Rui Moreira deu, hoje, voz à indignação do Porto e da região norte em relação ao plano de retoma anunciado, na véspera, pela TAP. Em conferência de imprensa – realizada na Câmara da Maia e que reuniu vários autarcas e entidades da região –, o presidente da Câmara do Porto afirmou que “a realidade é simples: A TAP está a tentar impor um confinamento ao Porto e ao norte”.
Em causa, está o facto de a companhia aérea ter incluído apenas três novas ligações ao Aeroporto Sá Carneiro (Paris, Luxemburgo e Madeira) nos planos de voo para os meses de junho e julho, embora tenha previsto a retoma de 27 ligações semanais em junho e 247 em julho (a esmagadora maioria das quais de e para Lisboa).
“Na senda daquilo que tem sido a sua história, a TAP nunca perdeu o vínculo de ser uma empresa de caráter colonial e a sua estrutura nunca pensou de outra maneira”, acusou Rui Moreira. O autarca recordou a decisão da TAP em 2016, quando decidiu não reforçar os voos para a cidade invicta, justificando a decisão porque “não havia mercado”. Rui Moreira referiu que, no entanto, nesse mesmo ano “apareceram nove operadores” que estabeleceram novas rotas com a cidade invicta (onde se inclui a ligação Porto-Newak, Nova Iorque, da United Airlines).
As várias entidades do norte acusam agora a TAP de não respeitar critérios de equilíbrio e equidade, colocando mesmo em causa a unidade nacional: “Agora, numa altura em que o país mais precisa, a TAP abandona o país. Porque estar só em Lisboa representa abandonar o país. Abandona Faro, Funchal, os Açores e o norte”, afirmou o presidente da Câmara do Porto.
TAP “na carris”. Numa altura em que prosseguem as negociações entre o Estado e a administração da TAP tendo em vista a injeção de cerca de mil milhões de euros para apoiar a companhia aérea – enquanto, em simultâneo, aumentou o controlo público sobre a gestão da empresa, através do reforço dos poderes dos representantes do Estado na comissão executiva – no contexto de crise, devido à pandemia de covid-19, Rui Moreira voltou a instar o Governo a agir, perante a estratégia adotada pela empresa nos últimos anos.
“A TAP não é carne nem peixe. É uma empresa privada, quando tem de tomar decisões, e é uma empresa pública, quando quer que os portugueses paguem os seus vícios”, afirmou. “Vamos entrar na TAP, todos os portugueses, para quê?”, questionou, acrescentando que “[a TAP] ou é uma empresa privada que não serve o país, ou é uma empresa participada pelo Governo que tem que ser tomada como um ativo estratégico nacional. Se querem uma companhia de caráter regional, incorporem a TAP na Carris. Não façam de nós tolos”, disse.
Rui Moreira sublinhou que “se o Governo entender apoiar” a companhia aérea,” se deve “exigir que a TAP retome a mesma percentagem entre Lisboa, Porto, Faro, Madeira e Açores”. “A TAP não pode ser tratada como uma entidade diferente. O Porto, Trás-os-Montes, o Douro e o Minho, e a parte norte da região centro, também fazem parte do público e de Portugal”, concluiu.