A pandemia da covid-19 alterou a forma como os partidos fazem política, suspendeu calendários de iniciativas com grandes aglomerações de pessoas, e para já, não é expectável que se vejam deputados e dirigentes partidários em grandes concentrações. A ordem é seguir as instruções da Direção-Geral de Saúde, fazendo uma avaliação quinzenal. Mas há congressos marcados, eleições internas e rentrées para agendar. Mas está tudo em suspenso… até nova ordem.
No PS, por exemplo, Hugo Pires, secretário nacional para a organização do partido, reconhece que não se pode prever “nada a longo prazo”. A mensagem serve de resposta à pergunta sobre o congresso nacional. “Em Agosto não haverá congressos, Se a situação o permitir nós realizaríamos os congressos federativos até julho. Podemos realizar eleições federativas em julho e congressos federativos. Em outubro, teremos eleições regionais. Não haverá um congresso nesse mês”, recorda ao i o dirigente nacional, admitindo ainda que em novembro “vamos estar muito em cima das presidenciais”. Perante as incertezas, e a avaliação quinzenal que é feita no PS, se se conseguir “fazer os congressos [federativos] todos em julho”, o congresso nacional até pode realizar-se “antes das eleições regionais”. Mas tudo depende da avaliação feita, não só de 15 em 15 dias, como também do mês de maio e do nível de contágios. Para já, só vale a decisão transmitida, em comunicado, do presidente socialista, Carlos César: fica “sem efeito a data de 30 e 31 de Maio para o XXIII Congresso do PS”.
Entre socialistas há já alguma ansiedade – até mal-estar – por este grau de incerteza, sobretudo porque o Governo (do PS) foi mais claro em algumas decisões. Por exemplo, não haverá festivais de música até 30 de setembro.
A rentrée do PS ainda não foi pensada. O secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, já adiantou que um comício nos moldes de 2019 (feito em Machico, na Madeira) não está a ser equacionado.
No PSD, o conselho de jurisdição, liderado por Paulo Colaço, manteve a suspensão de atos eleitorais internos. Situação que será reavaliada no final de maio. Neste quadro incluiu-se, por exemplo, a eleição do novo líder parlamentar do partido. Rui Rio, mantém-se, assim, mais tempo à frente dos destinos da bancada parlamentar do PSD. Adão Silva, o candidato pré-anunciado, terá de esperar até que a bancada possa votar em condições de segurança sanitária.
Já o partido está a preparar um plano de reabertura gradual que será analisado, mas só a partir do dia 18 de maio, conforme explicou ao i o secretário-geral dos sociais-democratas, José Silvano. Em relação à rentrée do PSD, ainda não há decisão tomada, mas José Silvano admite que iniciativas como a Festa do Pontal podem não se realizar. “É preciso avaliar se há condições [de segurança sanitária] para o fazer”, explicou ao i o dirigente social-democrata, acrescentando que é intenção da direção “levar a uma comissão politica nacional a suspensão” deste tipo de iniciativas, previstas até 30 de outubro, “e tentar não fazer nenhuma dessas manifestações”, caso não estejam reunidas as tais condições. Mas o processo de decisão só ficará mais claro a partir de dia 18. No caso da ‘Universidade de Verão’, que se realiza todos os anos em Castelo de Vide, estão a ser avaliadas e ponderadas várias soluções, apurou o i. Mas, claro, sempre de acordo com as instruções da Direção-Geral de Saúde. De realçar que, na Madeira, a Festa do Chão da Lagoa já foi cancelada. O anúncio foi feito em abril pelo PSD/Madeira.
Bloco e PCP À esquerda do PS, os ex-parceiros de ‘geringonça’ também fazem a sua avaliação da retoma gradual de atividade. O BE recordou ao i que a data da Convenção Nacional, que estava marcada para Outubro, foi suspensa, “mas cujo processo de debate interno se realiza ao longo dos meses anteriores”. Agora, a “próxima reunião da Mesa Nacional tomará, em função da evolução da pandemia, uma decisão definitiva sobre iniciativas futuras”. Suspenso foi também o Fórum das Lutas, (previsto para maio). O BE garante ainda que “seguirá, como tem feito, as recomendações das autoridades de saúde”.
