Agora, em consequência da covid-19, o Governo resolveu ajudar os meios de comunicação tendo em conta as quebras de vendas e de publicidade resultantes do confinamento social. E a única coisa que pedimos é que fosse equitativa. Verificamos porém, com desgosto, que a nossa empresa – que publica dois jornais nacionais – foi inequivocamente a mais prejudicada.
É fácil demonstrá-lo:
1. Alegadamente, os critérios foram a faturação e a circulação. Mas como comparar a circulação de meios tão diferentes como as televisões, as rádios, os jornais em papel e os jornais online? Como comparar audiências de televisão em sinal aberto com vendas de jornais que custam dinheiro – e que, de uma forma geral, exigem que o leitor se desloque à banca? Da mesma forma, como comparar uma rádio, que se ouve de graça em qualquer lado, com um jornal? E mesmo um jornal online com um jornal em papel? Como comparar um jornal que se recebe tranquilamente em casa a outro que exige uma saída à rua?
Está a comparar-se o incomparável.
2. Quanto à faturação, também é difícil comparar meios muito diferentes. Mas há algo que é fácil perceber: se um meio teve num trimestre uma grande faturação, como se depreende dos valores atribuídos a alguns (e das enormes disparidades), por que precisa de ajuda? De ajuda precisam os meios cuja faturação é limitada e que, como o SOL e o i, assentam essencialmente na venda de jornais.
3. Há muito tempo que o Presidente da República falava de uma ajuda à imprensa, dada a crise que mundialmente afeta os jornais em todo o mundo. Ora, a fatia de leão desta ajuda não vai para a imprensa – vai para as televisões e rádios. Para os grandes grupos que têm televisões e rádios. O que é paradoxal.
4. O país interpretou esta ajuda governamental, não só como uma ajuda à imprensa mas às empresas que não têm outras fontes de rendimento além da informação. É o caso do SOL e do i, que não se inserem em grandes grupos com outras fontes de receita. Não vendem sequer entretenimento. Não têm outros produtos além dos jornais – que nos esforçamos por que sejam sérios, rigorosos e isentos. Ora, fomos nós os mais chocantemente prejudicados neste processo.
A imprensa escrita que vive da informação foi, de longe, a grande derrotada nesta ajuda do Estado.