A mini-crise no Governo entre o primeiro-ministro e o ministro de Estado e das Finanças durou uma semana. O dia de ontem acabou por ficar marcado por um cerco a Mário Centeno e o próprio pediu uma reunião ao primeiro-ministro, em São Bento, para discutir a situação, o Novo Banco e até o seu futuro no Executivo. No fim do dia, quarta-feira à noite, o presidente da República ligou a Centeno para lhe dizer que se tratou de um "equívoco" o alcance das duas declarações na Autoeuropa.
Marcelo Rebelo de Sousa disse ontem, pela manhã, que o primeiro-ministro "esteve muito bem" ao fazer depender novo empréstimo de 850 milhões de euros ao Fundo de Resolução, do resultado de uma auditoria às contas do Novo Banco. Na prática, tirou o tapete a Centeno.
De acordo com informações recolhidas pelo i, a declaração de Marcelo terá sido a 'gota de água' para o ministro das Finanças. Por isso, tendo em conta o filme do dia, com um debate no Parlamento sobre o Novo Banco, Centeno quis uma reunião formal (ainda que privada e fora da agenda pública) com António Costa. O assunto era o Novo Banco, apesar de o comunicado final do gabinete do primeiro-ministro explicar que a reunião se inseria no "quadro da preparação da próxima reunião do Eurogrupo, que terá lugar sexta-feira, e da definição do calendário de elaboração do Orçamento Suplementar que o Governo apresentará à Assembleia da República durante o mês de Junho".
Mário Centeno não ia preparado com uma carta de demissão, caso não ficasse tudo clarificado, mas a ideia terá estado em cima da mesa, segundo informações recolhidas pelo i. Para já, fica no Executivo.
Quando Marcelo Rebelo de Sousa fez a chamada telefónica também já teria indicações de que o governante ficaria no Executivo. Na prática, o contacto telefónico serviu para tentar arrumar o assunto, porque uma saída prematura do governante teria consequências indesejáveis.
Para memória futura ficou a explicação do gabinete de São Bento de que a alegada falha de comunicação entre o primeiro-ministro ficou esclarecida. E de que a as contas do Novo Banco "relativas ao exercício de 2019, para além da supervisão do Banco Central Europeu, foram ainda auditadas previamente à concessão deste empréstimo". Porém, o texto emitido por São Bento já depois das 23 horas de quarta-feira sublinha que "este processo de apreciação das contas do exercício de 2019, não compromete a conclusão prevista para julho da auditoria em curso a cargo da Deloitte e relativa ao exercício de 2018". Esta auditoria foi invocada por duas vezes pelo primeiro-ministro, António Costa, no Parlamento, como o motivo pelo qual só se faria novo empréstimo para injeção de capital ao Novo Banco, após a conclusão da mesma.
Por fim, António Costa sentiu necessidade de reafirmar, no mesmo comunicado, "publicamente a sua confiança
pessoal e política no Ministro de Estado e das Finanças, Mário Centeno".
Esta quinta-feira, Costa e Marcelo Rebelo de Sousa almoçam em Belém. A versão oficial é a de que se trata da tradicional reunião de quinta-feira. E não haverá comunicado no final, Segundo o Expresso, o encontro servirá para avaliar o futuro de Mário Centeno. Que pode querer sair após o fecho do Orçamento Suplementar e pretender o cargo de governador do Banco de Portugal.