Do lado dos comunistas, recorda-se que “a atividade política não está suspensa. Observando procedimentos e recomendações das autoridades de Saúde, o PCP não prescinde da sua intervenção tão mais necessária quanto a expressão da ofensiva contra os direitos dos trabalhadores”, nas palavras de fonte oficial do partido. O i questionou ainda o PCP sobre se pode dar como garantida a realização da Festa do Avante! (tem sido essa a intenção) e se mantém as datas do congresso para 27,28 e 29 de novembro. Numa nota oficial, os comunistas limitaram-se a recordar um comunicado de dia 7, de que “a Festa do Avante! não é um simples festival de música, é uma grande realização político-cultural que se realiza desde 1976” e “uma posição mais detalhada será tomada no conhecimento concreto da disposição legal que venha a ser adotada”. Ou seja, a legislação que vier a ser aprovada. Na mesma nota, os comunistas frisam que “especulações ou ambições de terceiros não pesarão nas decisões que ao PCP cabe assumir”.
Já os centristas irão avaliar como se poderá retomar uma agenda pública (com deslocações) e institucional (audiências, por exemplo) a partir de agora. Certo é que as próximas reuniões da comissão executiva e da comissão política, de 16 de maio, serão realizadas por videoconferência através da plataforma Zoom. Para já, fonte oficial assegura ao i que os centristas estão a seguir as orientações da Direção-Geral da Saúde, avaliadas de quinze em quinze dias. E daí dependerá também a possibilidade e modelo da rentrée.
À espera da reunião no Infarmed Tanto o PAN como o PEV aguardam pela reunião técnica desta quinta-feira, dia 14, para avaliarem de que forma podem retomar uma atividade com mais deslocações ao terreno.
A líder parlamentar do PAN, Inês Sousa Real, explicou ao i (em nota escrita) que o PAN está “ainda a estudar o processo de retoma da atividade dita normal, no que respeita, por exemplo, à retoma das visitas presenciais aos distritos”. E seguindo as orientações da Direção-Geral de Saúde. Assim, aguarda também pelo resultado da reunião no Infarmed com epidemiologistas e em que participam diversas autoridades e entidades. “No nosso entender deve ser sempre gradual e articulada com as medidas que salvaguardem a saúde, como a utilização de EPI’s, a salvaguarda do distanciamento social”, acrescenta Inês Sousa Real ao i.
O PAN tem mantido a sua atividade assente nas plataformas digitais e “um conjunto de conversas digitais nas redes sociais (Digital Talks) sobre diversas temáticas, muito ligadas às fragilidades que o atual surto da covid-19 originou ou veio trazer à luz do dia. E é este trabalho de proximidade que vamos continuar a desenvolver, assente nestas ferramentas, sobretudo nesta fase em que ainda se aconselha uma prática de confinamento social”, considerou ainda a deputada do PAN.
Já a Iniciativa Liberal sublinha que, “sendo um partido de génese digital nunca deixou de manter a sua atividade partidária, focada na realização e promoção de eventos digitais que têm permitido comunicar com os membros e simpatizantes de uma forma transversal e descentralizada”. E será definido, “oportunamente e mediante a avaliação da situação”, o regresso de eventos regulares, sobretudo de núcleos e debates e conferências entretanto adiadas, em especial os encontros “juntos a liberalizar” com a deslocação de João Cotrim Figueiredo a vários pontos do País”, adiantou ao i a Iniciativa Liberal.
Por sua vez, o Chega de André Ventura, “conta retomar as reuniões dos órgãos nacionais e outros comícios que foram cancelados devido à pandemia”. E aponta no calendário uma meta: “Meados de junho, não sendo ainda certo, até porque ainda se está a analisar de que forma os mesmos poderão ser realizados sem que tal coloque a saúde pública em causa”. A rentrée do partido ocorrerá com a convenção nacional, inicialmente previstas para setembro, mas “nesta fase ainda é prematuro afirmar com toda a segurança como e onde ocorrerá”, afiançou ao i fonte oficial.