São tempos difíceis para Jair Bolsonaro, que enfrenta mais uma prova de que interferiu em investigações policiais, para proteger os seus filhos. O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, já tinha acusado o Presidente brasileiro de o pressionar a demitir o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, num conselho de ministros, a 22 de abril. Agora, sabemos que usou os termos: “Não vou esperar f**** alguém da minha família. Troco todo mundo da segurança. Troco o chefe, troco o ministro”, ouve-se num vídeo da reunião, mostrado a investigadores e advogados, contou um dos presentes à Globo. Moro insiste que o vídeo seja tornado público – o Governo já recusou.
Como já ficara claro no depoimento de Moro, todo o caso gira em torno do Rio de Janeiro, estado em que a família Bolsonaro montou a sua carreira política. É nessa cidade que o segundo filho de Jair, o vereador Carlos, é investigado por um esquema de divulgação de fake news. E onde o filho mais velho, o senador Flávio, é suspeito de ligação às milícias e desvio de fundos para imóveis ilegais. “Já tentei trocar o chefe da segurança do Rio de Janeiro. Se não posso trocar, troco o chefe dele, troco o ministro”, terá declarado o Presidente na reunião de ministros.
Se o objetivo de Bolsonaro era escudar Flávio, não está a correr bem: ainda ontem, um juiz do Supremo Tribunal negou o seu recurso para bloquear a investigação a um alegado esquema de “rachadinha” no gabinete do senador. Ou seja, de desvio de salários dos seus assessores, através da criação de assessores “fantasma” e de contas falsas em empresas alimentares.
Enquanto o cerco se aperta em torno de Bolsonaro, que perdeu o apoio de vultos da direita tradicional como Moro, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, ou o governador de São Paulo, João Dória, o Presidente arrisca perder outros aliados. A chamada “bancada do boi e da bala”, que representa os fazendeiros das regiões amazónicas, não está nada satisfeita com o adiamento da votação da “medida provisória da grilagem”, que arrisca caducar.
O objetivo do projeto – adiado hoje pelo presidente da Câmara dos Representantes, Eduardo Maia, outro aliado desavindo com Bolsonaro – é regularizar as ocupações de terras públicas. Tanto por pequenos agricultores como por grandes latifundiários: os ambientalistas dizem que beneficia desproporcionalmente os últimos, incentivando ao desmatamento.
Entre janeiro de 2019 e abril deste ano, 40% da área devastada era pública, lê-se nos resultados preliminares do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
Mesmo assim, Bolsonaro veio a público defender a “medida provisória da grilagem” – e os seus aliados. “Colocá-la em votação, e não deixá-la caducar, é um compromisso com a dignidade desses produtores e com o desenvolvimento do nosso Brasil”, defendeu no Twitter.