Donald Trump acusou, o Twitter ripostou. A empresa de Silicon Valley escondeu uma publicação do Presidente dos EUA por considerar que o conteúdo violava as regras sobre «glorificação da violência» da empresa. Tudo isto na sequência da ordem executiva do chefe da Casa Branca, tentando regular as redes sociais, depois de ter ficado furioso por a gigante tecnológica ter decidido, pela primeira vez, incitar os seus seguidores a verificarem a veracidade das afirmações feitas por Trump num tweet.
Trump atacou, na quinta-feira à noite, os manifestantes que fizeram motins em Minneapolis (e atearam fogo a uma esquadra), onde a raiva se levantou contra o assassínio de um homem negro, George Floyd, por parte de um polícia branco que o sufocou pondo o seu joelho em cima do pescoço da vítima durante nove longos minutos.
Na publicação em causa, Trump ameaçava uma intervenção militar em Minneapolis devido aos protestos. «Quando o saque começa, os disparos começam», escreveu o Presidente, apelidando os manifestantes de «bandidos».
Segundo a gigante tecnológica, a publicação de Trump, que tem 80 milhões de seguidores na rede social, viola as suas regras. No entanto, por determinar que a sua visualização pode ser do «interesse público», esta mantém-se acessível.
O Twitter justificou a sua ação com a intenção de «impedir que outros se inspirem a cometer atos violentos». Aqueles que tentarem responder à publicação do Presidente dos Estados Unidos são direcionados para uma mensagem: «Queremos prevenir que um tweet como este, que quebra as regras do Twitter, chegue a mais pessoas. Por isso, desativámos a maior parte das formas de interação».
Com a pandemia do novo coronavírus, o Twitter reviu e reforçou as políticas de controlo de conteúdo, numa tentativa de combater o alastramento da desinformação sobre a covid-19. Quando assinalou pela primeira vez uma publicação do chefe da Casa Branca, na terça-feira, Trump foi rápido na resposta à empresa de Silicon Valley, aprovando uma ordem executiva que pode abrir portas ao Governo americano para assumir a monitorização do discurso político nas redes sociais.
Numa situação atípica e reveladora, está inscrito na própria diretiva federal qual a verdadeira razão para regular as grandes tecnológicas: porque verificaram Trump. «O Twitter agora decide seletivamente pôr um rótulo de alerta em certos tweets, de uma maneira que reflete parcialidade política. Como tem sido relatado, o Twitter não aparenta ter colocado tal rótulo num tweet de outro político».
Trump defende a revogação da Secção 230, e é esse o objetivo da diretiva aprovada na quinta-feira pelo Presidente. Ávido utilizador da rede social, Trump tem repetidamente argumentado que a lei permite à Google, Facebook e o Twitter censurar vozes conservadoras. «Estamos aqui para defender a liberdade de expressão», disse antes de aprovar a ordem executiva.
A lei federal impede que as empresas tecnológicas sejam processadas ou responsabilizadas pela maioria dos conteúdos – fotos e vídeos, inclusive – partilhados pelos seus utilizadores. A Secção 230, adotada em 1996 com o Presidente Bill Clinton, é, no entender destas empresas, a base da internet.
A decisão do Twitter teve a oposição de Mark Zuckerberg, presidente executivo do Facebook, que já doou dinheiro a Trump. «Acho que o Facebook ou as plataformas de internet, no geral, não devem ser donas da verdade», disse à CNBC.