Os enfermeiros que foram infetados com covid-19 durante o trabalho ficaram a saber que ou não receberão remunerações ou terão cortes salariais significativos. As denúncias de vários profissionais indignados circulam em grupos fechados nas redes sociais há já várias horas, tendo esta manhã a Ordem dos Enfermeiros confirmado que se trata de uma situação generalizada. Doentes e em alguns casos com um orçamento familiar apertado, vários enfermeiros esperam agora pelo pagamento da Segurança Social.
Um desses casos foi o de um profissional que ontem explicou no grupo do Facebook “Enfermeiros” a situação por que está a passar com a sua família: “O meu recibo de vencimento deste mês. Cinco semanas em casa em isolamento por covid-19, atrasos na gestão do processo pelos recursos humanos e saúde ocupacional e recebo 60 euros relativos ao mês de maio. Eu e os restantes contratos individuais de trabalho da instituição. Cá em casa somos dois, façam as contas: 120 euros para gerir o orçamento deste mês! É o respeito e a consideração que a instituição tem pelos seus profissionais”
“Nas últimas 24 horas, a Ordem dos Enfermeiros foi confrontada com uma situação inadmissível, que não pode deixar de repudiar e denunciar, exigindo medidas urgentes ao Ministério da Saúde e ao Ministério do Trabalho. Enfermeiros de todo o País, que foram infetados com a Covid-19 no exercício de funções, foram confrontados com a ausência de remuneração ou cortes significativos”, refere a Ordem apresentando como exmplos dois recbidos de vencimento do Cetro Hospitalar Universitário de Coimbra – num deles o enfermeiro que esteve doente vai receber 64,13 euros, no outro 60,91.
“A 27 de Abril, a OE enviou um ofício aos dois Ministérios a alertar para esta situação, sublinhando que não reconhecer formalmente a Covid-19 como doença profissional, fazendo depender a sua caracterização de nexo causal exigível para as restantes doenças, é manifestamente injusto, oneroso e desumano para todos aqueles que asseguram cuidados de Saúde, em particular em fase de emergência de saúde pública internacional”, diz ainda a Ordem, revelando que nas últimas horas “recebeu exposições de vários enfermeiros que, testando positivo há mais de 50 dias, não têm qualquer fonte de rendimento ou de proteção”: “Um dos exemplos disso é o de um casal de Enfermeiros, onde, cada um, recebeu este mês apenas 60 euros de remuneração, referentes a horas realizadas em meses anteriores”.
E conclui: “O mínimo exigível é que as instituições salvaguardem os vencimentos dos profissionais infectados a 100%, face ao enorme esforço que lhes é exigido, uma vez que estamos perante uma dupla penalização: enfermeiros que sofrem pela doença e agora com cortes nos seus rendimentos. A possibilidade de virem a receber, futuramente, 65% ou 70% do seu vencimento não acautela presentemente a sua sobrevivência e das suas famílias”.
O vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros, Luís Barreira, não poupa críticas à forma como os profissionais estão a ser tratados: “Está em causa a sobrevivência da nossa única linha de defesa, aqueles que cuidam da vida de todos nós. É desumano, vergonhoso e inaceitável”.