardariam também a provocar um rastro de destruição nunca visto até então.
White Hart Lane, High Road: estádio do Tottenham Hotspurs, um clube que tinha, à época, uma fortíssima base de apoio na comunidade judia londrina, embora tal se viesse a desvanecer ao longos dos tempos. Ainda assim, em 1935 era habitual que os adeptos dos Spurs fossem tratados com desprezo pelos dos clubes rivais: chamavam-lhes yidds, calão para referir gente de origem yidish, ou yiddos, pelo que a ideia vinda da Federação Inglesa se comemorar o 200º jogo internacional da sua seleção frente à Alemanha no seu estádio foi encarada como ofensiva. The Football Association, com pomposamente se denomina, é uma organização pouco aberta a opiniões alheias. Prefere o estilo do quero, posso e mando. Quis, pôde e mandou. E os aficionados judeus do Tottenham foram obrigados a ver subir a um dos mastros de White Hart Lane a bandeira vermelha com a cruz gamada do Partido Nacional Socialista.
Hitler não gostava de futebol. E era contra a profissionalização do desporto em geral, vendo-o como uma forma de purificação do espírito ariano, útil para criar seres humanos cada vez mais perfeitos e não para servir interesses económicos. A seleção da Alemanha que se apresentou em Londres era composta por futebolistas amadores escolhidos por um antigo jogador que adotara a função de professor de educação física, Otto Nerz. Foi rodeada por fortes medidas de segurança. Que atire a pedra o primeiro país que não teve, ao longo da sua história, posições de antissemitismo, mas o extremar das medidas tomadas pelo Governo alemão nesse sentido criou em redor da equipa germânica uma onda de profunda antipatia.
Convenhamos que o jogo teve muito de pouco natural. Talvez uma tentativa espúria de esconder o profundo mal-estar existente entre ambos os países. Sir John Simon, Home Secretary, recebeu uma delegação de sindicatos que exigiam que o encontro não se realizasse. Debalde. Poucas horas antes do apito inicial do árbitro sueco Otto Olsen, uma manifestação antinazi espalhou-se pelos arredores do estádio. Mas ninguém podia esquecer-se de que, dez meses antes, na que ficou conhecida por Batalha de Cable Street, os camisas negras de Oswald Mosely tinham atacado judeus com armas nas mãos.
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