Com toda a sua infindável empáfia, os ingleses gostam de dizer: «Um cavalheiro nunca se vinga. Desforra-se. E por isso é que o sol não se põe em todo o império». Naquele dia 23 de maio de 1954, faz hoje precisamente 66 anos, a vontade de desforra entupia os representantes da seleção inglesa de futebol a ponto de os deixar engasgados. Uns meses antes, a 25 de novembro, no Estado de Wembley, os mestres do futebol, como gostavam de se intitular, levaram um dos maiores arrasos da sua história, perdendo com a Hungria por 3-6. O resultado foi de tal modo doloroso – a Inglaterra só tinha, até aí, perdido em casa contra a Irlanda, assim um bocado em família –, que ainda hoje muitos lhe chamam ‘The Match of the Century’.
Os problemas criados pelos húngaros em Wembley eram bem visíveis e já vinham de trás. A teimosia britânica insistia em fechar os olhos aos avisos, como no caso da derrota frente aos Estados_Unidos na fase final do Campeonato do Mundo de 1950, no Brasil, o primeiro em que os ingleses participaram. Até então consideravam-se de tal forma superiores aos seus adversários que disputar competições contra eles só podia revelar um tique pequeno-burguês, assim à maneira de quem convida para o pequeno-almoço o rapaz da estrebaria.
Os homens de vermelho que subiram ao relvado de Wembley nesse dia de novembro sabiam perfeitamente o que fazer. Nunca ninguém conseguira aprimorar de tal forma o jogo coletivo, afinal aquilo que os ingleses gostam de chamar de Association. Desde Maio de 1950 que não sabiam o que era a derrota. Tinham sido campeões olímpicos em 1952. Só voltariam a perder em Berna, em 1954, na final do Mundial da Suíça, frente à Alemanha. O único encontro no qual a derrota fora considerada impossível. Os caminhos do futebol são mais ínvios do que os do Senhor, se é que Ele existe.
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