À terceira semana de desconfinamento, as atenções estão centradas na região de Lisboa e Vale do Tejo. A diretora-geral da Saúde disse ontem que o número de novos casos diários, que esta semana esteve entre os 200 e 300, está dentro do expectável. Mas a região que merece maior cuidado é Lisboa, onde está aparecer a maioria das infeções depois de os indicadores terem melhorado no Norte e no Centro e de o Alentejo e o Algarve não terem registo de praticamente novos casos. O foco na zona industrial da Azambuja, uma situação que começou por fazer soar os alarmes com um surto detetado há duas semanas na Avipronto, é a principal preocupação. Na semana passada foi detetado um novo surto no entreposto da Sonae e ao longo desta semana confirmaram-se 78 casos positivos – e há mais dois pequenos surtos noutras duas empresas do concelho.
Os boletins da DGS apresentam o número de casos por concelho, o que geralmente diz respeito ao local de residência do doente, e mostram que a maioria destes casos na Azambuja são de pessoas que trabalham, mas não moram no município. A Azambuja tem 58 casos confirmados, um número que pouco tem variado. O mesmo não se pode dizer de outros concelhos da grande Lisboa. Durante a semana, os concelhos em que os casos confirmados de covid-19 mais aumentaram foram Loures, Sintra e Odivelas. Em Sintra, o número de casos de covid-19 passou ontem a barreira dos mil, sendo que em dois dias foram confirmados mais de 100 casos no município. Em Loures, há agora 771 casos confirmados de covid-19, mais 93 nos últimos dois dias.
Na conferência de imprensa de ontem, a diretora-geral da Saúde não referiu outros focos de preocupação e adiantou que, além da situação na Azambuja, «há casos territorialmente dispersos que têm sobretudo origem em ambiente familiar, ou seja transmissão dentro da habitação». Graça Freitas assinalou ainda que existe um novo padrão nestes novos casos que têm vindo a ser detetados na região de Lisboa: são pessoas mais mais jovens, mais saudáveis, e apresentam quadros menos graves de infeção. De quinta para sexta-feira, dos 288 novos casos confirmados no país – dos quais 228 na região de Lisboa e Vale do Tejo – mais de metade são na faixa etária dos 20 aos 39 anos.
Loures com mais casos
Durante a semana manteve-se a tendência de diminuição dos doentes internados com covid-19 em enfermaria e cuidados intensivos, com a ocupação da UCI a cair pela primeira vez para menos de 100 doentes. A tendência é de alívio a nível nacional, em particular na região Norte, mas na região de Lisboa nem todos os hospitais a estão a sentir. Artur Vaz, presidente do conselho de administração do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, indicou ao SOL que os doentes internados com covid-19 no hospital diminuíram antes da Páscoa, mas desde então registou-se um aumento paulatino, em particular nas últimas semanas. Esta quinta-feira o hospital tinha 57 doentes com covid-19 internados, seis dos quais em unidade de cuidados intensivos. A maior preocupação, explica o administrador, prende-se com as situações em que os doentes já podiam ter alta clínica, mas, por terem necessidade de acompanhamento e não reunirem condições no domicílio, permanecem internados no hospital – os chamados casos sociais. Dos doentes internados com covid-19 no hospital, há 25 pessoas nesta situação, existindo ainda outros 21 doentes com alta clínica no hospital a aguardar resposta na comunidade. «Se os casos aumentarem e não encontrarmos uma solução para estes doentes, teremos de eliminar mais 31 camas de outra ala de internamento que permitiriam a retoma da atividade, o que assim fica mais difícil», diz Artur Vaz, defendendo que este é um dos aspetos a acautelar na preparação para uma eventual segunda onda, bem como uma organização mais partilhada da capacidade de cuidados intensivos, com a possibilidade de transferir doentes com covid-19 entre hospitais, como acontece quando se trata de outras doenças.
Questionado sobre as dificuldades em encaminhar casos sociais, o Ministério da Saúde respondeu que, no contexto da pandemia, foi organizada uma equipa nacional liderada pelas coordenadoras nacionais da Rede Nacional de Cuidados Continuados e Integrados, que, em articulação com o setor social, «definiu circuitos e agilizou procedimentos que permitiram priorizar a resposta a utentes hospitalizados cuja alta carece de integração na RNCCI ou em resposta social, nomeadamente ERPI, lar residencial ou serviço de apoio domiciliário». O ministério adianta que esta estratégia permitiu, entre 9 de março e 30 de abril, colocar mais de três mil utentes em unidades de RNCCI e em outras respostas sociais. A tutela adianta que neste momento estão internados nos hospitais 200 utentes de lares e três utentes de unidades de cuidados continuados, em função do seu estado, que deverão regressar depois às instituições. Em relação a Loures, a tutela reconhece que ainda não se encontrou solução para todos os casos: «No Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, encontram-se atualmente nove doentes a aguardar a colocação numa unidade de cuidados continuados e cerca de 15 utentes a aguardar uma resposta social, o que está a ser trabalhado pelas equipas respetivas da Saúde e da Segurança Social».